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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 27 de março de 2015

A fonte dos ladrões

Sou ainda daqueles que construíram o seu imaginário nas distantes tertúlias domésticas, à volta da lareira, a ouvir as narrativas, mais ou menos lendárias, dos célebres salteadores de estrada. Começava-se no temerário Zé do Telhado, o tal das “barbas negras”, que carregava o ADN de uma temida legião de bandidos, como foram o seu pai Teixeira, o irmão Joaquim e o tio-avô Sodiano. Vinham depois as histórias arrepiantes do “Sancho Pacato”, e do “Pichorras”, à mistura com as de um tal Custódio “Boca Negra”, mais o “Tira Vidas”, o “Mói Tudo”, o Morgado da “Magantinha” e o Zé Pequeno (um cobardolas denunciante, a quem o Zé do Telhado arrancou a língua…). Pelo meio, falava-se de um sinistro “Labardeiro” que atacava para os lados do Minho, servido por um não menos cruel “Picanço”. E com um curriculum de fazer-lhes inveja, também se contavam histórias de um tal “Pita”, que investia, disfarçado de padre, nas terras de Basto, encobrindo as pistolas com a sotaina. Os mais temidos refugiavam-se no Marão. À hora menos pensada, saíam das moitas e boqueirões da serra, caindo sobre as malas-postas, a cujos ocupantes indefesos esvaziavam os bolsos e a bagagem. A testemunhar estes episódios, ainda hoje, no alto do Marão, é referenciado, na memória oral, um topónimo: a “Fonte dos Ladrões”.

Episódios destes, históricos ou lendários, já diluídos na penumbra do tempo, julgava eu terem ficado nas velhas estradas serpenteadas da serra. Longe estava, pois, de os ver ocorrerem-me à memória, agora que as estradas serpenteadas deram lugar às autoestradas, onde cidadãos incautos e indefesos estão a ser grosseiramente depenados pelo Estado ou por quem o usa a seu belo proveito. Na verdade, por uns míseros dois euros de uma passagem num pórtico de uma ex-scut, que há mais de um ano devia ter pago, e que nem sequer recordo, fui intimado a pagar uma soma de… 112.02 euros (!), sob pena de vir a ser penhorado. Outros cidadãos, igualmente incautos, confrontados com cobranças de valores muito maiores, estão já a enfrentar processos de penhora.

Mas que Estado é este, afinal, que usa e abusa de uma maquiavélica fonte de receitas, extorquindo, indefensavelmente, somas exorbitantes aos cidadãos? Como distingui-lo dos antigos salteadores de estrada, de que falam as lendas? Pelo menos de alguns, como o celebrado Zé do Telhado, encarnando o mito do herói-bandido, ainda se dizia que depenava os ricos para dar aos pobres…

(ap)
in: Jornal de Notícias

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