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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 19 de julho de 2019

Os raparigos

Por: António Orlando dos Santos 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas..."

Quando eu era menino, não se falava que com o tempo futuro próximo, pudesse dar-se o caso de faltarem crianças e que os afazeres das mulheres, deixassem de ser os trabalhos domésticos e passassem a ser os que competia aos homens desempenhar. Claro que ainda não será literalmente o caso, mas ninguém hoje se admira, que esta previsão se realize ainda no nosso tempo, ou quando muito, no dos nossos filhos.
Tudo, porque o conceito de sociedade se alterou com o progresso tecnológico e com a oferta escolar que alteraram por completo o paradigma e estabeleceram outro que longe de se afirmar estabelecido carece ainda de base histórica para que as sociedades mais conservadoras o aceitem e não o combatam.
Numa primeira leitura ao que acabo de escrever a esmagadora maioria dos que tiverem o trabalho de me lerem, discordarão do que digo e penso eu que a razão primeira será a de que tenderão a julgar o caso pelo binómio da igualdade de géneros e a necessidade de desmentir o que já há muito tempo é por todos pacificamente aceite que o cérebro das mulheres em nada difere do dos homens.
Há também que contar que no mundo há sociedades que são radicalmente diferentes da nossa e nas quais o elemento feminino é um caso de análise que é medido por outros conceitos onde as próprias mulheres defendem os conceitos históricos destas culturas.
Tanto palavreado para tão pouca novidade.
Ora, onde eu quero chegar é a coisa mais singela e que não necessita de grandiloquência para se contar.
Na minha rua havia tantos garotos e garotas, já agora, a minha mãe usava um vocábulo que não se afirmou, mas que era sintético q.b. para designar os dois géneros que quando nivelados por baixo eram um só, pois ambos traziam arrelia e algum cansaço, que se aliviava com um elevar do tom de voz e começava assim : -rais'parta os RAPARIGOS, que fartinha estou deles. Não morrerem todos que fazíamos uma festa. Ia ao Cura (restaurante) pedir uma grande, que fosse a maior e fazia uma chocolateira de café que me havia de consolar. Isto era o limite da arrelia!
Dito isto tudo à volta serenava, ela porque automaticamente concluía que estava a ir longe de mais, os raparigos, porque o tom de voz era pouco habitual e o instinto de conservação tinha sido acionado naturalmente. Chegados aqui falta dizer que só da parte dela havia nove raparigos a contabilizar e nas outras famílias por ali pertinho, mais um menos um, a diferença era pequena .
Minutos depois do vendaval, tudo voltava ao normal com beijos para os mais pequenos e olhares de ternura para os do meio, que já não eram necessitados de mariquices, mas ainda o eram de compreensão e de inclusão tácita. Os mais velhos, deixá-los lá que já trabalham como moirinhos.
Um dia um dos do meio foi acusado de haver feito mal a um cachorro que era vira-lata. A acusadora era uma solteirona das que nunca estão de bem com a vida nem com o próximo. Ouvida a lenga-lenga, foi despachada com um: -Deixe-o vir que vai levar uma coça que lhe vai ficar na lembrança. Foi-se ela chega o raparigo. Subiu e foi chamado à parte. Ouvido o recado a mãe começou a gritar como quem dá castigo, mas por falta de hábito o garoto não se queixava nem dizia, ai ai. Dizia então ela: -faz que choras Manelzinho, faz que choras. 
Chegados aqui está tudo dito. Deus escreve direito por linhas tortas, quanto amor, quanto, encoberto por pudor, por ato de educação, que era pouco propenso a mesuras. 
E eu, nós, frequentemente passando hoje na rua deparo com cenas de amor levadas ao extremo por senhoras que beijam os seus caniches e permitem que eles as lambuzem a elas e lhes chamam, meu querido e coisas mais meigas que, creio, são apenas os atos reflexos das mulheres terem naturalmente necessidade de darem amor e este, por falta de crianças estar mal direccionado.
Os cavalheiros tornam-se ridículos ao quererem imitar os Lords ingleses passeando os seus mastins, mas esquecendo de trazerem lacaio que apanhe os excrementos, que para eles é coisa indigna. Basta passar no perímetro da Braguinha, parque e traseiras do Hotel Íbis e também no corredor do Fervença para concluir que estão ao serviço da "cainzada".
Bem, adiante e pensemos na falta que fazem os RAPARIGOS ao equilíbrio das estatísticas e ao equilíbrio mental de alguns cavalheiros da High and Low Society que têm crescido para além do que as estatísticas que, tratam da Presunção e Vaidade, comportariam se os cuidados e amores fossem de novo direccionados para os RAPARIGOS e não à cainzada.

Penso eu de que ...





Paris, 19/07/ 2019
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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