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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

MEMÓRIAS ORAIS - Jaime Guerra

“A sopa comíamos sempre, e um peixinho, não era daquele mais caro claro. E a minha mãe quando tinha alguma reserva, já nos assava um bocadinho de carne, pouca naquela altura mas estava habituada e trazia-nos sempre bem. Eu andei descalço até aos oito anos. No lugar onde tenho as propriedades, andei lá muita vez descalço”.
Para Jaime Guerra e mais seis irmãos a vida não correu como sempre se espera, pelo melhor, e o trabalho para todos veio cedo. O seu pai faleceu novo, e a família tinha que se sustentar. Depois de deixarem a aldeia onde nasceram, em Mazouco, regressaram a Freixo e todos tiveram que ajudar a mãe, que nunca lhes faltou com nada. “A vida era muito má mas felizmente a minha mãe era muito boa, muito cuidadosa de nós e trazia-nos sempre limpos”.
Ainda descalço, aos 12 anos, começou a aprender a arte de sapateiro que manteve durante mais de vinte anos. “Não tínhamos sapatos, e eu ia ao sapateiro para que me desse umas pontinhas do cabo, aqueles restos que ficam, e comecei a fazer alguma coisa e pedia ao sapateiro se me ensinava. Naquela altura, era um acordo de dois anos, de graça, não recebíamos nada. A partir de ano e meio, eu já tinha alguma habilidade e disse ao patrão, [você não me paga, eu procuro outra pessoa]. Fui para outra pessoa e ganhava naquela altura, cinco coroas que eram os dois e quinhentos, por dia, era pouco mas dava jeito”. Aos 16 anos já fazia calçado completo e por esta altura os seus pés já não deixavam as marcas no gelo dos invernos rigorosos. 
A vida começou a ver dias melhores e Jaime decidiu emigrar para França onde esteve 13 anos mas o amor aos filhos haveria de o fazer regressar a Freixo de Espada à Cinta onde decide estabelecer-se com a sapataria que dura até à chegada do mercado chinês. 
De há 9 anos a esta aparte que se ocupa da agricultura. Todos os dias vê a terra que tantas vezes percorreu descalço com os irmãos, quando iam buscar lenha para se aquecerem, às vezes a 10km de distância. Hoje quando pensa ainda se assusta , foi um passado alegre mas ao mesmo tempo triste, diz. Já vai longe e agora, a mesma terra que um dia lhe deu sacrifícios, trata-a ele, com a alegria possível.

Texto: Joana Vargas

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