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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 23 de dezembro de 2018

A casa dos Cantoneiros

Por: António Orlando dos Santos 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Acabo de ler em Mensageiro de Bragança, pág.6, de 20/12/18 um pequeno artigo de opinião do nosso conterrâneo, Armando Fernandes sobre um outro conterrâneo nosso, Armando Vara, que me faz indirectamente aviso dos perigos que acarreta dar opinião pública, quando a nossa proveniência não é de extracção suficientemente creditada para termos tal ousadia.


Agradeço ao autor a lucidez de raciocínio e à disponibilidade para apertar a mão ao nosso patrício e eu declaro aqui, que igualmente o farei se a minha humilde condição mo permitir numa futura ocasião. Vem esta introdução a propósito de uma notícia publicada no mesmo jornal, na página 8, cujo título é: Demolição da antiga casa dos cantoneiros dá origem a contra-ordenação.
Penso não meter a foice em seara alheia pois não direi mais que o absolutamente necessário, não para ajuizar de razões que assistam a esta ou aquela parte, mas sim para dar conta dos meus sentimentos quando, seja quem for, destrói o que é património público que é de todos nós indubitavelmente e ao qual o nosso imaginário está indelevelmente associado e é parte integrante da nossa personalidade e pelo qual, EU, pessoalmente agradeço a Deus ter inspirado os homens que o realizaram. 
Já fiz saber através de escritos neste mesmo Facebook, do meu sentimento de revolta, que se mantém bem aceso sessenta anos após haverem destruído a minha Rua e por arrastamento a minha comunidade que até hoje, continua a ser o princípio e fim da minha inteira forma de ser.
Não posso esconder o que fizeram ao Mercado que tinha o seu lugar na Praça Camões e que tão deslumbradamente suprimiram para dar lugar ao que lá está agora. Outras fracções do património com igual ou semelhante destino poderia enumerar mas quedo-me por aqui e falarei apenas da minha ligação à referida Casa dos Cantoneiros. 
Quando miúdo o Sabor exerceu em mim um fascínio que só conseguirei descrever com este exercício lúdico em que estas crónicas aqui publicadas se transformaram para o meu estado psicológico e físico que talvez a minha idade explique. Mas a verdade é que passei milhentas vezes à ilharga dessa casa e algumas vezes lá entrei, dada a relação de amizade com os moradores, o casal Samões, Senhor Mário e Senhora Natália e os filhos de quem sou amigo de longa data.
Há no entanto algo de mais impressivo e que coloca a Casa dos Cantoneiros da Ponte Nova do Sabor num lugar de destaque no meu imaginário de fundação identitária, pois era a dita casa a zona de demarcação do território que pertencia ao Deus das estórias da Tia Maria Mónica, separando-o do de Belzebu a quem ela conseguiu ludibriar ganhando tempo de se por ao fresco ,para a partir da linha imaginária, qual Equador, poder gritar: -Coza-se o Diabo e mais quem a ele se submete! 
Sei agora que este mítico edifício de traça singela mas airosa, com arco de meia volta de granito de Montesinho que abria o alpendre branco de neve que dava donaire à fachada alva com cornija sóbria e telhado avermelhado de boa telha Marselha já não existe, pelo simples facto de a Autoridade chamada Câmara Municipal se haver alheado do perigo da sua possível supressão e não ter tido a sensatez de quando licenciou as obras de melhoramento e acrescento, não avisar o requerente da proibição de demolir e consequentemente apagar a parte física que sustentava a abstracta do imaginário belo de milhares de brigantinos que se recordam dela com as paredes alvas e o logradouro da frente cheio de cravos, rosas e outras flores que nos remetiam para a imaginada Casa Portuguesa, criação do Arquitecto Raul Lino e à qual o Arquitecto Cottinelli Telmo deu o seu aval. Saliento no entanto o despertar da Câmara que como que apanhada de surpresa, enviou a sua equipa de fiscalização embargar a obra por não cumprimento com a constante do projecto licenciado! Mas dado o passado longínquo ou o passado recente de assuntos semelhantes a este e o seu desfecho, será que a Câmara tem a força legal ou o empenho e zelo suficiente para exigir a sua reconstrução?
Das declarações do Senhor Presidente nada consta do concernente a este tópico. Diz apenas que a obra se manterá assim por muito tempo. Acredito ainda assim que será esta questão o ponto de viragem na maneira, direi, pouco zeladora que a Câmara tem tido desde longa data para com o património edificado que não esteja sob tutela do IPPAR.
Nada me move contra as pessoas que são titulares de cargos, muito menos contra os que foram democraticamente eleitos e que normalmente me dão a honra de alguma simpatia .Quero apenas relevar um ponto que se prende com o direito consignado na Lei, que permite ao cidadão vulgar não estar de acordo com determinadas acções ou omissões recorrentemente avalizadas contra o interesse público. E o interesse público tem também que ver com as memórias dos naturais do território e o seu sentido de pertença ao espaço que habita ou habitou, bem assim como a conservação de um certo sentido estético para o qual foi educado por gente que nestas coisas não ficava atrás dos próceres de agora que assobiam para o lado quando se trata de sentimentos que o comum dos cidadãos nutre pelo que também é seu.
Vou terminar, mas diz-me a consciência que devo voltar à estória da tia Mónica:  -Nos contos e narrativas por ela contados às crianças da minha Rua à lareira ou ao sereno, havia um só em que o tom de voz era mais vincado! Era o da luta com o Diabo em cima e ao meio da Ponte Nova do Sabor, onde depois de deixar o Belzebu para trás e já em frente à Casa dos Cantoneiros ,que segundo ela era já território do Deus das suas estórias, fez uma figa com a mão esquerda e um manguito com o braço esquerdo sobre o direito flectido e gritou: -Coza-se o Diabo e mais quem anda com ele, tendo de seguida feito o sinal da cruz! ( A casa era já território do Deus, bom e simples que ela adorava )!





Bragança, 21/12/2018
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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