Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Estamos em 5 de Abril de 1864 e tinhas acabado de construir a tua casa nova que pomposamente chamavas de Estalagem. É aqui que eu vivo e enterro os Invernos, minha avó Maria Oliveira.
Por isso, regresso a 5 de Abril de 1864 e digo-te, aqui perto da manjedoura onde comem os machos dos almocreves, um dia colocarei uma coisa que se vai chamar televisão e por aqui passará o mundo todo. Meigamente sorrias: – Que conta tão bonita! Quem ta contou meu menino?! E sorrias.
Um dia vou acender muitas luzes, como candeias, na tua loja Maria Oliveira, que será a minha sala e só terei que carregar num botão.
E tu sorrias.
Um dia terei calor no Inverno, sem acender o lume… e fresco no Verão sem escancarar as janelas do 1º andar da tua casa.
E tu sorrias.
- Que conta tão bonita!
O tio Augusto, almocreve do mundo, também ouviu estas contas…e muito austero, abanou a cabeça…afagou o bigode e murmurou baixinho:
- Maria, quem teria enchido os focinhos de vinho ao garoto?!
E sem mais delonga foi-se à cama que amanhã tem que madrugar para se fazer à longa caminhada, lá para as terras de Izeda.
Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
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