Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 10 de março de 2016

Memórias Orais - Maria Andrade

“Na jeira comíamos pão, às vezes sabe o que levávamos? O engalho, chamávamos-lhe nós, que era o que havíamos de comer com o pão e azeitonas, as carnes eram poucas, uma sardinha, uma conservinha de sardinhas e era assim filhinho de Nosso Senhor, é assim que lhe digo...”
Não sabe que idade tem. A doença trocou-lhe as memórias mas a lucidez dos tempos de menina continuam intacta. “Andei na 4ª classe aqui em Freixo, ali era a escola na Praça, ao pé da Igreja; era ali que aprendíamos até à quarta classe, pra estudar nada vá, que eu era pobrezinha e depois toca de sair da escola e ir a trabalhar”. Aos dez anos, o trabalho já não lhe metia medo. Na agricultura os trabalhos eram duros, mas aprendeu a fazer tudo. “Trabalhava para os ricos. Tinham muita segada e nós até íamos à espiga, apanhar o que deixavam perdido, malhávamos a eira, juntávamos em casa dois feixes da espiga de pão e era assim”. Não acredita nas vozes que têm sempre a crise nos discursos. Antigamente é que existia miséria, agora ao menos há o que comer, diz. Comeu muitas vez metade de uma sardinha para enganar a fome, e portanto sabe do que fala. A escolha entre a cabeça e o rabo do peixe era à vez, entre os irmãos, mas havia pior, conta. A roupa e os sapatos iam sendo remendados até que já não houvesse solução. Depois havia quem fosse trabalhar descalço. Mesmo no frio de Inverno. Nunca foi o seu caso, nem o dos irmãos, ainda assim, a vida em Freixo não lhes foi fácil, e lembra “é como dizia a cantiga, Gosto de Freixo a valer/Já cá fico até morrer/Custe lá o que custar”.
Apesar dos tempos ingratos nunca perdeu a vontade de cantar. E é à sua terra que dedica os versos mais longos, “Oh Freixo de Espada à Cinta/De todo o lado te vejo/Ainda espero cá voltar/Para matar o desejo; És uma vila encantada/Eu por ti vou a chorar /Só lhe peço muita palmas/Pra cá tornar a voltar; Freixo de Espada à Cinta/Teu nome te ficarei/Por isso te quero tanto/Como quero à minha mãe; Terra amiga/Como tu não há igual/És a joia mais antiga/ Das vilas de Portugal”.
Maria Andrade vive no Lar em Freixo de Espada à Cinta. Desde os 20 anos que ser autónoma foi a batalha que não conseguiu vencer. É lá que tem passado a sua a vida. Às vezes a cantar, para distrair a inquietação constante. E se antes o fazia para “espantar a fome”, talvez agora o faça para espantar a solidão...

Joana Vargas


Sem comentários:

Enviar um comentário