São Paulo (Brasil)
(colaborador do Memórias...e outras coisas)
O Ditinho táva muito bêbo. Már chegô em casa, táva lá o cramunhão! O cão táva vistido cuma capa preta; na cabeça, tarveiz pra iscondê o chifre, o bode cheroso usava um chapéu di aba larga. Pra cumpretá a rôpa janota, usava um “ray ban” de vidro verde, muitas das veiz pra iscondê aquele zóio vermêio que ele tinha! O Ditinho pelejô pra inxergá direito, pruquê tava garoano um pôco. O iscomungado falô ansim pro Ditinho:
- Vancê qué ficá rico, Ditinho?
- Quero, craro!, respondeu.
- Intão vancê mi acumpanha inté a mata tenebrosa!
E o lucifér já foi andano, cô Ditinho andano atrais, quenem cachorro! Só fartava andá de quatro, pois inté latí, ele latiu.
Andaro no mato uns par de hora. Por vórta das artas hora, o capeta virô prêle, co’s zóio chispano fogo por adetrais do ray ban verde:
- Ditinho, vancê tá veno essa pedra no meio da crarêra?
- Tô, respondeu o Ditinho.
- Ela é de ôro, i vale dois milião. É tua!
- Brigado moço, mais acho que num quero não.
- Como num qué?, disse o chifrudo. Vancê qué ficá rico, num qué?
- Quero, qué dizê, eu queria...., falou tremeno de medo!
- Ara, sô! Vancê pode ficá milionário cum essa pedra. Só tem uma coisa que vancê tem que fazê por mim.
- Iuquié?, respondeu Ditinho, de carrêra, pra num fartá o fôrgo.
- Vancê vai vendê sua arma pra mim.
- Mais ieu num tenho arma ninhuma!
- Tô falano do seu espríto; seu bêbo burro!
- Ave Maria, credo em cruiz, mangalô treis vêis, vai de rétro satanais, a cruiz de Cristo, o anér de São Cipriano que me valha, sai Exu, príncipe de quibungo, bode preto, cobra Nonato, Anhangá. Sartei de banda, sô! Vê se num me estórva!
Dispois do Ditinho dizê essas palavra, o fedegoso rinchô que nem um cavalo, i ficô sortano uma fumaça pelo roscófe, que fidía queném ovo podre. I o chêro i a fumaça foi tomãno conta do mato. No meio da fumaça de pórva, o pé de bode sumiu!
O Ditinho vortô zunino pra casa, deitano cabelo no estirão. Chegô em casa todo mijado i cagado. Mêmo assim, começô arrastá mala nas roda de truco e nos jogo de maia i bocha.
-Uma veiz um fio duma quis me dá ôro, pra ieu vendê minha arma. Ieu podia tá rico!
-Ara, dêxa de dizê asnêra, Ditinho. I vê se presta atenção no jogo. Ocê tá perdeno di novo!
Nessa noite, o Ditinho táva durmino u sono dos justo, quando escuitô uma voiz chamãno iele no quintár:
-Ditinho, me dá sua arma! Ditinho, me dá sua arma! Ditinho, me dá sua arma!
-Credincruiz, ave-maria, será o coisa ruim?
I era; ele veio fazer a úrtima tentativa de usá a arma do Ditinho pra fazê os már-feito!
O Ditinho correu inté a casa do padre Tito i pediu perdão, por sê tão orguioso i ridico!
O padre Tito rezou em riba dele, côs pano de missa, jogô água benta i mandô iele rezá cem ave Maria i deiz padre-nosso.
O bode preto, o cramunhão, o coisa ruim, nunca mai apareceu prêle.
I iêle agora é coroinha i ajuda o padre Tito a rezá a santa missa; tudo us dia!
Este texto foi criado em em 05/11/15
Antônio Carlos Affonso dos Santos - ACAS
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