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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Casa do Azeite - «Temos um sector que é competitivo em termos mundiais e que cria muito valor»

Mariana Matos, secretária-geral da Casa do Azeite, entidade que congrega 60 associados, considera que Portugal se destaca entre os países produtores de azeite pelo conhecimento do nosso país nesta cultura. A responsável destaca que em 2014 o país conseguirá a autossuficiência em valor, «uma questão de orgulho nacional». 
Mariana Matos comenta o próximo quadro comunitário onde estão previstos mais apoios para quem trabalha em Organizações de Produtores, sublinhando que é preciso averiguar se as organizações funcionam ou servem apenas para obter subsídios porque, nesses casos, «genuinamente as pessoas não se juntam para trabalhar em conjunto».
Café Portugal - Na campanha actual estima-se a produção de 85 mil toneladas de azeite. Poderá ser alcançada a autossuficiência. Falamos de autossuficiência em consumo?
Mariana Matos - Sim. Vamos atingir, em princípio, a autossuficiência em quantidade este ano porque o consumo nacional está abaixo das 85 mil toneladas. Em termos quantitativos, atinge-se a autossuficiência quando a produção nacional iguala ou supera o consumo nacional. Este ano, se a produção se confirmar no valor que indicou, de facto atingir-se-á a autossuficiência, pois o consumo nacional ronda as 83 mil toneladas. Este é um valor histórico e representa uma progressão fantástica. Há cinco, seis anos, para um consumo interno de cerca de 80 mil toneladas, o país só produzia, em média, 40 mil toneladas, ou seja, o grau de autossuficiência era de cerca de 50%. Mas isto não coloca fim às importações porque as necessidades totais do país, são outra coisa, pois aí temos de incluir as exportações e o balanço entre as importações e as exportações. Portugal tem crescido muito também na exportação, mas continuamos a importar. Ou seja, da produção anual, uma parte será para consumo interno e outra parte para exportar. 
C.P. - A autossuficiência em valor já foi alcançada em campanhas anteriores. Qual a importância destes equilíbrios na balança comercial e de consumo?
M.M. - Temos um saldo da balança comercial positivo de mais de 60 milhões de euros, o que é muito significativo. Em 2006, tínhamos saldos da balança comercial 130 milhões negativos. A progressão em valor tem sido ainda maior do que a progressão em quantidade.
Este sector tem tido um desempenho extraordinário nos últimos anos. A importância da autossuficiência é uma questão de orgulho nacional porque temos de valorizar as nossas coisas. Temos um sector que é competitivo em termos mundiais, que cresceu e modernizou e cria muito valor. Acrescenta boa imagem ao país. Tem, ainda, associado uma série de valores ambientais, socioeconómicos importantes, além da produção agrícola em si. Existe uma meta nacional de atingir a autossuficiência em valor em 2020 e, este sector, já conseguiu atingir essa meta. Falamos em valor porque a autossuficiência em quantidade é mais difícil, já que haverá produtos em que seremos sempre deficitário porque são produzidos em menoresquantidades.
C.P. - As Organizações de Produtores (OP) vão ser mais apoiadas no próximo quadro comunitário (2014-2020). Como encaram os intervenientes no sector do azeite esta realidade?
M.M. - Portugal não tem uma grande cultura de trabalhar em associativismo. Somos genericamente individualistas. A ideia é que as pessoas comecem a trabalhar mais em conjunto sobretudo em zonas com maiores dificuldades. Enquanto não passarmos à fase de pensamento em que a união faz a força, não será fácil implementar estas medidas, embora seja benéfica. É preciso sublinhar quem há zonas do país em que as Organizações de Produtores funcionam já muito bem. As cooperativas são dos maiores operadores de azeite em Portugal. Os olivicultores entregam a sua azeitona e a cooperativa extrai o azeite e comercializa. Depois, há outras realidades neste sector, nomeadamente grandes empresas que só vendiam e agora começaram a plantar. Fecham o ciclo, vão desde a produção até à venda. Penso que o modelo de OP seria mais necessário na produção mais tradicional que tem menos poder de produção. Mas é também nesses casos que vejo maior dificuldade em haver uma união. Tinha de haver uma revolução de mentalidade. E às vezes o perigo destas medidas é que se cria artificialmente a organização. Ou seja, as pessoas juntam-se porque há uma oportunidade de ter mais um subsídio, mas não se juntam porque querem genuinamente trabalhar em conjunto. Assim gasta-se o dinheiro mas não fica nada do trabalho. A medida teria de ser acompanhada e ser processo muito criterioso.


IMAGENS: Fernando Nunes

C.P. - A nova Política Agrícola Comum (PAC) tem uma componente muito ambiental que prevê um pagamento suplementar aos agricultores que respeitem algumas medidas ambientais, como diversificação das culturas, a manutenção dos prados permanentes e a criação das zonas de interesse ecológico. Como responde o sector do azeite a estas medidas?
M.M. - Primeiro é preciso ter noção que os olivais do país são coisas muito diferentes. Regionalmente, encontramos padrões mas, na generalidade, são situações muito diversas. Temos o minifúndio no Norte do país em que tradicionalmente há uma rotação de culturas e que são explorações pequenas e maioritariamente tradicionais. Em alguns casos há olival intensivo ou superintensivo. Nestes casos, penso que não haverá dificuldade em conseguir essas majorações por via das questões ambientais. Noutras regiões como Centro, Ribatejo, Beiras, onde há muitos olivais em sistemas tradicionais haverá que fazer um trabalho de recuperação se houver viabilidade económica. De outra forma haverá um abandono. No Alentejo, com superintensivos pode ser impossível fazer a rotação. Mas é preciso sublinhar que já muitos produtores que fazem enrelvamento da entrelinha para evitar a erosão do solo, fazem plantações, por vezes, à base de proteaginosas ou plantas com valor de captação de azoto. Não sei se isto é considerado no greening [componente ambiental da PAC], mas não vejo porque não possa estar enquadrado no greening e também assim, quem produz em intensivo ou superintensivo, estaria enquadrado nessas medidas ambientais.
C.P. - O olival tem crescido em Portugal. Considera que está a ser salvaguardada uma gestão sustentável dos recursos naturais?
M.M. - Muitas das explorações, algumas em intensivo e outras em superintensivo, têm hoje em dia práticas ambientalmente muito correctas. Do ponto de vista na conservação do solo ou não fazem a aplicação de herbicidas ou fazem plantações entre linhas para evitar erosão. Faz-se também, por exemplo, rega gota a gota para uma gestão de recursos hídricos eficaz. Em termos de biodiversidade, por vezes, diz-se que os sistemas demasiado intensivos matam tudo. Mas existem já trabalhos que apontam para o contrário. Verifica-se que o facto de aquele ecossistema ser alimentado e regado permite um aumento enorme da biodiversidade em relação a outros sistemas extensivos. 
C.P. - Apesar do crescimento deste sector, continuamos a assistir a situações de produção em Portugal mas, posteriormente, o azeite entra no país como tendo outras proveniências, como Espanha e Itália. Esta situação não desfavorece Portugal? Em que medida?
M.M. - Essas situações são cada vez mais pontuais. O que acontece cada vez mais é que a azeitona é produzida cá e o azeite é extraído cá e só depois vai para Espanha. O que pode acontecer é que as empresas depois de extraído o azeite o levem para o seu país e o comercializem através das suas marcas. Mas nós também importamos para vender com marcas portuguesas. Há países que não são autossuficientes e que importam. Têm marcas fortes para vender. Os italianos fazem isso desde sempre, os gregos produzem muito e vendem mais a granel do que embalado. Algum do azeite que se comercializa com marcas portuguesas pode ser espanhol ou grego ou mesmo de outras origens. O que importa é se o azeite é bom e está declarada a origem do azeite, o que é obrigatório no rótulo. Vivemos num mundo global e o mercado é mesmo assim. Não produzo suficiente, então importo. O que acrescenta valor a Portugal é o conhecimento, é a marca e já temos marcas fortes portuguesas espalhadas no mundo. 
C.P. - A promoção é um dos mais importantes desafios que se colocam à dinamização da fileira do azeite?
M.M. - Em 2000, a Casa do Azeite definiu, com verbas significativas, como prioritário o apoio à promoção da imagem do azeite português no mundo. Ao longo da década foram investidos cerca de três milhões de euros em campanhas. É difícil separar o que advém de uma campanha da Casa do Azeite daquilo que as próprias marcas fazem, mas de uma forma geral as acções da Casa do Azeite terão contribuído para essa melhoria da imagem do azeite português no mundo. O Brasil é um mercado prioritário e neste país tenho a certeza que o trabalho que foi feito reposicionou a imagem do azeite português. O trabalho foi sempre feito em conjunto com aquilo que as próprias marcas fazem no mercado. Os resultados estão à vista. Passou-se de uma exportação essencialmente de azeite, com azeite refinado, para azeites virgens extra. Melhoraram-se as embalagens. Antes eram sobretudo latas, hoje a embalagem passou para algo sofisticado. Todo esse trabalho de reposicionamento da imagem, de transformar o azeite português em algo moderno, reforçou quota de mercado. 
C.P. – Que alterações houve com essa aposta promocional no Brasil?
M.M. – O mercado brasileiro, globalmente, em 2009, partiu de 47 mil toneladas de importação para 75 mil, em 2012. Nesse mesmo período, Portugal passou de 25 mil toneladas exportadas para 44 mil, em 2012. O Brasil é hoje dos mercados que mais cresce no mundo inteiro em termos de azeite. No que diz respeito a exportações – sem contar com a saída do azeite a granel –, ou seja com marca, a seguir ao Brasil surge Angola, com quatro mil toneladas. 
C.P. - O Conselho Oleícola Internacional tem agora como presidente um português que é também o presidente da Casa do Azeite, Luís Folque. Qual a importância desta posição?
M.M. – Acima de tudo traz reconhecimento e coloca Portugal no mapa dos países produtores. E devo assinalar também que 2014 e 2015 são anos em que Portugal está representado ao mais alto nível em tudo o que são instâncias comunitárias e internacionais relacionadas com o azeite. O presidente do grupo de trabalho «Azeite e Azeitonas de Mesa» do COPA-COGECA, a Federação Europeia dos Agricultores, é José Maria Falcão, da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP); o engenheiro Luís Folque, presidente da Casa do Azeite, além de assumir a presidência do COI, é também presidente da Federação Europeia das Indústrias de Azeite. Daqui só podem advir bons resultados. Estas posições são um reconhecimento, dos seus pares, de que Portugal está a trabalhar de forma positiva. 
C.P. - Vale a pena investir no sector do azeite?
M.M. - É difícil dizer. Se tiver grandes condições e um projecto, sim. Há alguns investimentos, por vezes avultados, em que em os investidores não têm noção da dificuldade que é vender um produto. Um olival, se o projecto estiver bem feito e sem não houver problemas climáticos, começa a produzir ao fim de três, quatro anos um azeite de qualidade. Depois surge o problema: Como é que vendo a minha produção? Esta parte é muito difícil e, por vezes, compromete tudo. Os projectos de maior sucesso que tenho visto nesta área são empresas que se instalaram para produzir e vendem o azeite para outros comercializarem. Se produzir com boa qualidade não haverá dificuldade nenhuma em vender para outros comercializarem. Numa primeira fase até ganhar conhecimento, ganhar músculo financeiro é um erro querer comercializar a marca. Investir em produção sim, todo o investimento em produção é rápido. Construir uma marca não é o mesmo que colocar um rótulo numa garrafa. 
C.P. - A Casa do Azeite, quantos associados representam actualmente?
M.M. – Temos actualmente 60 associados que representam mais de 90% daquilo que se comercializa em Portugal. 
C.P. - Quais são as vossas grandes linhas de orientação futura?
M.M. - Neste momento, estamos a reflectir em relação às campanhas promocionais no estrangeiro. Este aspecto perdeu um pouquinho de relevância porque as empresas promovem-se lá fora inseridas em delegações de entidades que organizam acções em comum. Não fazia sentido irmos nós também e colocarmos os azeites ao lado de um stand de Portugal. O grande desafio dos próximos dois anos é a criação de uma associação inter-profissional. Esta entidade é constituída pela CAP, Confragi, Confederação Nacional da Agricultura, Casa do Azeite e Associação dos Jovens Agricultores de Portugal. 
C.P. – Quais os objectivos dessa associação inter-profissional?
M.M. – Reunimos a fileira toda para conhecer melhor o mercado. Temos alguma deficiência na informação estatística real e actualizada e nesse aspecto a associação inter-profissional pode ajudar e trabalhar para conhecimento do mercado, perceber melhor os fluxos do produto.

Sara Pelicano
in:cafeportugal.net

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