Para Jaime Guerra e mais seis irmãos a vida não correu como sempre se espera, pelo melhor, e o trabalho para todos veio cedo. O seu pai faleceu novo, e a família tinha que se sustentar. Depois de deixarem a aldeia onde nasceram, em Mazouco, regressaram a Freixo e todos tiveram que ajudar a mãe, que nunca lhes faltou com nada. “A vida era muito má mas felizmente a minha mãe era muito boa, muito cuidadosa de nós e trazia-nos sempre limpos”.
Ainda descalço, aos 12 anos, começou a aprender a arte de sapateiro que manteve durante mais de vinte anos. “Não tínhamos sapatos, e eu ia ao sapateiro para que me desse umas pontinhas do cabo, aqueles restos que ficam, e comecei a fazer alguma coisa e pedia ao sapateiro se me ensinava. Naquela altura, era um acordo de dois anos, de graça, não recebíamos nada. A partir de ano e meio, eu já tinha alguma habilidade e disse ao patrão, [você não me paga, eu procuro outra pessoa]. Fui para outra pessoa e ganhava naquela altura, cinco coroas que eram os dois e quinhentos, por dia, era pouco mas dava jeito”. Aos 16 anos já fazia calçado completo e por esta altura os seus pés já não deixavam as marcas no gelo dos invernos rigorosos.
A vida começou a ver dias melhores e Jaime decidiu emigrar para França onde esteve 13 anos mas o amor aos filhos haveria de o fazer regressar a Freixo de Espada à Cinta onde decide estabelecer-se com a sapataria que dura até à chegada do mercado chinês.
De há 9 anos a esta aparte que se ocupa da agricultura. Todos os dias vê a terra que tantas vezes percorreu descalço com os irmãos, quando iam buscar lenha para se aquecerem, às vezes a 10km de distância. Hoje quando pensa ainda se assusta , foi um passado alegre mas ao mesmo tempo triste, diz. Já vai longe e agora, a mesma terra que um dia lhe deu sacrifícios, trata-a ele, com a alegria possível.
Texto: Joana Vargas
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