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O concelho de Alfândega da Fé é um território de múltiplos cultivos, em conformidade com a área em que se insere por excelência, a Terra Quente. Por isso ao cultivo dos cereais, associa-se o azeite e o vinho e os frutos e produtos hortícolas. No seu conjunto porém o panorama é dominado em produção e valor económico pelo centeio, pelo trigo e pelo azeite. Nos cereais onde o centeio é dominante, seguindose- lhe o trigo. A cevada em algumas freguesias pode ser abundante (Memória de Parada). A oliveira – pela produção da azeitona para azeite, para comer e curtir – vai muitas vezes referida como cultura mais e muito abundante. Vai referida em maior abundância para Vale Pereiro, Cerejais, Sendim da Ribeira; acompanhando a maior abundância com outras culturas, como o centeio e o trigo, vai também referida para Vila Chã, Vilarelho, Alfândega da Fé (Vila), Pombal. Mas este deve ser o panorama mais comum.
Em Vilares de Vilariça, onde a cultura é abundante «há casas que recolhem cada um ano 200 a 300 almudes, quando se colhe». O vinho não sendo cultura abundante é dita, nalguns casos, de boa qualidade (Alfândega da Fé, vila; Parada).
De entre as frutas vai referida a gama própria à terra e ao clima: uvas, figos, nas hortícolas, os melões, o feijão, o grão de bico. Dos produtos hortícolas (melões, feijão, cabaças, cebolas, milhos, pimentos). Em Chacim diz o memorialista «há pessoas que em cada ano fazem de 40 a 50.000 réis de renda (Memória de Vilares de Vilariça). Tem também uma grande importância a castanha, de castanheiros bravos e de enxertia (Memória de Soeima). E, em particular, também a produção da seda.
Em Vilares de Vilariça é a melhor e mais fina, refere o memorialista: «há neste lugar uma grande necessidade de sirgo, que há casas que fazem a cada ano, 50 e 60.000 réis de seda (…) e sempre se vende por melhor reputação».
Nas freguesias haverá mais de 50 fiadeiras de seda e «acodem a esta freguesia muitas pessoas a mandar fiar o seu sirgo por ser melhor seda». E refere que aqui vem comprar os mercadores de Chacim, Bragança, Vinhais e Rebordelo. Mas de tudo o que se colhe é mais mediano que abundante (Agrobom). E o pão, muitos anos é necessário comprá-lo para os gastos das casas porque a produção não é suficiente (Memória de Vilares de Vilariça).
Vila Flor concelho de clima temperado, a terra é por isso favorável a um largo e vasto número de culturas que as Memórias Paroquiais enumeram, regra geral, para todas as paróquias. O tónus principal é dado pela cultura cerealífera associado ao vinho e ao azeite como culturas dominantes. O cereal é quase sempre a cultura senão dita a mais abundante, vai em regra entre as mais abundantes. Nelas domina o centeio sobre o trigo, mas num ou outro lugar este sobreleva aquele (v.g. Valfrechoso). Junto a estes refere-se também o milho grosso e com ele sempre associado o feijão (Candoso, Carvalho d’Egas, Mourão, Santa Comba), em alguns lugares dito também cultura abundante.
Há também a referência à cevada (Candoso). Sempre presentes também estão as culturas do vinho e do azeite, frequentes vezes referidas ao lado do pão como culturas de grande quantidade e maior abundância. A produção de azeite é, aliás, referida a maior cultura e produção em Vila Flor e Vilarinho de Azenhas. Vai referida em geral a boa e excelente qualidade do azeite e vinho, este dito excelente em Candoso: «porque não tem nada de verde, nem é muito maduro».
A castanha vai também de um modo geral referenciada para todas as terras, em algumas delas com colheitas abundantes dada a grande quantidade de castanheiros (Candoso, Carvalho d’Egas, Val do Forno). Particular expressão no concelho tem a cultura das amoreiras e do sirgo ou bicho da seda. É a sua cultura muito abundante em algumas freguesias e algumas delas entra no rol das culturas mais abundantes, tal como em Trindade, Mourão, Candoso, Carvalho d’Egas e Santa Comba.
Nestas duas últimas refere-se inclusive os quantitativos da produção anual de seda , respectivamente 80 e 120 arráteis. O elenco dos recursos completa-se nalguns casos com importante produção de nabo (Carvalho d’Egas), melões (Santa Comba) e arvores de fruta, cerejeiras, pessegueiros.
Não há referências quantitativas às produções; as referências qualitativas dão a ideia de um geral «remedeio» para o sustento da comunidade. A tomar como exemplo e generalizar os dados e referências qualitativas referidas para Carvalho d’Egas, cujo padrão de culturas deve dar o tónus mais geral do concelho, colhe-se centeio em maior quantidade, que deve bastar para a comunidade, trigo pouco, milho grosso e feijões «em meio», vinho para a metade do ano. Em contrapartida colhe muito nabo, muita castanha e produz muito sirgo. Os excedentes para exportação estão aqui presentes e vão referenciados o pão e o azeite, que se exportam pelo porto de Foztua (referenciadas, aliás, estas exportações, como sendo característica do concelho, em Candoso e Carvalho d’Egas).
Em Freixo de Espada à Cinta o políptico das culturas exprime uma realidade de um pequeno
concelho fortemente integrado na Terra Quente: os cereais – centeio, trigo e cevada; o vinho, o azeite e a amêndoa. Nos cereais, o centeio domina sobre o trigo, a cevada produz-se em pequena quantidade, residual, vem de qualquer modo referenciada para todas as paróquias.
O vinho o que se colhe é para consumo local; muito pouco em regra. A estatística da dizimaria de 1790 fornece, para cinco freguesias da área do Douro a seguinte proporção: 66,4% ao centeio; 26% ao trigo; 7,4% à cevada. O milho grosso aparece numa destas freguesias com um valor insignificante. O azeite, tal como a amêndoa pode atingir «bastante quantidade, conforme os anos» (Memória de Freixo). A amêndoa é de facto a rainha dos frutos da região, a que se associa em quantidade considerável também o figo e a cereja, a maçã e a pêra. Mel e cera são outras produções assinaláveis por, como refere o Memorialista de Ligares, «ser a terra de colmeias e amendoeiras em abundancia».
Memórias Paroquiais 1758
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