domingo, 6 de dezembro de 2015

A praga da mulher do jogador

Local: Moimenta, VINHAIS, BRAGANÇA

O hábito de rogar pragas invocando a figura do Diabo é bastante comum no seio do povo, e, como advertência contra esse tipo de invocação, conta-se na aldeia transmontana de Moimenta, Vinhais, a lenda que segue. 
Havia um homem que tinha o vício do jogo e passava o tempo metido no forno da aldeia até altas horas da noite, onde geralmente perdia até ao último centavo o que ganhava durante o dia com o suor do trabalho.
Uma noite, roído pelo vício e já não tendo mais dinheiro para continuar a jogar, foi a casa buscar um presunto que tinha dependurado no lareiro. A mulher, ao aperceber-se das intenções do marido, largou o fuso e a roca, que usava noite dentro para poder manter o sustento da casa, e agarrou-se com unhas e dentes ao presunto para impedir que ele o levasse, ao mesmo tempo que rogou a seguinte praga: 
”— Que o Diabo me leve vestida e calçada se te deixar levar o presunto!”
O certo é que acabou por vingar a lei do mais forte, e o homem lá conseguiu pisgar-se com o presunto. Dali a nada, estava a mulher revoltada e chorosa com a perda que sofreu quando lhe batem à porta. 
— Quem é? — perguntou. 
— Sou eu. Abre a porta! 
A mulher abriu, e deparou com uma figura estranha que lhe disse: 
— Veste-te e calça-te, venho para te levar! 
Era o Diabo. A mulher ficou apavorada, mas teve, ainda assim, intuição para pedir o auxílio da Senhora do Rosário do Cabecinho, com capela na aldeia e a quem o povo recorria nas horas de maior aflição. E, no mesmo instante, prometeu alumiá-la “até à quinta geração” caso a livrasse do demónio. 
O Diabo desapareceu e a mulher cumpriu a promessa. Daí em diante, de tão conhecido se tornar este caso, o forno da aldeia deixou de abrigar jogadores, que, segundo o povo, se terão finalmente regenerado por influência da Senhora do Cabecinho.

Fonte:PARAFITA, Alexandre O Maravilhoso Popular - Lendas, contos, mitos

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