Os mirandelenses da diáspora estão de volta
Todos os anos, quando se aproxima o mês de Agosto, as vias do nosso concelho ganham mais movimento e as pacatas e quase ermas aldeias ganham nova vida e a cidade enche-se de automóveis. Depois, aqui e além, houve-se falar uma língua que não é a lusíada e olha-se para as pessoas e são das nossas.
O primeiro juízo, ao longo de décadas, dizia aos meus botões que estava perante gente exibicionista que queria ou quer dar nas vistas e mostrar a sua superioridade, pelo menos a «parler». Meditei muito sobre o porquê dos nossos emigrantes, quando regressavam, falarem francês, ou «franciú», ou a língua dos «avec». Mas, como tinha emigrantes na família, fui notando, que o seu vocabulário era o mesmo que se empregava no mundo rural e tudo o mais desconheciam.
O meu cunhado muitas vezes perguntava-me e pergunta-me: - como se diz em português? E fui-me apercebendo que desconheciam muitas palavras em português e o francês de décadas era-lhe mais familiar. O meu trabalho sobre etnolinguística, de que vai sair mais um livro, dentro de curtos meses, encontrou terreno fértil nas conversas com a minha irmã. Ela fala o português quase como era uso no mundo rural há sessenta anos atrás. Isto para dizer aos leitores que passei a ter imensa admiração pelo falar dos nossos emigrantes, seja na língua de Victor Hugo ou de Fernando Pessoa. Contudo, o título refere os «mirandelenses da diáspora», isto é, todos os que abandonámos o torrão natal e nos fizemos à vida por esse Portugal abaixo ou pelo mundo fora. E quem, como eu, sente o berço de uma forma intensa sofre por não estar mais perto.
Quantas vezes pensei regressar a Mirandela ou a uma cidade de Trás-os-Montes? E se via viabilidade de emprego para um elemento do casal, para os dois era uma grande interrogação. Assim, ninguém de bom senso troca o certo pelo incerto. E o meu sofrimento vai-me acompanhar até aos sete palmos da última morada, por ter filhos e netos longe. O filho está do outro lado do mundo, fazendo-me chegar esta mensagem horas depois de partir, mais uma vez: 11.07.2016, seis da manhã (hora local, menos sete horas que por cá), o despertador toca, ainda sou campeão europeu. Percebo que os verdadeiros campeões já aterraram. Recebo notícias que Portugal está ao rubro.
Invade-me a saudade, a vontade de estar aí com a Família, Amigos e desconhecidos, a festejar o que já há muito merecíamos. Estou a 7.500 Kms, demasiado longe do epicentro Lusitano, mas com um orgulho imenso em ser de onde sou. Quanto a isso não haverá nunca distância que encubra a vaidade de assumir as minhas raízes e enfraqueça a vontade de um dia voltar. Demasiado longe mas cada vez mais perto… obrigado Portugal (Tiago). Em tempo de férias ou em breves deslocações vamos enganando as saudades que nos apertam o coração.
Boas férias e bom regresso amigos e conterrâneos! Prefiram os nossos produtos locais e comprem um livro de um autor trasmontano e se for mirandelense ainda melhor. Sabiam que andar muito a pé, ler muito e comerem alimentos saudáveis são três premissas que nos aumentam os anos e a qualidade de vida que temos para viver?
Jorge Lage
in:atelier.arteazul.net
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