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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Isabel Mateus, a escritora da ruralidade e da emigração – “Há bons escritores nacionais que não estão traduzidos, e isso é um entrave à disseminação da nossa cultura”

Isabel Mateus, escritora natural de Torre de Moncorvo que atualmente reside no Reino Unido, passou por Macedo de Cavaleiros. Veio falar  sobre o seu livro O Trigo dos Pardais, numa atividade inserida na Semana da Cultura do Agrupamento de Escolas, que se realiza até sexta feira.

Onda Livre – No início da sessão, disse que é uma escritora da ruralidade e da emigração. Quer dissecar a afirmação?

Isabel Mateus – É uma forma mais fácil de me definir. São as temáticas centrais dos meus livros. Claro que cada uma dessas temáticas tem subtemas, mas, se pensarmos na questão da ruralidade, acaba por levar à questão da emigração. Têm tudo a ver. Se pensarmos n’ A Terra do Chicolate, falamos de uma massa rural que emigrou para França, e que foi uma sangria só comparável com esta nova vaga. Claro que agora não emigram só (ou maioritariamente) pessoas da ruralidade, como antigamente. Foram aldeias completas que se esvaziaram, para se juntarem em Paris, em Nancy, e noutros sítios.

São temáticas que têm a ver com o sítio onde eu nasci e com a minha formação. Eu sou filha de emigrantes. São coisas que sentimos e com as quais crescemos. Quem não teve os pais emigrados, teve os tios, os primos ou os vizinhos. E por um lado, infelizmente, esse é um assunto atual. Neste momento sou emigrante no Reino Unido. O que significa que continuo ligada essa ruralidade, porque, para mim, Portugal é, essencialmente, o Portugal rural. Por outro lado sinto que os jovens do interior (e os do litoral também) continuam a emigrar por falta de oportunidades. Não podem ficar todos aqui. Não há lugar. Por isso, como na década de 60, vão à procura de uma vida melhor. Trata-se de uma questão económica. Muitas vezes não é só a melhoria ou o progresso.

Onda Livre – A Isabel falou agora de oportunidades. Para si, emigrar para o Reino Unido foi uma oportunidade para escrever e para se voltar para Trás-os-Montes. Estando longe, é complicado escrever só com recurso à memória?

Isabel Mateus – Não escrevo só com recurso à memória. Tem um papel importante na minha escrita, mas há muito mais do que isso. Há a questão da pesquisa, que sempre foi uma coisa que gostei. Qualquer livro meu tem pesquisa, e isso consegue-se detetar facilmente nalguns, noutros menos. Por exemplo, na novela Farrusco, Cão de Gado Transmontano, tive que saber como se comportava o cão e a importância que ele teve, para além da memória ou das recordações de alguém com quem eu pudesse falar.

Perguntas como “qual é a importância do cão na atualidade?” ou “o que existe para este cão na actualidade?” tiveram que ser colocadas. E depois, por exemplo, o facto de estar a ser reintroduzido junto dos pastores. No Sultão – o burreco que veio de Miranda, esta segunda novela mais recente, colaborei com a AEPGA, associação que protege o gado asinino e que até escreveu um texto para a contracapa.

Ou seja, houve pesquisa, e não só memória. Houve preocupação em perceber a importância desses animais, no passado e no presente, com o que vai o burro mirandês trazer agora de novo, com os passeios, do desenvolvimento de festivais (Sons e Ruralidade) ou a Burroteca, que leva os livros a escolas e a centros de idoso.

Onda Livre – Descobriu, portanto, coisas sobre Trás-os-Montes que desconhecia.

Isabel Mateus – Sim, descobri coisas que desconhecia. E é muito importante poder através da literatura dar o meu contributo para divulgar o trabalho feito em prol desta raça autóctone.

Onda Livre – Agora em específico sobre o livro de que veio falar hoje, O Trigo do Pardais, explicou que o escreveu porque achava que anteriormente não tinha dado espaço suficiente às brincadeiras de criança. Mas, este é um livro dedicado só às crianças, ou a todos que foram crianças?

Isabel Mateus – Às crianças e a todos que o foram. Este livro foi traduzido para chinês, e a epígrafe é exatamente isso – o regressar à infância. Ver a criança e a brincadeira como algo eterno.

Onda Livre – E muitas das crianças “de hoje” que assistiram, mesmo desconhecendo as brincadeiras mencionadas, participaram bastante. Costuma ser assim?

Isabel Mateus – Sim. Quando faço apresentações para menos crianças, até dramatizam algumas partes do livro.

Onda Livre – Este livro faz parte do Plano Nacional de leitura, e as crianças têm bastante facilidade em ter contacto com ele, até porque está disponível no seu website para download. No entanto, é diferente estar perto delas presencialmente?

Isabel Mateus – Claro. Porque cada vez que uma criança lê a história, faz um desenho sobre ela ou fala das personagens, torna o livro vivo. Sei qual é a reação da criança. É extremamente importante para um escritor, e as crianças são muito sinceras. A opinião deles é sempre sincera.

Onda Livre – Se o A Terra do Chicolate é a voz das crianças sobre a emigração de 60, este livro é a voz das crianças, mas sobre um tema mais suave?

Isabel Mateus – É a infância da ruralidade. É engraçado, pensámos no Portuguese Inside, uma coleção bilingue, porque notamos que não havia textos culturalmente relevantes para tradução. Isto é, que dessem atenção à língua, à literatura e à cultura. Falo aqui em termos da ruralidade. Contos pequenos, em que se pudessem passar determinados valores, um contexto e uma época. Porque muitas vezes o que acontecia é que havia traduções de extratos de jornais e de outros textos desgarrados. Isto é mostrarmos parte da nossa identidade, uma época. Os textos sobre a urbanidade, estão mais disseminados, há mais publicidade e visibilidade. Sobre a ruralidade, lá fora, isso não acontece. O mesmo sobre a nossa emigração. Em França há muitos livros sobre outras emigrações, de outros povos. É um tema pouco explorado. Agora as universidades têm-se demonstrado muito interessadas no tema, não só sobre Portugal, mas sobre todos os países de língua oficial portuguesa.

Onda Livre – Em jeito de fecho, e voltando ao início, como escrito da ruralidade e da emigração, o que é que ainda gostava mais de fazer sobre o tema?

Isabel Mateus – Projetos com universidades, para livros bilingues. Acho que pode ser muito interessante. E incluir outros autores transmontanos, e não só, para juntos divulgamos a nossa literatura. Claro que temos grandes nomes traduzidos. Mas mesmo esses grandes nomes não têm toda a obra traduzida. E há outros bons escritores que não estão traduzidos. E isso pode ser um entrave neste âmbito.

Informação ONDA LIVRE

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