Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Mandei desenhar uma janela aberta sobre o monte para espreitar o sol pela manhã. E o sol me visita e me dá conta da aldeia que se levanta cedo para lavrar a horta, segar o trigo, arrecadar o feno, partir a lenha, acender o lume, rezar aos santos, ir ao médico, consultar a bruxa, fazer o fumeiro, olhar o céu, espreitar as galinhas, falar ao soalheiro, viver sem pressa… com muito ontem e pouco amanhã.
… e eu não faço nada… fico aqui neste canto olhando a aldeia, visionário… interpretando os sinais, vivendo as partidas, poucas chegadas, conversando com os meus vizinhos… e escrevendo estas coisas para que fique uma ténue memória desta passagem… como quem está de passagem… como passaram os meus avós… os meus pais e como estou a passar eu, neste sentimento profundo de me faltar o tempo.E aqui estou neste canto… Na parede está o retrato das minhas netas com um sorriso imaterial… garantindo o futuro e a continuidade… ficamos para sempre.
… o sol raramente me falha na janela do sol… e escrevo… e as palavras não dizem… ficam dentro de mim… e no coração dos meus vizinhos… que calam!
… os filhos hão-de chegar pelo Natal!
… talvez a neve seja branca…
Fecho o computador e vou à minha vida.
Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
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