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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 2 de abril de 2017

Agora, Lisboa já não é só umas imagens na televisão

Alguns transmontanos que nunca tinham visitado Lisboa estiveram na capital e arredores nos últimos três dias. A longa viagem serviu para verem ao vivo o que eram apenas postais ilustrados.
Por estes dias, Rio de Onor é uma terra deserta. Pudera, 42 dos seus habitantes vieram passar três dias a Lisboa e arredores. “Ficou lá meia dúzia de pessoas”, brinca o presidente da junta da pitoresca aldeia transmontana, José Carlos Fernandes Valente, ainda a lamber os cantos da boca depois de ter comido um pastel de nata. Ao segundo dia de viagem desde Bragança até à capital, o grupo ocupa-se das maravilhas de Belém e torna-se obrigatório parar na casa de pastéis mais emblemática da cidade.

Este rectângulo a que chamamos país tem pouco mais de 200 quilómetros de largura e 500 de comprimento. Ainda assim, por motivos às vezes misteriosos, a geografia humana portuguesa tende a restringir-se a um espaço limitado do qual nem sempre é fácil sair. Que o digam alguns membros desta expedição, apadrinhada pela Fundação Inatel, que com a iniciativa “Aldeia dos Sonhos” quer tornar reais os desejos dos moradores de pequenas aldeias.

Manuel, de 80 anos, nunca tinha vindo a Lisboa. “Nem nunca fui ao Porto, só a Bragança”, conta, entredentes, pastel de Belém e café com leite no bucho. Quando a Junta de Freguesia de Rio de Onor se candidatou a ser a “Aldeia dos Sonhos” deste ano, algumas pessoas torceram o nariz. “Achei estranho. Achava que não valia a pena vir, porque já conhecia da televisão”, diz Fernanda, 74 anos, que já viveu em Madrid mas nunca tinha posto pé na capital portuguesa.

A ida aos Pastéis de Belém foi a segunda paragem de um dia longo. O grupo excursionista já tinha parado brevemente em frente à Torre de Belém e, lanche comido, seguiu para o Mosteiro dos Jerónimos, que muitos só conheciam de postais e fotografias ou da televisão. O mesmo com a Basílica da Estrela, visitada no fim da missa do meio-dia, e com o Parlamento, que todos vêem a entrar-lhes pela casa diariamente.

“Gostei muito da Assembleia”, diz Fernanda à porta do Estádio da Luz, penúltima paragem do dia. Tal como a quase todos, é difícil arrancar-lhe mais do que duas ou três frases e é tarefa hercúlea querer saber a opinião do que tem visto. “Estou a achar tudo muito bonito. Gostei de tudo”, afirma Fernanda – mas é sentença generalizada a todo o grupo.

Os lisboetas de todas as origens estão habituados a ignorar milhentas coisas que fazem parte do quotidiano da cidade. Escadas rolantes, por exemplo, para as quais alguns apontam com espanto ao entrar no Museu do Benfica. Ou a Ponte 25 de Abril, que leva Manuel a juntar os dedos de uma mão como quem diz que tem “cagufa”, mesmo que só lhe passe por baixo.

O presidente da junta explica que todo o programa foi construído pelos habitantes de Rio de Onor, mais habituados a conviver com os vizinhos espanhóis do que a pensar nas atracções das margens do Tejo. Era ponto assente que teriam de ir ao Oceanário, mas tudo o resto era à vontade dos fregueses. “As pessoas foram dizendo uma série de monumentos” e, explica José Carlos, chegou-se a “uma agenda bastante preenchida” que deu para três dias. Para este sábado, além da visita ao Parque das Nações, ficou reservada a ida ao Jardim Zoológico e ao Aqueduto das Águas Livres.

São “pessoas que conhecem este Portugal só pela televisão”, sublinha Francisco Madelino, presidente da Fundação Inatel, que com esta iniciativa crê estar “a contribuir para divulgar e promover as características emblemáticas do país”. Além disso, uma das missões da fundação é “dar igualdade de oportunidades no lazer e no turismo a todos os portugueses”, acrescenta.

A todos, mesmo que o entusiasmo destes seja contidíssimo. Veja-se Manuel, por exemplo. Olha espantado para todo o lado, dá pequenos passos, mãos entrelaçadas em frente à barriga, observa o alto das torres da Basílica da Estrela e sorri timidamente. Está a gostar de tudo, sim. Mas lá desabafa, o mais puro dos comentários: “A outra igreja era mais bonita.”

João Pedro Pincha
Jornal Público

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