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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 10 de abril de 2022

Um homem, uma escolha e uma raça salva

Miguel fundou a AEPGA (Associação para o Estudo e Proteção do Gado Burro), uma associação que protege a raça do Burro de Miranda, que já cuida de quase 60 burros.
 
Numa manhã fria, na região transmontana do Planalto Mirandês, no céu azul plana uma Águia-real (Aquila chrysaetos), Miguel Nóvoa caminha por esta paisagem com características ímpares, que durante anos de políticas de abandono e ostracismo profundo, se tornou um lar para este veterinário. Miguel Nóvoa fez o percurso inverso dos fluxos migratórios portugueses, saiu do litoral para o interior profundo desta região, uma das mais desfavorecidas da Europa, para abraçar a missão de salvar e proteger o Burro de Miranda. É no meio deste espaço cheio de vida, que Miguel nos revela o que o levou a apaixonar-se por esta raça que esteve quase a desaparecer e como dedicou a sua vida para preservar este animal tão especial.

Deixou o conforto do litoral, escolheu o interior esquecido de  Portugal, porquê esta escolha?  

Foi o gosto pela natureza. Só após viver cá é que podemos sentir esta sensação única e tão humana, que é viver em  harmonia com a natureza. Esta autenticidade presente aqui, acaba por ser uma paixão que me fez fixar aqui, inicialmente como jovem estudante a tentar lutar contra a extinção de uma raça. Senti que fiz a diferença, cumpri um papel na sociedade e contribui para o equilíbrio da coesão territorial nacional. Penso ser um pequeno exemplo de que também existe qualidade de vida no interior, pois tento promover um desenvolvimento económico associado à natureza, o chamado capital natural.

Como é que o seu percurso de vida o levou a desenvolver a sua paixão?

Vim de Esposende, uma cidade no litoral e fui estudar para Vila Real, onde existe uma forte ruralidade. Sempre estive ligado à recuperação e tratamento de animais selvagens, através de uma associação, que ajudei também a desenvolver, o Núcleo do Estudo e Proteção do Ambiente. Descobri o Parque Natural do Douro Internacional, uma região única de Portugal e, a partir daí, apaixonei-me pelo mundo rural e pelo mundo selvagem desta região.

E quando começou esta aventura com o Burro de Miranda?

Terminei o curso em 2001 com a ideia de trabalhar em Trás-os-Montes. Por coincidência, surgiu uma oportunidade de dinamizar um projeto que pretendia proteger da extinção esta raça particular, o Burro de Miranda, e apoiar à dinamização da AEPGA – Associação para o Estudo e Proteção do Gado Asinino.

Este animal é particular para si, mas o que o levou a apaixonar-se por ele?

É um animal extremamente dócil, esta foi uma das razões para ser uma das primeiras espécies a ser domesticadas. O burro terá sido o animal que convive há mais tempo com o Homem, há cerca de 6000 anos, pois é um animal que gosta do contacto com o Homem. É amistoso, de fácil trato, muito estoico e resistente, o que faz dele um animal particular. Para quem não conhece, tem de conhecer! O burro tem um potencial enorme como animal doméstico e de companhia para quem tem espaço para desfrutar da sua presença. É um animal que nos conquista com muita facilidade, um amigo, uma companhia. Conheço casos em que o burro sofre, fica deprimido pela morte do seu dono, e mesmo não falando a nossa língua, percebe-se as suas emoções. Impossível não me apaixonar por estes animais, porque eles são tão fascinantes, afetuosos e um excelente animal de companhia.

A dedicação ao associativismo não foi a escolha mais cómoda como veterinário.  Que retrospetiva tem sobre este percurso?

O trabalho associativo na área da proteção animal não deveria ser tão difícil, deveria existir outra forma de distribuição de fundos de desenvolvimento rural, é uma luta quotidiana para superar as nossas dificuldades. É preciso muita resiliência para conseguir ultrapassar tantos obstáculos e frustrações por não acreditarem naquilo que desenvolvemos. No entanto, o reconhecimento dos animais, das pessoas e das comunidades locais, compensa e faz-nos esquecer as coisas menos boas.

Esta sua longa missão de salvar e proteger o Burro de Miranda foi cumprida? 

Estamos no bom caminho! De facto, passando 20 anos, a raça do Burro de Miranda tem um futuro mais risonho. Há mais nascimentos, a população está mais rejuvenescida e espalhada pelo país e foi importante criar sustentabilidade económica associada à proteção desta espécie. A missão inicial de salvar o burro de Miranda foi cumprida, ajustamos novos objetivos. Inicialmente, a grande preocupação era salvar da extinção esta raça autóctone, hoje em dia, os grandes desafios são manter a qualidade de vida e o bem-estar deste e de outros animais. 

Luís Martins, Diogo Martins

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