Pelourinho de Bragança, onde se encontra um exemplo das esculturas pré-históricas representando figuras porcinas. |
Como sabemos, e os magníficos exemplos existentes no Nordeste o provam, a porca e o porco eram elementos totémicos dos povos que há milhares de anos habitaram a região, rendendo-lhe culto porque acreditavam nas suas virtudes de protecção contra o desconhecido, o misterioso, daí conceberem esculturas a honrá-los e solicitar-lhe permanente auxílio.
Na opinião de especialistas de várias áreas do saber o fascínio tem as suas raízes no facto de a porca simbolizar a fecundidade, a abundância e o princípio feminino da reprodução. A divinização da porca e do porco vem dessa arreigada ideia, daí derivando signos imanentes da fertilidade: as porcas, os porquinhos e berrões.
Os berrões ou varrascos são esculturas zoomórficas de javalis, javardos, porcos. O facto de ser o animal de mais ampla representação no período da pré-história na Península Ibérica demonstra a evidência da veneração que suscitava em tão recuada época.
Escultura de varrasco exposta na Plaza de Alcizar em Avila |
Nas Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, Francisco Manuel Alves, Abade de Baçal, acerca dos berrões refere: “Há na província de Trás-os-Montes umas esculturas zoomorfas em pedra, granítica geralmente, representando quadrúpedes, conhecidos pelo nome de Porcos ou Porcas, segundo indica a marcação sexual, nitidamente definida em muito exemplares, se bem que noutros é incognoscível.”
“Parece ser no distrito de Bragança onde abundam mais: são já conhecidas dezasseis…”
“Em algumas partes aparecem estas esculturas ligadas a pelourinhos, como a Porca da Vila de Bragança, que serve de suporte ao desta cidade, e a da Torre D. Chama, mas nenhuma relação tem uma coisa com outra: os pelourinhos são medievais e posteriores e os quadrúpedes em questão remontam à pré-história, contando, portanto, milénios de antiguidade. Têm grande importância como documentação, primária talvez, da arte ibérica, além do significado étnico.”
Relativamente ao culto ao porco em Trás-os-Montes aduz:
“Nada admira que um povo primitivo, residente na área transmontana, prestasse culto ao porco, sem dúvida ainda hoje o animal mais prestadio da culinária transmontana; a sua melhor caixa económica, que se alimenta com todos os rebotalhos, assimilando tudo e tudo restituindo centuplicado com presunto, toucinho, unto, manteiga, lombo, salpicões e tabafeias divinais.
Não admira que este povo adorasse o porco, se ele á a base da sua alimentação, se este povo diz ainda hoje que se Deus viesse à terra, o melhor manjar a dar-lhe seria lombo de porco; se este professa o rifão; das carnes o carneiro, das aves a perdiz e, sobretudo, a codorniz, mas se o porco voara não havia carne que lhe chegara?! Não creio que haja ateus, pois os que como tais se apresentam professam superstições que são a escória da crença na divindade pura; mas se algum infeliz destes há, que venha a Trás-os-Montes e veremos se é capaz de resistir ao argumento divinal do lombo, salpicões e tabafeias dos Santos ao Natal, preparados segundo os preceitos da culinária local.
Entendo pois que a Porca da Vila de Bragança e similares ídolos, são restos de um culto totémico vigente outrora…”
in:testes.virtuasom.net
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