A racionalização dos abates por falta de inspetores sanitários está a lançar um debate sobre a necessidade dos matadouros existentes no distrito de Bragança e de uma estratégia comum para rentabilizar estes equipamentos.
A Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) propôs aos matadouros de Bragança e Vinhais a articulação ou o abate em dias alternados por não ter inspetores sanitários suficientes, uma situação comum a todo o país, onde existem apenas 310 profissionais e seriam necessárias "mais algumas dezenas", segundo o diretor geral Álvaro Mendonça.
O administrador do matadouro do Cachão, em Mirandela, António Morgado, afirmou à Lusa que esta situação deve ser aproveitada para repensar a oferta nesta região.
"Deviam concentrar os abates para não fechar tudo. Estão todos a dar prejuízo", declarou à Lusa, defendendo a concentração dos abates no Cachão, que é o maior matadouro, projetado há décadas para servir todo o Trás-os-Montes, e os restantes matadouros serem aproveitados para salas de desmancha ou para a criação de salas de frio.
Segundo disse, a conservação em frio é uma das lacunas desta região, não só no setor da carne, mas para outros produtos como a maçã da Frucar, em Carrazeda de Ansiães, que está a recorrer à Guarda ou a castanha da Sortegel, em Bragança, que congela parte do produto para exportações em Espanha.
Durante décadas o Cachão era o único matadouro da região. Nos últimos anos foram construídos mais três em Bragança, Vinhais e Miranda do Douro.
"Não deviam ter deixado construir", advoga o administrador do matadouro com um passivo de dois milhões de euros que vem do passado "por má gestão e excesso de trabalhadores".
Só para mão-de-obra eram necessários 330 mil euros por ano, um custo que já foi reduzido com a dispensa de 23 dos 43 trabalhadores.
A administração conseguiu reduzir o passivo em um milhão de euros, mas está a braços com vários processos judiciais da autoria de credores.
O matadouro do cachão pertence à Agroindustrial do Nordeste, que tomou conta do falido Complexo Agro Industrial do Cachão, numa sociedade composta pelas câmaras de Mirandela e Vila Flor.
Apesar das dificuldades, o administrador garantiu que estão "a crescer". Abatem uma média de 25 toneladas por semana, mas têm capacidade para dar resposta a toda a região, afiançou o administrador.
A Câmara de Vinhais é coproprietária do matadouro local, com 18% numa sociedade liderada por organizações do concelho.
O autarca socialista, Américo Pereira, admitiu à Lusa que "no passado se cometeram muitos erros por não haver uma estratégia de forma a concertar a instalação e equipamentos".
"É óbvio que não são precisos os equipamentos que existem", afirmou, apontando o caso de Vinhais, onde o número de abates reduziu para metade e tem havido "grandes dificuldades em pagar salários.
O matadouro de Vinhais tem nove funcionários e três prestes a serem dispensados.
O autarca está disponível para concertar posições, "o problema", acrescentou, "é que a maior parte dos matadouros são municipais e há a ideia que não interesse ter prejuízo".
O presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, considera inviável os produtores terem de ir abater ao Cachão e aponta que o matadouro de Bragança, uma empresa municipal, "não tem nenhum problema de recursos humanos (com oito trabalhadores) ou financeiro e está a aumentar o número de abates".
"Alguma menos boa prestação que tivesse existido num passado recente está neste momento a ser superada pelo maior número de abates que estamos a conseguir", argumentou o autarca social-democrata.
Agência Lusa
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