Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Francisco António de Assis Pereira do Lago (1.º visconde das Arcas) - Os Governadores Civis do Distrito de Bragança (1835-2011)

 25.fevereiro.1886 – 16.janeiro.1890
MIRANDELA, 8.1.1844 – MACEDO DE CAVALEIROS, 2.2.1915

Proprietário.
Procurador à Junta Geral do Distrito de Bragança (186?). Deputado (1870-1871, 1905-1906).
Presidente da Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros (1871). Governador civil de Bragança (1886-1890 e 1897-1900).
Natural da freguesia de Cabanelas, concelho de Mirandela.
Filho de João Silvério de Sá Pereira do Lago, fidalgo da Casa Real, e de Matilde de Gouveia de Morais Sarmento.
Casou com Carolina Cândida de Almeida Morais Pessanha, de quem teve cinco filhos, Manuel Pessanha Pereira do Lago (n. 27.4.1868), Francisco de Assis Pessanha Pereira do Lago (n. 14.4.1869), José Silvério Pessanha Pereira do Lago (n. 1.1.1871), Beatriz Catarina Pessanha Pereira do Lago (n. 11.4.1874) e António dos Santos Pessanha Pereira do Lago (n. 1.11.1875).
Neto materno de João Evangelista Nogueira de Morais Sarmento, fidalgo da Casa Real e coronel de Cavalaria. Neto paterno de José Silvério de Sá Nogueira do Lago, das Casas da Ferradosa e da Castanheira. Genro de Manuel de Almeida Morais Pessanha, governador civil de Bragança, deputado e par do Reino.
1.º visconde das Arcas (11.12.1879). Fidalgo da Casa Real.

➖➖➖

Francisco de Assis Pereira do Lago nasceu no seio de uma das mais antigas e mais nobres famílias trasmontanas. Depois de completar os estudos liceais, preparava-se para partir rumo à Universidade de Coimbra, em 1859, quando, andando à caça com um grupo de amigos, disparou acidentalmente sobre si próprio, ferindo-se gravemente e levando-o a desistir do percurso académico.
Herdeiro de uma vasta fortuna, administrador do vínculo da Quinta das Arcas e abastado proprietário de Macedo de Cavaleiros, reforçou a sua condição económica e social ao casar, a 22 de julho de 1867, com Carolina de Almeida Pessanha, filha do antigo governador civil de Bragança, Manuel de Almeida Pessanha e única herdeira de todos os seus bens. Francisco Pereira do Lago foi então viver para a Quinta das Arcas, Macedo de Cavaleiros, propriedade do seu sogro, com quem manteria uma relação muito próxima.
Seria, aliás, Manuel de Almeida Pessanha a incentivar o genro a entrar na política pelo Partido Progressista, começando como procurador à Junta Geral do Distrito de Bragança, em finais da década de 1860, sendo de seguida eleito deputado, em 1870, para a legislatura de 1870-1871, pelo círculo de Macedo de Cavaleiros ( juramento a 21.11.1870). Na Câmara dos Deputados, limitou-se a apresentar alguns requerimentos acerca de questões relacionadas com interesses do círculo pelo qual foi eleito e a subscrever um projeto de lei no sentido de facultar o pagamento por trimestres e em prestações do imposto de contribuição predial e pessoal na província de Trás-os-Montes.
Terminada a legislatura, em 1871, foi nomeado presidente da Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros. Nesse mesmo ano, morria Manuel de Almeida Pessanha, tomando Francisco Pereira do Lago a responsabilidade e o dever de conservar e manter todas as tradições e costumes da Casa dos Pessanhas e de administrar o seu vínculo.
Em dezembro de 1879, por título vitalício concedido por D. Luís I, torna-se visconde das Arcas, e em agosto de 1881 enviuvou, passando a dedicar-se de forma mais intensa à benemerência, distribuindo pão, azeite, batatas e dinheiro aos habitantes mais pobres da região, e, em tempos de maior carestia, distribuindo diariamente sopa pelas crianças da povoação.
Foi nomeado governador civil do distrito de Bragança por decreto de 25 de fevereiro de 1886, tomando posse a 11 de março seguinte. A seu pedido, e ao contrário do que era prática corrente, não houve festejos na sua entrada na cidade de Bragança, por ter falecido, dias antes, a sua irmã Maria, vindo o novo governador, de acordo com relatos da época, “de luto pesado e tão triste e abatido, que metia dó nos primeiros dias do seu governo”.
Nestas funções, a 9 de setembro de 1887, participou na inauguração solene da linha férrea da Foz do Tua a Mirandela, tomando assento na mesa real, na companhia de D. Luís I e D. Maria Pia. Seria exonerado em 16 de janeiro de 1890, mas por decreto de 11 fevereiro de 1897, foi segunda vez nomeado para o Governo Civil de Bragança, tomando posse a 20 do mesmo mês e conservando-se em funções até 29 de junho de 1900. Foi assim o governador civil de Bragança que mais tempo esteve em exercício do cargo durante toda a Monarquia Constitucional.
Em 1898, foi eleito presidente da Assembleia-geral do Clube Brigantino e em 1905 tomou assento na Câmara dos Deputados pela segunda vez, para a legislatura de 1905-1906, desta vez pelo círculo de Bragança ( juramento a 8.5.1905), não se registando qualquer intervenção sua neste período.
Faleceu na sua propriedade das Arcas, Macedo de Cavaleiros, a 2 de fevereiro de 1915.

Um retrato biográfico do Visconde das Arcas por ocasião da sua nomeação como governador civil de Bragança (1886)

O visconde das Arcas tem muito do pai; o seu aspeto é um pouco mais triste à primeira vista, mormente depois que lhe morreu a esposa, de cuja falta ele jamais se consolará em toda a sua vida, pelo amor que lhe tinha.
O visconde das Arcas tem a mesma serenidade do pai, tem o juízo são e a inteligência clara, com bastante desprendimento, o que o torna uma pessoa verdadeiramente notável em muitas ocasiões.
Quando ultimamente foi nomeado governador civil do distrito, muito por motivos interesseiros, não cessavam de gritar que ele era um homem sem curso científico, e que deviam ter procurado outra pessoa; agora é possível que se vão convencendo, se o não estão já, de que ele, pelo seu bom senso, inteligência e dignidade que o acompanha, é homem ainda para mais, e que bem soube escolher quem lhe confiou a administração do distrito, nomeação com que foi surpreendido, pois nem ao menos lhe deram parte do que se ia fazer.
O visconde das Arcas recebeu a melhor das educações que se pode receber, a educação debaixo das vistas da família, que é e será sempre o melhor lapidário para polir e aperfeiçoar este diamante bruto que se chama homem social.
Nós vimo-lo pela primeira vez, aos 15 ou 16 anos, numas endoenças em Abambres: era já um mocinho tão apresentável e tão maneiroso, que fazia inveja a muitos outros educados nos melhores colégios de Lisboa.
Parece que aos pais lhes custava muito a deixá-lo sair de casa, por ser o mais velho, e como quem não queria nem precisava de ir conquistar cargos e fortunas à custa de estudos, como antigamente se iam conquistar às terras da mourisma, à custa de golpes e lançadas.
Apesar disto, a sua ida para Coimbra estava resolvida em 1859, e as malas já feitas para partir, quando andando à caça com uns primos e outros amigos, nas vésperas do dia designado para a partida, disparou casualmente um tiro em si, que o feriu gravemente no peito e na cara, pondo-lhe em bocados todo o maxilar inferior.
Era próximo da povoação, e foi levado a casa em braços pelos caçadores, sendo impossível de descrever a consternação e a dor de toda aquela extremosíssima família, ao ver ensanguentado e quase agonizante o filho extremado e o irmão querido de todos, uma existência que parecia finar-se e que fora, até então, a esperança da família inteira.
Sete meses depois de ter dado o tiro ainda era julgado em perigo de vida por uma junta de médicos, vindo afinal a curar-se dentro de poucos dias, desde que a própria mãe lhe extraiu um corpo estranho, destroços de roupa, que o tiro lhe tinha introduzido nos músculos do peito.
Foi preciso renunciar aos estudos em Coimbra ou em outra qualquer escola, sendo até os médicos da opinião que não poderia casar, o que, felizmente, mais tarde se verificou não ser verdade.
Como resultado do tiro, não sente hoje o visconde incómodo algum, apenas uma pequena prisão no falar, que só lhe conhece quem estiver muito habituado a vê-lo e a observar muito de perto.
É provável que o atual visconde não pensasse, por então, em casamento; mas Deus dispõe, e dali a 8 anos, a 22 de julho de 1867, recebia ele em matrimónio a viscondessa D. Carolina de Almeida Pessanha, filha do par do Reino Manuel de Almeida Pessanha, única herdeira de toda a sua fortuna, que então era talvez a primeira do distrito.
O casamento fizera-se por inclinação: a viscondessa, que tinha então 21 anos, afeiçoara-se- lhe numa visita que fez a Cabanelas, e ela própria participou ao pai a escolha que fizera, no dia em que voltou às Arcas, na presença do noivo e da pessoa que escreve estas linhas, antes de se sentar à mesa.
“Tu escolhes e eu aprovo”, foi a resposta do par do Reino, sem hesitar um instante, como quem era muito satisfeito com isso, e como quem se fiava inteiramente no juízo e descrição daquela que educara tão desveladamente, e sem olhar a despesas, tendo-a por alguns anos longe de si nos melhores colégios do Porto e Lisboa.
A família dos Pessanhas é hoje representada na política pelo Dr. Eduardo José Coelho, juiz de Direito de Beja, pelo Visconde das Arcas e pelo Dr. Albino Vaz das Neves, dos Cortiços. Deus fade bem a sua estrela, e que a sua influência benéfica qual era a dos Pessanhas, que se sacrificaram sempre pelo público, e que eram como o antigo Bayard – sans peur et sans reproche.
Francisco de Assis Pereira do Lago foi nomeado Visconde das Arcas em 1879 pelo Partido Progressista e nomeado governador civil substituto de Bragança, sendo agora nomeado efetivo neste ano de 1886, quando voltou ao poder o Partido Popular que, para bem do  País,não deveria ter saído dos Conselhos da Coroa.
O Partido Progressista tem no distrito de Bragança um homem dedicadíssimo no Visconde das Arcas, jamais enganará o Governo: se a situação política do distrito ou de alguns concelhos for passageiramente má, principalmente por causa dos bancos e da usura regeneradora, que aqui pesa desapiedadamente sobre o povo, ele nada encobrirá ao Ministério do Reino; nos seus ofícios e nos seus relatórios só irá a verdade nua e crua, como quem não quereria faltar a ela, nem por todos os governos civis do mundo.
A sua autoridade far-se-á sentir no distrito de uma maneira toda paternal, fazendo justiça a todos e servindo os correligionários e amigos naquilo que puder.
Como homem particular, dispõe o Visconde de grande influência, de uma influência legítima: a casa das Arcas, sempre de luto desde que morreu a Viscondessa em 24 de agosto de 1881, nos banhos da Foz, mas cujo cadáver o Visconde mandou transportar para as Arcas, e que ainda se acha por sepultar na capela da família, devidamente resguardado, aquela casa tão cheia de tristeza só toma galas e alegrias para fazer bem: durante o ano inteiro é aquela casa o celeiro comum da freguesia e das povoações vizinhas; pão, azeite e dinheiro, tudo ali vão buscar os pobres, para lhe pagar em serviço, quando pagam, e sem que sofram necessidade; durante os meses de carestia, abril e maio, faz-se sempre ali diariamente uma sopa abundante para as crianças da povoação e alguns anos manda-a também o Visconde distribuir na vila de Nozelos, cujo termo lhe pertence quase todo; as crianças vão em grande multidão comer a sopa todos os dias a casa do Visconde, riem e brincam nas escadas e pelos pátios, sem que ninguém o incomode, e uma criada é, às vezes, pouco para as servir; os pais e as mães vão ali pedir constantemente tudo o que precisam e todos ali se sentem bem, como que em sua casa. Sabido isto, não admirará que o Visconde tenha influência, e de que ele seja por estes sítios um dos melhores sustentáculos do Partido Progressista, que é o partido do povo.

Fonte: A Folha do Comércio, 11 de julho de 1886.

Fontes e Bibliografia
Arquivo Distrital de Bragança, Autos de Posse (1845-1928).
Diário da Câmara dos Deputados, 1870-1871, 1905-1906.
A Folha do Comércio, 11.7.1886.
ALVES, Francisco Manuel. 2000. Memórias arqueológico-históricas do distrito de Bragança, vol. VI e VII.
Bragança: Câmara Municipal de Bragança / Instituto Português de Museus.
GRANDE Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. III, Lisboa, 1935-1987.
MÓNICA, Maria Filomena (coord.). 2004. Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910), vol. II. Lisboa: Assembleia da República.
Geneall – Portal de Genealogia (disponível em geneall.net).

Publicação da C.M. Bragança

Sem comentários:

Enviar um comentário