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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 2 de agosto de 2022

A PÁTRIA E A LÍNGUA

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Quem, em Bruxelas, chegando à Praça Eugène Flagey, procurar um pequeno espaço triangular e ajardinado na confluência da Rue des Cygnes depara-se com um monumento de homenagem ao grande poeta e pensador português, Fernando Pessoa. Por baixo do busto está uma das suas frases mais célebres: “A minha pátria é a língua portuguesa”. 
Quando Pessoa a enunciou, a pátria lusa estendia-se pelas sete partidas do mundo e o postulado pessoano acrescentava-lhe o Brasil. Já então não havia coincidência entre as fronteiras fonéticas e administrativas e muito menos as há agora. Mas, mesmo que nos limitemos ao atual retângulo ibérico, berço da pátria e da língua, estamos a falar de duas realidades diversas. Na atualidade, ao português falado e reconhecido dentro dos limites administrativos nacionais é necessário juntar mais duas formas de expressão oficialmente reconhecidas: a língua gestual e a lhéngua mirandesa. Mas não só. 
Tendo embora a mesma origem, no reino da Galiza de onde se destacou o Condado Portucalense e se autonomizou o galaico-português, distinto do castelhano que tem vida e percurso autónomo como brilhantemente demonstrou Fernando Venâncio, a geografia e a fonética tiveram evolução bem diversa. A reconquista fez-se de norte para sul, sem grandes recuos, de forma consistente e persistente, indo à frente da língua. Já esta teve um percurso evolutivo, seguindo a rota aberta pela espada de D. Afonso Henriques e seus sucessores, expandiu-se mais lentamente e não resistiu à investida sulista que a condicionou e influenciou.
Em conversa recente com o Administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, Guilherme de Oliveira Martins, a propósito em um importante e relevante projeto lançado pela Associaçon de la Lhéngua i Cultura Mirandesa, o antigo Presidente do Tribunal de Contas fundamentava esta realidade com a forma diferente como em Portugal se pronunciam os “s”. 
Se a expansão linguística seguisse o mesmo trajeto que a conquista militar falaríamos todos “à maneira de Viseu” que é como, tradicionalmente, se fala no interior norte e na Galiza. Esta pronúncia não resulta de nenhuma simplificação ou “evolução” popular, antes, pelo contrário, sendo fiel à grafia, é erudita. A prová-lo a forma diferente como na região de Trás-os-Montes e das Beiras se diz o fonema “z” conforme resulta do z, propriamente dito ou do s entre vogais. Coser e cozer, não só têm significados diferentes, como diversa é a sua pronúncia. A propósito tive a oportunidade de lhe revelar como foi proveitoso, para resolver dúvidas de escrita, não só esse exemplo como outro, ainda mais óbvio: a forma como se diz o “x” e o “ch”. Neste caso sacho e enxada têm o mesmo significado mas a segunda sílaba, na nossa terra, pronuncia-se de forma bem diferente de acordo com o modo como se escreve.

José Mário Leite
, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance), Canto d'Encantos (Contos) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

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