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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Lenda da Fraga Amarela - Concelho de Torre de Moncorvo

A Lenda da Fraga Amarela

Versão A:
Na Vilariça [concelho de Moncorvo] há uma pedra que servia de grade aos lavradores nos serviços agrícolas, por ser muito jeitosa. Um dia, que a ribeira ia muito grande, a pedra falou a um lavrador e disse-lhe:
– Parte de mim o que quiseres e mete-me no bolso e deita-me à água.
Ele assim fez e imediatamente a pedra se transformou em linda donzela moura sobre uma grade que, água abaixo, ia cantando:

– Adeus Vale da Vilariça,
Adeus Fraga Amarela(63);
Quanto ouro, quanta prata
Não me ficam dentro dela.

Versão B:
No castro de Adeganha há uma imponente fraga, a Fraga Amarela, onde, segundo dizem as gentes da aldeia, habita uma moura, que de vez em quando aparece e se ouve cantar de dentro do penedo.
Ora contam que, certo dia, um lavrador que andava por perto a lavrar um campo, com uma pedra em cima da grade, como é costume nestas terras, para fazer peso e os espigões da grade revolverem melhor os torrões e a terra ficar melhor lavrada, sonhou com a moura. No sonho, a moura dizia-lhe que partisse a pedra da grade, enchesse os bolsos com os bocados assim partidos e deitasse o resto à ribeira da Vilariça.
Quando acordou, o lavrador começou desse modo a fazer. Partiu três ou quatro bocados da pedra da grade, meteu-os nos bolsos do casaco, mas depois arrependeu-se e pensou:
– Que estou eu para aqui a fazer? Tem algum jeito, a encher os bolsos com pedras?...
E deitou todo o resto da pedra da grade à ribeira da Vilariça. Foi então que em cima da Fraga Amarela surgiu a moura encantada a fiar numa roca e a lamentar-se, dizendo:

– Adeus ó Vale do Ouro,
Adeus ó Fraga Amarela!
Tanto ouro, tanta prata
Me ficaram dentro dela!

É que, quando o lavrador meteu as mãos nos bolsos do casaco verificou que os poucos bocados que lá tinha metido eram bocados de ouro. E muito arrependido ficou de não ter partido mais. Mas já nada havia a fazer, que ele tinha atirado com quase toda a pedra da grade à ribeira da Vilariça. Nem ele pôde obter mais ouro, nem o encanto da moura se desfez. Perdera e ela lá continua encantada na Fraga Amarela, aparecendo e fazendo-se ouvir de vez em quando.

(63) Trata-se de uma fraga muito útil para o povo, pois funciona como relógio de sol. É meio dia quando o sol a cobre em toda a sua dimensão.

Versão C (A Lenda da Pedra Encantada):
Conta a gente desta terra que, há muitos anos passados, quando toda a gente era humilde e dava as mãos ao trabalho, todos os camponeses se dirigiam para o campo, para cultivar os seus terrenos. Uns plantavam batatas e feijão, outros lançavam as sementes à terra, para depois colher o centeio e o trigo.
Certo é que todos precisavam de agradar as terras e, para a grada ficar mais pesada, todos eles escolhiam uma pedra muito lisa e redondinha que, por magia ou coincidência, estava sempre ali à mão. Tudo isto se repetiu por muitos anos, até que um dia um moço sonhou com a pedra, isto é, sonhou que ela falava e lhe pedia que a ajudasse a voltar para a sua casa.
Sonhou uma vez, sonhou duas e à terceira, sempre com o mesmo sonho, dirigiu-se ao campo, agarrou a pedra e dirigiu-se com ela até junto do rio Sabor. Aí partiu-lhe os quatro cantos, que era o que no sonho lhe fora pedido, depois atirou-a ao rio.
Então, qual não foi os eu espanto ao ver que a pedra se transformou numa linda sereia que, seguia rio abaixo, nadando e cantando assim, com uma voz encantadora:

– Adeus Vale da Vilariça,
Adeus ó Fraga Amarela,
Tanto ouro, tanta prata,
Ali fica dentro dela.
Nestes montes eu vivi
- Como pedra encantada,
Tantos anos adormecida
E pela grade embalada!.

Versão D (Lenda dos Barrais da Vilariça):
Havia no Vale da Vilariça uma enorme pedra, que era usada por todos os lavradores para colocar em cima da grade quando andavam a agradar os terrenos para plantarem depois os melões.
Essa pedra passava de parcela em parcela e com os anos foi-se gastando. Um dia, em que dois lavradores andavam desavindos, um deles, ao acabar de gradar a sua terra, decidiu não passar a pedra para o seu vizinho e, em vez disso, deitou-a para a ribeira, que passava perto.
Nesse instante, formou-se uma trovoada enorme e a água passou a correr e a transbordar em todos os regatos. E, de repente, no cimo da corrente da ribeira turva, formou-se uma linda donzela que, enquanto seguia ribeira abaixo, cantava:

– Adeus, barrais da Vilariça,
Adeus ó Fraga Amarela,
Tanto ouro e tanta prata,
Que me ficam dentro dela!

Esta fraga é um grande penedo que se distingue dos outros pelo tamanho e pela cor amarelada. Diziam os mais antigos que nela se encontra um tesouro com muito ouro. Quanto a mim, o ouro que há está no terreno fértil do vale. O que é preciso é trabalhar nele e saber cultivá-lo.

Fonte – versão A: ALVES, Francisco M. – Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, vol. IX, Porto, 1934, p. 155. Fonte – versão B: PIGNATELLI, Inácio N. –
“Histórias do Douro”, in Jornal de Notícias, Porto, 20-7-1997.
Fonte – versão C: Inf.: Rosa Abade, 38 anos; rec.: Junqueira, T. de Moncorvo, 2001. 
Fonte – versão D: Inf.: Laurentina Carneiro, 74 anos; rec.: Horta da Vilariça, T. de Moncorvo, 2003.

in:Mouros Míticos em Trás-os-Montes – contributos para um estudo dos mouros no imaginário rural a partir de textos da literatura popular de tradição oral.

Alexandre Parafita

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