Ana Maria Afonso |
Assim, na passada sexta, logo pela manhã, teve lugar o Jardim de Brincadeiras com atividades lúdicas para pessoas de todas as idades. Ao início da tarde, tiveram lugar as Narrativas da Tradição Oral, seguindo-se a Mostra Gastronómica Internacional nos jardins palacianos do MAB.
Tortilla (batata, cebola e ovos) de Espanha, Blatlerteig Stongen (massa folhada e queijo suíço) da Suíça, Pakoda (cebola, couve, cenoura e piripiri) da Índia, Zhà Yú (peixe frito) e Mumbels (farinha integral e recheios variados) da China, Nan (farinha de trigo, alho e queijo) do Nepal e Gattas (massa folhada e recheios variados) da Arménia foram, somente, alguns dos pratos tradicionais confecionados pelos participantes estrangeiros em representação das 12 nacionalidades a concurso.
Uma das principais responsáveis pela concretização desta iniciativa contou ao Diário de Trás-os-Montes como esta ideia surgiu. “Coincide e por sorte a nossa que dos alunos que temos vários são cozinheiros, alguns deles com restaurantes na cidade, outros que trabalham na cozinha de estabelecimentos de restauração e ainda alguns foram cozinheiros nos seus países de origem. Então, em conversa, surgiu a possibilidade de fazermos esta mostra para, também, deixar esta marca aqui no museu, em que realmente nós conseguimos fazer deste espaço maravilhoso um espaço intercultural e de partilha gastronómica”, explicou Fátima Castanheira, que integra o Secretariado Diocesano de Emigrações e Minorias Étnicas, sendo, também, professora do curso de Português para estrangeiros. O facto de personificar como a própria referiu esta “dupla representação”, ajudou a promover esta diversidade e “sendo Dia internacional Dos Museus, a Dr. Ana como diretora (do MAB) achou que faria todo o sentido nós fazermos aqui uma parceria interessante, quer enquanto migrações e minorias étnicas, quer enquanto português para estrangeiros no curso que nós temos em funcionamento na Escola Emídio Garcia”, fundamentou a docente.
“Museus Hiperconectados. Novas Abordagens. Novos Públicos.” foi a insígnia escolhida este ano pelo ICOM para solenizar o Dia Internacional dos Museus.
Feito um “balanço extremamente positivo”, Fátima Castanheira reconhece que “a realidade de Bragança, neste momento, mudou. Nós somos uma cidade intercultural, multicultural e mostrarmos esta componente gastronómica é sempre interessante porque, também, é uma forma de acolhimento destas culturas diferenciadas presentes em Bragança”. Ainda no mesmo dia, ao final da tarde, a música invadiu o MAB com o Coro Arco Íris, seguindo-se os Cantares d`Antanho.
Já no sábado, dia 19 de maio, as exposições “Memórias do Salto” e “Douro, Lugar de um Encontro Feliz” marcaram uma efeméride intitulada Noite dos Museus e que permite como já é tradição visitas gratuitas até à meia-noite.
No domingo, último dia das comemorações, a música teve um lugar de destaque com concertos vários a cargo de grupos como “Um ao Molhe” e artistas como Joana Guerra, Meta e Fee Reega.
A grande obreira não só desta iniciativa de três dias, mas também de muitas outras que têm impulsionado o crescimento do MAB, aberto as suas portas à diversidade e a todas as comunidades, bem como a distintas manifestações artísticas e culturais, projetando o bom nome do museu brigantino por toda a região, a nível nacional e, inclusive, além-fronteiras, tem sido a sua diretora, Ana Afonso.
“Toda a Europa está com portas abertas nos museus e, hoje, todo o mundo está a celebrar este espaço museu que cada vez mais se quer como uma ponte para a comunidade e para a diferença”, Ana Afonso.
Questionada sobre se, atualmente, sente o museu mais inclusivo, mais acessível à sociedade e mais disponível para as pessoas, do que quando abraçou o cargo de diretora, a responsável responde, assertivamente, “sim”. “Sinto muito que cada vez é mais procurado, cada vez mais temos público diversificado, sem dúvida, diversas solicitações, públicos e olhares diferentes, formas de estar divergentes, um espaço inclusivo. Isso eu noto, cada vez mais”, testemunhou a responsável, sublinhando que esse foi, desde o princípio, “o seu grande objetivo, que as pessoas sintam este espaço como seu”.
Ana Afonso, enquanto diretora, conduz os destinos do Museu Regional do Abade de Baçal de Bragança desde 2010, tendo a sua continuação sido oficializada em Diário da República, num despacho assinado pelo próprio diretor regional de Cultura do Norte, na sequência de um concurso público e da proposta do júri. Facto que, na altura, confessou ter-lhe agradado bastante, considerando ainda hoje como na altura que dirigir este projeto enquanto diretora do museu continua a ser um “desafio constante, mas entusiasmante”. Até porque “um espaço de memória só existe quando ela é reinterpretada no dia a dia no século XXI, perspetivando o que fomos e o que seremos”, ponderou, em jeito de reflexão, no final da sua entrevista ao Diário de Trás-os-Montes, em pleno Dia Internacional dos Museus.
Dia Internacional dos Museus: Um pouco de história
O Dia Internacional dos Museus é celebrado anualmente a 18 de maio. Instituída pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM), um organismo da UNESCO, com o objetivo de promover, junto da sociedade, uma reflexão sobre o papel dos Museus no seu desenvolvimento, a data é comemorada desde o dia 18 de maio de 1977.
De acordo com a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), o Dia Internacional dos Museus que teve lugar na passada sexta-feira foi assinalado com uma intensa programação de 400 atividades em 84 espaços museológicos distribuídos por 46 concelhos do país.
Dedicado, este ano, ao tema: “Museus Hiperconectados: Novas abordagens. Novos Públicos”, museus, monumentos e palácios participaram na efeméride com centenas de atividades como visitas, ateliês, palestras, exposições, concertos, encenações históricas, teatro e lançamento de livros.
“É impossível compreender o papel dos museus sem ter em conta todas as conexões que protagonizam e possibilitam. Os museus são uma parte integrante das suas comunidades, da sua herança cultural e paisagística e do seu ambiente.
Devido à tecnologia os museus podem hoje alcançar novos públicos, para além do público tradicional, assim como conseguem encontrar novas formas de aproximação das coleções aos diferentes públicos: quer através da digitalização de coleções, como usando elementos multimédia nas exposições ou simplesmente utilizando um hashtag que permite ao visitante partilhar a sua experiência nas redes sociais.
Contudo, nem todas estas conexões se devem à tecnologia. Como os museus se esforçam por manter a sua relevância na sociedade, eles centram a sua atenção na comunidade local e nos diversos grupos que a constituem. Como resultado, estes últimos anos assistimos ao nascimento de inúmeros projetos comuns organizados por museus com a colaboração de minorias, comunidades indígenas e instituições locais. Para envolver estes novos públicos e fortalecer as suas conexões, os museus devem encontrar novas maneiras de interpretar e apresentar as suas coleções”, pode ler-se no site do ICOM.
Num dia celebrado mundialmente, vários espaços culturais têm entrada gratuita, sendo possível visitar as suas exposições e obras, assim como participar nas iniciativas preparadas para comemorar o Dia Internacional dos Museus.
De salientar, ainda, que as iniciativas do Dia Internacional dos Museus em Portugal são, habitualmente, divulgadas no site do Património Cultural a partir da segunda semana de maio.
Noite Europeia dos Museus
A Noite dos Museus, é uma iniciativa criada em 2005 pelo Ministério da Cultura e da Comunicação de França e é celebrada a 19 de maio. Nesta ocasião e com o intuito de mais pessoas poderem visitar os espaços museológicos do país, organizam-se múltiplas atividades como concertos, espetáculos de teatro e dança, visitas guiadas e encenadas, entre muitas outras, convidando os visitantes a usufruírem, em período noturno, de uma experiência diferente e enriquecedora.
Bruno Mateus Filena
in:diariodetrasosmontes.com
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