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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Portugal – Raízes musicais | Recolhas da tradição oral

 
Introdução

(…) A divisão por regiões, sempre problemática, tem no campo da música dificuldades adicionais, nomeadamente o estado actual da investigação etnomusicológica.

Na verdade, as recolhas musicais gravadas de Kurt Schindler, Armando Leça, Artur Santos, Virgílio Pereira, Lopes Graça, Michel Giacometti e as nossas próprias não possibilitam, por enquanto, nem uma síntese, nem uma caracterização definitiva da música das várias regiões, nem tão pouco, por conseguinte, a formulação de um mapa etnomusical do país com as respectivas fronteiras entre as várias regiões.

Assim, optamos por consagrar a divisão em províncias que a geografia humana tem correntiamente adoptado, procurando descrever as características de cada uma, sem prejuízo de alterações que venham a ser exigidas por ulteriores investigações. (…)

Polifonia vocal

Importa realçar alguns aspectos fundamentais que contribuem para a riqueza da nossa tradição musical popular: antes de mais, a polifonia vocal.

O nosso canto polifónico popular terá a sua origem nos cantos litúrgicos da Igreja Católica e apresenta-se mais comummente a duas, mas também frequentemente a três e a quatro vozes reais.

Ocorre tanto nas manifestações religiosas, quer litúrgicas (Benditos, Aleluias) quer extra-litúrgicas (Encomendação das Almas) como nas profanas, sobretudo em certos trabalhos agrícolas (sachas, desfolhadas, mondas, amanhos do linho, etc.).

É assinalado praticamente por todo o país com particular riqueza no Minho, Douro e Beiras, sendo que no Ribatejo e Algarve haverá que aguardar ulteriores investigações a este respeito.

Instrumentos musicais

No campo instrumental, para além da gaita-de-foles (existente em Trás-os-Montes e no litoral oeste desde o Minho à Península de Setúbal), há a assinalar a riqueza musical da viola e da guitarra.

A viola portuguesa, nas suas múltiplas variantes regionais, descende do instrumento aludido pelo Padre Juan Bernardo no séc. XVI (“guitarra”, parente popular da vihuela e descendente da “guitarra latina” trovadoresca) e era tocada por todo o país.

Hoje subsiste apenas no Minho, Douro Litoral, Beira Litoral, parte da Beira Alta, Baixo Alentejo, Madeira e Açores.

A nossa guitarra descende do instrumento que tomou o nome de cítara no Renascimento, o qual por sua vez provinha da cítola medieval.

Era instrumento favorito da joglaria e, ao que tudo indica através dos jograis, ganhou as classes populares e atingiu depois dimensão nacional.

O seu enraizamento popular é assim muito anterior ao nascimento do fado, não devendo, pois, associar-se o instrumento exclusivamente com este género.

Esse enraizamento é visível em todas as províncias e regiões, quer simplesmente a acompanhar o canto, quer na música bailada. (…)

Fonte: José Alberto Sardinha, in “Portugal – raízes musicais”, edição do JN – 1997 (texto editado e adaptado)

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