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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 27 de fevereiro de 2022

O que procurar no Inverno: a flor-de-mel

 Se estivermos atentos, num passeio junto às dunas e arribas da costa portuguesa, iremos ver esta pequena planta a crescer de forma natural e a formar belas, pequenas e compactas moitas de floração abundante e prolongada.

Foto: Cephas/WikiCommons

Muitas das plantas ornamentais que conhecemos foram selecionadas a partir da flora silvestre. A beleza e o aroma das suas flores, a exuberância e particularidades da sua folhagem são, muitas vezes, os motivos dessa escolha. Por isso, as plantas silvestres são muitas vezes manipuladas e melhoradas para se obterem variedades específicas, com mais cor, flores maiores, floração prolongada e até maior resistência às condições do clima e a doenças.

A flor-de-mel (Lobularia maritima subsp. maritima) deu origem a novas variedades com o objetivo de serem cultivadas como plantas em jardins.

Foto: Luís Nunes Alberto/WikiCommons

No entanto, se estivermos atentos, num passeio junto às dunas e arribas da costa portuguesa, iremos ver esta pequena planta a crescer de forma natural e a formar belas, pequenas e compactas moitas de floração abundante e prolongada.

A flor-de-mel

A flor-de-mel pertence à família Brassicaceae, que engloba mais de 345 géneros botânicos e inúmeras plantas herbáceas bem conhecidas, cultivadas em todo o mundo, algumas com elevada importância para a alimentação humana e para a produção de óleos e gorduras vegetais, como por exemplo, a couve, o repolho, o nabo, o rabanete, a mostarda, o agrião, entre outras.

O género Lobularia está representado apenas por quatro espécies, todas elas nativas da região mediterrânica e da Macaronésia. Destas, apenas a Lobularia maritima subsp. maritima pode ser vista de forma espontânea no território nacional.

A flor-de-mel é uma planta perene, herbácea e rasteira. O seu caule é ligeiramente lenhoso, ramificado desde a base, e pode crescer em média 20 cm de altura.

As folhas são simples, lineares e estreitas, com cerca de 5 cm de comprimento. As folhas mais velhas possuem uma forma lanceolada a espatulada, são esverdeadas e pouco peludas. Já as folhas mais jovens e mais estreitas estão cobertas por uma densa camada de pequenos pêlos esbranquiçados, o que lhe confere uma cor verde-prateado.

As folhas dispõem-se de forma alternada ao longo dos caules e são geralmente providas de um pecíolo longo e estreito.

As flores são pequenas, hermafroditas, e formam-se no ápice dos ramos florais, reunidas em inflorescências frondosas e densas, com numerosas flores, que tapam completamente as folhas. Cada flor possui quatro pétalas arredondadas, tipicamente brancas, mas ocasionalmente também podem assumir tons de branco-amarelado, rosa ou lavanda. As flores são levemente perfumadas, libertando um agradável aroma a mel, daí o seu nome comum.

Foto: Jim Evans/WikiCommons

A flor-de-mel é também conhecida como escudinha, açafate-de-prata, açafate-de-praia, doce-álisso, alisso, aliso-doce ou tomelos. Já os ingleses dão-lhe um nome popular muito interessante e sugestivo “carpet of snow” que de forma direta significa “tapete de neve”, muito devido às suas flores brancas.

Esta planta floresce durante todo o ano, mesmo em locais com temperaturas relativamente baixas, sendo a floração mais intensa nos meses de janeiro a março.

Os frutos são pequenas síliquas esféricas, geralmente de cor amarelada ou avermelhada que contém, no seu interior, duas sementes achatadas, de cor castanho-avermelhado.

As hastes florais, mesmo após a libertação das sementes, permanecem na planta por muito tempo.

Espécie que cresce perto do mar

A flor-de-mel é uma planta nativa da região do Mediterrâneo, mas encontra-se naturalizada noutras regiões e continentes.

A origem científica do nome desta espécie deve-se em particular ao seu habitat natural. O nome do género Lobularia deriva do nome em latim globulus, diminutivo globus (globo, esfera), que significa “globo pequeno”, devido à forma arredondada das inflorescências, que caracterizam este género botânico. Já o restritivo específico maritima deriva de mare = “marítima, marinho, que cresce perto do mar”, referindo-se ao seu habitat natural tipicamente costeiro.

Em Portugal, cresce ao longo de toda a costa, ainda que seja rara no noroeste. Nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, também é possível encontrar esta espécie, apesar de que aí tenha sido introduzida pelo homem, não sendo portanto uma espécie nativa dessas regiões.

Esta planta é comum em dunas e arribas do litoral, clareiras de pinhais, zimbrais e matagais em solo arenoso, e em taludes e fendas de rochas calcárias, geralmente muito pouco afastadas da costa.

A flor-de-mel prefere o clima ameno e exposições solares plenas, para ter um bom desenvolvimento e florações mais abundantes, ainda que seja tolerante a locais com sombra parcial.

A nível edáfico, prefere terrenos calcários ou rochosos, com boa drenagem e preferencialmente ricos em matéria orgânica.

A flor-de-mel resiste bem ao calor e à seca e também é tolerante ao frio e às geadas.

Flores de jardim

A floração contínua e prolongada e o perfume doce das suas flores tornam esta planta muito interessante para fins ornamentais.

É uma planta espetacular em maciços e bordaduras no jardim, combinado com outras plantas floridas ou isolada. Também pode ser plantada em floreiras, jardins verticais e até em vasos suspensos, para que fique um pouco pendente.

É perfeita para cobertura do solo, uma vez que se expande rapidamente devido à facilidade de germinação das sementes, formando revestimentos floridos e perfumados extensos, ideal em jardins rochosos, escarpados e em jardins de pedra.

A diversidade de variedades e cultivares proporcionam ainda flores com cores muito mais atraentes, que vão do rosa ao roxo, salmão, amarelo e vermelho e folhagens variegadas. 

Outras variedades desenvolveram plantas mais resistentes e robustas, com flores mais perfumadas e extra grandes. Em alguns casos, as plantas podem chegar aos 30 a 40 cm de altura e ter uma floração mais precoce. As diversas variedades e cultivares também têm mais aptidão a outras condições de clima e de solo, podendo adaptar-se mais facilmente em habitats mais continentais.

Tanto as plantas espontâneas, como as variedades obtidas dos cruzamentos de flor-de-mel, são muito procuradas por inúmeros insectos, os principais responsáveis pela polinização desta planta. As pequenas flores atraem abelhas e borboletas, que se deliciam com os seus minúsculos nectários. As formigas e algumas aves também contribuem para a polinização.

Alguns estudos indicam que a flor-de-mel é uma planta benéfica para a agricultura e um importante agente de controlo biológico, pois pode contribuir para atrair inúmeros inimigos naturais, incluindo parasitoides, sirfídeos e percevejos predadores, evitando que estes afetem as culturas agrícolas.

A dispersão das sementes desta planta ocorre por anemocoria, ou seja pela ação do vento.

Do jardim ao prato

Além de ornamental, a flor-de-mel é conhecida por alguns usos medicinais tradicionais. Em Portugal, são escassas as referências relativamente à fitoterapia, embora seja apontada como tendo sido utilizada no tratamento do escorbuto, doenças venéreas, e do trato urinário.

Alguns registos apontam ainda para a sua utilização por facilitar a digestão, por ajudar a emagrecer, por atuar na redução da febre e na eliminação dos cálculos renais.

Em Espanha, por exemplo, é comummente usada como diurética, antiescorbútica e adstringente, no tratamento da gonorreia.

A flor-de-mel também é utilizada na cozinha em diversos tipos de pratos, doces ou salgados, pelo aroma intenso a mel e um sabor que se assemelha à couve. As folhas e os rebentos jovens podem ser comidos crus, misturados em saladas ou cozinhadas em sopas. As flores também são comestíveis e possuem um sabor picante, o que permite a sua utilização como condimento em saladas ou em pratos particulares ou, simplesmente, para decoração.

Pequenina, delicada e perfumada, a flor-de-mel é uma “valiosa” espécie para qualquer jardim. Se gosta de borboletas e as quer ter no seu jardim, aposte nesta espécie de floração prolongada e de fácil capacidade de reprodução e propagação.

Dicionário informal do mundo vegetal:

Perene – planta que tem um ciclo de vida longo e que viver três ou mais anos.
Lanceolada – folha com forma de lança.
Espatulada – folha em forma de espátula, isto é, ápice mais largo e arredondado e parte inferior mais atenuada.
Pecíolo – pé da folha que liga o limbo ao caule.
Hermafrodita – flor que possui órgãos reprodutores femininos (carpelos) e masculinos (estames).
Inflorescência – forma com as flores estão agrupadas numa planta.
Síliqua – fruto seco, longo, estreito e deiscente, constituído por um falso-septo, no qual se inserem as sementes.
Deiscente – fruto que, quando maduro, se abre naturalmente para libertar as sementes.
Falso-septo – divisória interna do ovário que não resulta da fusão das paredes dos carpelos.


Carine Azevedo

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