Local: Mirandela, BRAGANÇA
Contam ainda hoje alguns dos moradores mais antigos de Ferreira, concelho de Mirandela, que numa ocasião andava um homem à caça no monte do Serro, o lugar mais alto da aldeia, quando foi beber água a uma fonte e encontrou lá uma menina sentada, a pentear-se com um pente de ouro.
A menina, que era uma moura, falou com o caçador, dizendo-lhe que estava ali há muitos anos encantada e que o seu encanto só seria quebrado por alguém que fosse muito corajoso e fizesse como ela pedisse. E que, se conseguisse desencantá-la, ficaria muito rico, ele e toda a família até à quinta geração.
O caçador, que se achava um homem corajoso, aceitou. Ela então disse-lhe:
— Primeiro venho transformada num sapo e subo até à tua boca para te dar um beijo. Depois venho transformada numa cobra, subo por ti acima e também te dou um beijo. E depois venho transformada num touro bravo e faço-te igual. Mas não podes ter medo nem fugir. Já sabes que serei sempre eu. E não te faço mal.
A moura disse-lhe a noite em que teria de lá ir, e ele compareceu. Apareceu-lhe então um sapo muito feio, que lhe saltou para a cara dando-lhe um beijo na boca. E de repente o sapo transformou-se na linda princesa. Toda contente disse-lhe:
— Vês como não custou nada? Agora voltarei feita numa cobra, por favor não tenhas medo.
Apareceu-lhe então uma cobra a assobiar, subindo por ele acima. Deu-lhe também um beijo e ele aguentou. E mal o beijou, a cobra também se transformou em princesa, sorridente, e toda animada com a coragem do homem. A seguir era a vez do touro bravo. Ele então lá veio, todo enraivecido, fazendo tanta poeira com as patas, abanando a cabeça e a cornadura, espumando pela boca, que o homem ficou de tal modo assustado que desatou a fugir.
Apareceu-lhe então a princesa, muito zangada, dizendo-lhe:
— Maldito sejas tu e toda a tua família, pois dobraste-me o encanto. Serás um desgraçado até ao fim dos teus dias assim como toda a tua geração.
E dizem que assim aconteceu, O homem morreu pobre e a família levou o mesmo caminho. Quanto à moura, lá está encantada à espera que o tempo do encanto passe, e alguém, mais corajoso, lá vá quebrar-lho. Ainda hoje muitos têm medo de se aproximar desse lugar.
Fonte:PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros Vila Nova de Gaia, Gailivro, 2006 , p.276
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(Henrique Martins)
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quinta-feira, 6 de agosto de 2015
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