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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

O VERMELHO

Há semanas recebi uma carta de Tia dada a evocações (sem qualquer indagação espirita), sublinho. Na missiva referia dados concretos, contextos e situações: a minha tenra idade, visita protocolar à avó paterna, ser louro, ter olhos azuis e envergar ou vestir um sobretudo vermelho no dia da apresentação.
O louro fugiu aos nove anos, agora esvoaço farripas canosas mal distribuídas, mantenho os olhos azuis, do sobretudo não guardo recordação, a cor vermelha sempre me fascinou, muito antes do benfiquismo iniciado na primeira adolescência, solidificado no decorrer da hegemonia azul Andrade, não do Belenenses.
O gostar do vermelho não impede de ganhar prazer perscrutando cromatismo de múltiplas tonalidades, em tempos congeminei a alacridade das cores encerrada num Museu ou Centro de Arte na bragançana cidade, logo desvanecida ao ouvir e ler grotescas inconsiderações contra tais casas de cultura, fazendo lembrar os patibulares sempre atreitos a desenfunarem a pistola mal ouviam a palavra CULTURA.
Seria estuporada estopada alinhar palavras relativas às múltiplas representações do vermelho na várias áreas artísticas, astrologia, religião, psicologia, guerra, música, literatura, gastronomia, bruxaria, farmacopeia e tutti-quanti, a Internet está ao alcance da mão, abundam textos a borbulharem no ciberespaço puros e impuros a glosarem o vermelho, o encarnado, o escarlate.
A afeição à cor vermelha foi-se-me aninhando na vivacidade paisagística, as papoilas no meio das searas, nas veredas dos caminhos, depois saltitantes a tremularem nos olhos ao ouvir o tenor Luís Piçarra, na voluptuosidade do hoje esquecido livro O Vermelho e o Negro, nos filmes exibidos no desaparecido Cine-Camões, as sagas revolucionárias, no sangue simbolizado na nossa bandeira na companhia do verde, outras das cores aditivas primárias de luz, a terceira é o azul.
A representação abrasiva do vermelho não é só o somatório de bem-aventuranças, de êxtases sonâmbulos e suculências gustativas (pensemos nas carnes vermelhas), também abrange a face sangrenta da guerra, dos massacres, dos grandes medos.
Por assim ser o comerciante Sr. Poças não apreciava chamarem-lhe vermelho (era ruivo assanhado), ele sabia que o apodo no consulado salazarista significava, pelo menos, reviralhista, logo suspeito aos olhos dos próceres do Estado Novo e asseclas. Nessa altura quem fosse apanhado a ler ou sobraçar a Seara Vermelha ganhava uma cruz vermelha na ficha policial encimada por uma foto aumentada copiada do Bilhete de Identidade. Se duvidarem consultem os Arquivos.
A minha partitura literária escorada no vermelho integra a Letra Escarlate de N. Haowthorne, também hoje na obscuridade, de leitura intensa a figura principal – a infiel casada – é obrigada a usar roupa com a letra A de adúltera bordada na roupa. Em 2013, estive em Salém, redondezas de Boston, é uma cidade pequena, cuja economia assenta nos capitais culturais convertidos em indústrias criativas.
A localidade tornou-se tristemente célebre pelo horrendo processo de acusação a diversas mulheres e homens praticarem actos de bruxaria, torturadas e executadas são símbolo da ignorância e superstição transformadas em dor e morte.
A costa onde se situa Salém recebia frequentes ataques dos piratas, quando capturados a pena mínima era o enforcamento. Pois bem, as bruxas que não o eram e os piratas que eram são miolo de museus, centros de arte e exposição, até de artes culinárias, passando por múltiplas representações ao longo de todo o ano. Todos os bens culturais funcionam harmoniosamente, as múltiplas nótulas da herança cultural fazem-se sentir, não por acaso no centro o hotel mais significativo tem o nome do livro: Letra Escarlate.
Trouxe o vermelho à colação porque este ano o verde esperançou muitos saudosos de títulos, debalde, e o azul do dragão, bicho mítico, exasperou outros tantos, entre os quais o meu excelente amigo Adalberto Castro.
Perfilei nomes em redor do vermelho, podia ser à volta de Bragança, sempre na constante rebeldia contra o acomodamento, sempre no sustentar a ideia de Bragança ter de ser uma realidade palpável e central no Interior do País, não apenas uma realidade objectiva.
Armando Fernandes
PS. Pediram-me para comentar a opinião de José Cid acerca dos transmontanos. Não se gasta energias com o erro. Ele é um Belo exemplo de fealdade.



Armando Fernandes
in:jornalnordeste.com

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