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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

A Nordeste uma Luz ao Fundo do Túnel

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Era um tempo em que se vivia sem pressa. O meu avô despedia-se da família e demorava um mês a ir ao Porto e regressar a Bragança, com quatro machos puxando um “carromato”. A longa caminhada era uma aventura com bizarros episódios de ladrões que espreitavam no descampado dos montes, ou se acoitavam na estreita passagem dos pontões dos rios. Tempos de fomes e servidão.
O meu pai comprou uma furgoneta de caixa aberta e pacientemente ia ao Porto em 7 ou 8 horas. Saía ao anoitecer de Bragança, parava nos bares do Adolfo do Romeu e do Neca de Vila Real que estavam toda a noite abertos servindo os camionistas e ao amanhecer estava no Porto, depois de vencer, estoicamente, as infindas e penosas curvas do Marão.
Em 2009 o ministro Mário Lino inaugurava a ponte internacional de Quintanilha, dando-se assim por concluído o IP4 que demorou quase 30 anos a ser construído.
“O Itinerário Principal nº 4, projetado para ligar Matosinhos, no Porto, à fronteira, em Bragança, foi das primeiras obras do Plano Rodoviário Nacional a ser iniciada, mas das últimas a ser concluída”, lê-se no jornal de Negócios de 24 de julho de 2009.
E durante estes 30 anos o Marão continuou a ser um pesadelo, com a morte anunciada em cada curva, com o luto permanentemente a assombrar o país. No IP4, em 20 anos, foi contabilizada a morte de 136 pessoas e 1273 acidentes. Uma autêntica guerra que ninguém travava.
Em 2009 arranca a construção da autoestrada nº 4 (A4) com a emblemática frase de José Sócrates: “Esta é a autoestrada da justiça” e ainda, esta autoestrada “vai acabar com a ideia de que haverá pessoas para cá do Marão ou para lá do Marão"
Mais uma vez a A4 avançava com a lentidão tradicional das obras transmontanas onde a pressa política não marca a agenda.
Finalmente esta importante obra de “Santa Engrácia” é dada por concluída com a abertura do maior túnel da Península Ibérica, com 5,6 quilómetros. Finalmente venceu-se o Marão e espera-se que cada vez mais para cá do Marão mandem os que cá estão com a colaboração solidária do governo central que muitas vezes se esquece que há mulheres, e homens a nordeste.
Que esta última obra na A4 que demorou sete anos a ser concluída, seja a luz ao fundo do túnel da nossa esperança e que de uma vez por todas o interior se aproxime do litoral e da Europa ao nível da igualdade de oportunidades e do desenvolvimento.
Pelo meu avô, pelo meu pai, quero fazer esta viagem até ao Porto acreditando que a única riqueza que temos é o tempo e tudo aquilo que de bom e justo possamos fazer com o tempo que nos resta.

Fernando Calado
nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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