Por: Humberto Pinho da Silva
(colaborador do "Memórias...e outras coisas..."
Em meados de Outono, costumo receber, via Internet, mensagem, solicitando texto sobre o Dia dos Finados.
Sempre fico embaraçado. Não gosto de “encomendas”. Por mais que rebusque, no armazém da memória, encontro-a sempre vazia.
Assentei, este ano, não escarafunchar o bestunto, e apresentar o que escreveu Marco Aurélio, Imperador de Roma (161-180) nos cadernos – “Pensamentos Para Mim Próprio”.
Marco Aurélio não era cristão, chegou até a persegui-los.
Li algures, não sei onde, que assimilara o cristianismo, mas, como politico, que era, sentia-se na obrigação de ser politicamente correto.
Se assim é, não era diferente de certos políticos, do nosso tempo, que metem a religião, que professam, na gaveta, para não colocarem em risco, ascensão social, que tanto ambicionam.
Com frequência ouço dizer: é preciso cristãos na política. Concordo, mas Homens que não sejam duplos: crentes no templo; agnósticos na sociedade e na política.
Voltemos a Marco Aurélio:
Verdade é, que na guerra com os Quadros, havia, entre os romanos, cristãos, que pediram a Deus, a vitória do Imperador.
Os Quadros eram mais numerosos, e haviam cortado o fornecimento de água, ao exército romano. Devido à oração dos cristãos, – ou não, – choveu, e os soldados puderam aparar a água, e beber.
Seguiu-se, depois, tremenda trovoada, e raios provocaram incêndios no arraial dos Quadros
Os romanos saíram vencedores da batalha, que não houve, e ninguém morreu.
Disseram, então, que fora milagre do Deus dos cristãos. O Imperador, que era estoico, deve ter-se tornado, em segredo, cristão (penso eu) – embora nunca aceitasse, publicamente, a intervenção divina, na batalha.
Dito isto, que nada tem com o Dia dos Finados, translado alguns dos célebres pensamentos de Marco Aurélio, que julgo enquadrarem-se com esta data:
“ A morte é um mistério da Natureza, tal qual como o nascimento” – Livro IV.
“ Em breve nada restará de vós, nem sequer o nome” – Livro IV
“ Alexandre da Macedónia e o seu almocreve, uma vez mortos, foram reduzidos ao mesmo” – Livro VI
“Em breve a terra nos cobrirá a todos.” - Livro VIII
“ Onde estão eles (os grandes, que morreram)? Em parte nenhuma ou algures. Desse modo verás constantemente como as coisas humanas não passam de fumo e de nada.” - Livro X
“ Sou composto duma alma e dum corpo” – Livro VI
“ A perfeição moral consiste em passar cada, como se fosse o último dia.” - Livro VIII
“ Tal como aguardar o dia em que a criança está no sei da tua mulher nasça, assim deves aguardar com compreensão, a hora em que a tua alma abandonar o invólucro que habita, e nasça a luz.” - Livro IX
“ O homem a quem encanta uma glória póstuma, não se lembra que aqueles que o recordarão, também, em breve, deixarão de existir, assim como aqueles que ficarão em seu lugar, até que a sua memória se apagar por completo.” - Livro IV
“ Recorda, pois sempre destas duas coisas: primeiro, que desde a eternidade, tudo tem especto idêntico e passa pelos mesmos ciclos, portanto que tanto vale assistir ao mesmo espetáculo, durante cem, duzentos anos ou eternamente; segundo, que o homem que morre mais velho ou o homem que morra mais novo, perdem o mesmo, porque só perdem o presente, que é o que nos é dado possuir. Ninguém perde o que ainda não possui.” - Livro II
Estes são alguns pensamentos de Marco Aurélio, colhidos ao acaso, mas significativos para este dia de Fieis Defuntos.
Se me permitem – e os pensamentos apresentados despertem a curiosidade, – recomendo-lhes a leitura e a meditação da celebre obra de Marco Aurélio.
Creio que não se vão arrepender…
Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".
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