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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 19 de abril de 2015

O PADRE MIGUEL


Vi sempre o Sr. Padre Miguel de Almeida envolto num halo de simpatia e respeito. A rapaziada, e não só os componentes dos Pardais da Montanha, tratava-o carinhosamente por “Padre Matateu”.
Oficiava em São Vivente, aos domingos, pelas onze horas. 
Mostrava-se sempre de excelente humor, amável, amigo dos pobres, humilhados e ofendidos.
Pároco de Santa Maria, sorria benevolamente quando lhe estendiam o tapete da pretensa rivalidade com a freguesia da Sé. 
Ele não era homem de sinuosos caminhos, menos ainda amante de rivalidades espúrias e estúpidas.
No seu dia a dia, naquele quotidiano também calcorreado por mim, o Padre Miguel subia calmamente a Rua Direita, e sem ruído entrava no café Chave d´Ouro. Depois estanciava na barbearia onde pontificava o Carlos Gardel. Ouvia e fazia-se ouvir. Era escutado.
Uma viagem a Itália deu origem a diversas recreações da jornada. Sacerdote virtuoso, foi epicentro de episódios ou “estórias” visíveis, vivas, coloridas, a merecerem ficar na história. Lembro um desses episódios.
Passeava o bondoso sacerdote na eira de Espinhosela*, quando um cabaz de palavrões sibilantes lhe caiu em cima. Um pobre diabo esfalfava-se em por uma motorizada a trabalhar. A máquina não correspondia aos esforços do pé no pedal; e vendo a ofensiva gorada, o homem esgotado, despejava obscenidades em cima de obscenidades.
O Padre Miguel aproximou-se, calmo, mansamente repreende o esfalfado e diz-lhe: “Em vez de estar para aí a soltar asneiras, diga antes: valha-me Deus”!”Acabrunhado, o homem obedece e solta um vibrante: “Pois, então, valha-me Deus!”Acto contínuo o motor começa a ronronar docemente.
O Padre Miguel ante o “milagre”, surpreendido, também recorreu a sonoro a sonoro palavrão para justificar o: “Se não visse, não acreditava”.

*Naquele tempo, a Praça da Sé possuía um grande “estrado” em granito, obra de um presidente de Câmara, nado em Espinhosela, Adriano Pires, de seu nome. Nessa eira, estacionava toda a casta de gente.

in:Figuras notáveis e notórias bragançanas
Textos: Armando Fernandes
Aguarelas: Manuel Ferreira

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