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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Fogueira do Galo mantém viva a cultura popular em Miranda do Douro

As fogueiras do Natal no Planalto Mirandês assumem-se, desde há muitos anos, como um dos elementos mais importantes da cultura popular neste território e em Miranda do Douro o costume não se perde.
Apesar de praticamente em todas localidades do Nordeste Transmontano haver o costume de se acender a Fogueira do Galo, na noite da Consoada, em Miranda do Douro, no distrito de Bragança, esta tradição carrega consigo aquele que é considerado pelos investigadores como "um ato de iniciação e emancipação dos rapazes em idade da puberdade, em que as raparigas "estão proibidas de participar".

"Entre as tradições mais bem conservadas está a Fogueira do Galo, também conhecida por Fogueira dos Rapazes, que são rituais de provocação e iniciação, rituais de leme, protagonizados pelos rapazes que se mostram no solstício de inverno", disse à Lusa o investigador da cultura mirandesa António Rodrigues Mourinho.

Os trabalhos para a realização da Fogueira do Galo começam bem cedo, com o lançar de foguete de alvorada, logo ao amanhecer. A partir desse momento os rapazes seguem para o monte, onde passam todo o dia a cortar lenha e a carregar os carros de bois, que depois serão puxados pelos jovens até à praça da Sé e descarregados até ao acender do lume.

"Os trabalhos para a preparação da fogueira são vedados às raparigas, por uma questão de recato e decoro, já que durante o dia passado no monte são muitos os momentos em que os rapazes são postos à prova na sua 'masculinidade', com a realização das barrelas, um ato que não passa de uma brincadeira, em que os rapazes mais jovens são despidos da cintura para baixo e os mais velhos lhes colocam terra e musgos nos órgão genitais, mas tudo sempre vigiado pelo grupo", explicou o investigador.

Segundo António Rodrigues Mourinho, estes rituais e praxes de fecundidade e puberdade são pagãos e vêm de tempos ancestrais, com o objetivo de provar se os rapazes eram capazes de procriar.

Passados os trabalhos e as praxes, os rapazes juntam-se de para comer e beber. A hora de merenda é outros dos pontos altos e não faltam a famosa "punheta de bacalhau, enchidos queijos, pão, entre outros produtos regionais que são regados com bom vinho".

Já com o estômago reconfortado, os rapazes preparam-se para levar a lenha para a cidade, numa viagem acompanhada por cantos tradicionais de Natal adaptados à realidade do dia da fogueira.

"Um dos pontos alto desta atividade é o transporte da lenha para o local da fogueira, numa viagem em que os cânticos dos rapazes e toda a caravanas de carros de madeira, com o seu chiar característicos, atraem os residentes ao centro da cidade e os turistas, admirados com esta função natalícia", explicou o historiador.

Na opinião dos mais velhos, a missão é agora facilitada. Abílio Barril, de 76 anos, um homem que desde tenra idade participou na preparação da fogueira, disse à Lusa que no passado era bem mais difícil cumprir a tradição, já que tudo era feito a força de braços.

"Antigamente carregávamos os carros de bois com grandes troncos de madeira até chegar à fogueira e durante a viagem havia muita peripécia, devido à orografia do terreno. Até os carros de bois chegavam a partir com o peso da lenha, entre outras avarias. Isto atrasava a festa, mas havia sempre uma ajuda extra", recordou.

Para o antigo participante, esta é uma herança do passado.

De 10 em 10 anos, os homens casados relembram este dia e fazem a Fogueira do Galo dos Casados, com a mesma fórmula da dos solteiros.

A Bruno Torrado, de 25 anos, cabe a missão de integrar a equipa que este ano vai acender a fogueira em Miranda do Douro. Na sua opinião, a tradição está bem viva e continua a ser um momento alto para a juventude.

"Embora a tradição da Fogueira do Galo esteja viva, acaba por sofrer aclarações e adaptações. As barrelas já praticamente não se fazem, mantendo-se um espírito de camaradagem muito bom", vincou.

Outra novidade é que há rapazes de 07 e 08 anos que, acompanhados pelos mais velhos, "se entranham nesta tradição", indicou o mordomo da fogueira.

É praticamente unânime que, se não houvesse Fogueira do Galo em muitas das localidades do Nordeste Transmontano, não seria Natal.

Agência Lusa

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