A pintora Graça Morais exortou hoje a Câmara de Bragança a abrir gratuitamente aos jovens as portas do Centro de Arte Contemporânea de que é madrinha na cidade que durante três dias lhe prestou homenagem.
Uma conferência sobre a vida e obra da artista transmontana, com "amigos" de Lisboa, marcou hoje o último dia do Palst&Cine, o festival que envolveu a comunidade de Bragança, desde escolas a instituições, a fazer arte a partir da obra da homenageada.
Graça Morais aproveitou a ocasião para expressar o "sonho" de que "os jovens até uma certa idade pudessem entrar de graça" no Centro de Arte Contemporânea que há seis anos proporciona a Bragança exposições da pintora e de artistas consagrados nacionais e internacionais.
"Gostava imenso que os jovens que vão a passear na rua, que vêm à praça, que digam apetece-me ir ver a pintura da Graça ou deixa-me ver o que é que há aqui, comecem a sentir a necessidade de entrar no centro de arte, e é muito mais fácil entrarem sem terem de comprar bilhete", afirmou.
A pintora lembrou que também ela entrou em museus, "sobretudo, em Inglaterra, até aos 25 anos, de graça e ficava muito contente porque era como se fosse o museu a convidar a entrar".
O presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, ouviu o desafio e respondeu depois aos jornalistas que "a recetividade é total para medidas como esta", porém defendeu que "os jovens já têm medidas excecionais" no acesso a este equipamento como as visitas em grupo das escolas.
A entrada no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais é gratuita ao domingo para todo o público e, para já, esta deverá continuar a ser oferta, segundo o presidente da Câmara.
Um painel de sete historiadores, artistas e pensadores falou hoje sobre a vida e a obra da pintora com fortes raízes na aldeia transmontana do Vieiro, Vila Flor, no distrito de Bragança, em que sobressai a natureza, a rudeza do campo, as mulheres, mas também "cosmopolita", com trabalhos como a história trágico-marítima e outras temáticas do mundo.
As historiadoras Ana Marques Gastão e Raquel Henriques da Silva estão a desenvolver um trabalho para "projetar além dos horizontes" nacionais a obra da artista sobre quem o escritor António Mega Ferreira já escreveu dois livros.
O presidente do Tribunal de Contas, Guilherme de Oliveira Martins, descobriu Graça Morais quando foi Ministro da Educação e a integrou no grupo de artistas que levou às escolas para que os jovens pudessem tomar contacto com a arte.
Graça Morais tem obra desde Bragança a Moscovo, nomeadamente ao nível da arte pública em painéis de azulejos.
Estudou em Paris e os seus trabalhos já correram mundo, em exposições individuais ou coletivas, de Macau aos Estados Unidos da América.
Mas regressa sempre "ao seu Vieiro", como sublinhou o historiador José Luís Porfírio do painel de convidados de que fizeram parte também o pintor moçambicano Roberto Chichorro e o mestre Cruzeiro Seixas, dois artistas homenageados em edições anteriores do Plast&Cine, que homenageia artistas plásticos da lusofonia vivos com base no desenvolvimento cultural da cidade que acolhe o evento.
Cruzeiro Seixas lamentou que "outros artistas portugueses não tenham espaços" como o de Graça Morais em Bragança, e considerou "inexplicável que os painéis de Almada Negreiros na gare marítima (Lisboa) estejam fechados ao público".
Agência Lusa
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