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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 25 de julho de 2017

O Manso e o Guerreiro IV – O CARTÃO E A CASACA

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Quando o Júlio Manso se senta ao lado do velho amigo Tomé Guerreiro este responde-lhe maquinalmente à saudação e nem tira os olhos do jornal.

– As novidades deixaram-no preocupado, ti’Guerreiro.

– Nem por isso. Nem são novidades nem é preocupação o que sinto.

– Homessa! Hoje está muito enigmático. Explique-se, homem.

– Estou a reler uma prosa que veio publicada no Jornal Expresso já em maio.

– E o que é lê aí, que o deixa tão cisudo?  

– É um artigo de opinião do Pedro Santos Guerreiro que, a propósito dos papéis do Panamá e quejandos, veio garantir que ele e os que se meteram nesta tarefa hão-de levá-la até ao fim porque é esse o seu dever e que assim haverão de “regenerar um sistema em falência”.

– Mas olhe que isso mexe com gente muito poderosa!

– E ele não o sabe? Veja o que o homem diz: “Mesmo que ponha em causa poderes instalados – sobretudo se põe em causa poderes instalados – continuaremos inquietos e a inquietar. Mesmo que encolham os ombros nós mexeremos os braços. Mesmo que as opiniões públicas desistam, nós insistimos.”

– Pois essa deve ser a determinação de quem escolhe o serviço público, seja na administração, seja na comunicação social, seja na política.

– Na política não é assim tão simples. Nem tão direta. Nem sequer tão óbvia.

– E sabe porquê?

– Para começar porque o comportamento dos atores está longe de ser sensato e congruente. Basta ver a quantidade de gente que, a pensar no lugarzinho, já anda a mudar de companhia para o próximo ato eleitoral.  

– O virar de casaca partidária é uma moléstia a que já nos habituámos.

– Virar as costas ao partido nem sempre é mau  nem censurável.

– Essa agora!

– É verdade que as candidaturas integradas em partidos dão várias garantias aos eleitores. São estruras sólidas, permanentes e com muita inércia programática.

– E isso não é bom?

– Claro que sim! Contudo o problema é que os programas não têm força de lei e, como tal, podem ter interpretações e execuções muito diversas de acordo com quem lidera o poder executivo.

– É verdade. Mas, como sabe, a adesão a um partido é um ato voluntário. Ninguém é obrigado. Muito menos a integrar qualquer lista eleitoral. Quem aceitar a bandeira partidária aceita as regras estatutárias que integram certos preceitos de lealdade e fidelidade às opções, definidas por quem tiver legitimidade para isso.

– Concordo totalmente. Mas nem sempre tem de ser assim!

– E porque não?

– Pela própria natureza partidária.

– Agora é que fiquei completamente baralhado.

– Os partidos foram criados para exercerem o poder, em nome dos eleitores. A fidelidade dos seus membros aos respetivos estatutos serve precisamente para garantir aos votantes o cumprimento do programa partidário, genericamente, e o eleitoral, em particular. Por isso se exige aos eleitos que sejam coerentes e fiáveis.

– Sem dúvida!

– Contudo se alguém que aderiu a um partido com o genuíno sentido de serviço público, verificar que o interesse comum não está devidamente acautelado, não será legítimo ignorar os ditames estatutários? – Mesmo que isso implique a perda do cartão de militante..?

– Mesmo que a consequência seja essa! Porque, neste caso em concreto, o verdadeiro virar da casaca seria manter-se calado e cúmplice!

José Mário Leite
, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

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