(por Conceição Sousa e Silva)
A cultura do linho, para além de constituir um valioso recurso, cuja utilização ia do vestuário à medicina e culinária, ocupava um lugar de destaque na vida social e cultural de cada comunidade, rodeada como estava a sua produção em ritos e lendas, que ainda hoje fazem parte da memória colectiva das suas gentes.
Harmonizando o saber antigo, conservando nos gestos repetidos ao longo de gerações, com os novos caminhos da actualidade, a produção de trabalhos em linho representa um importante e valioso património cultural que luta pela sobrevivência com o aparecimento de tecidos modernos e de mais práticas e lucrativas formas de confecção.
As Fases do Linho:
O trabalho do linho passa por doze fases desde o cultivo até se tornar num fio pronto a tecer:
1. Semear: o linho é semeado na primavera, no fim de Abril ou Maio. Requer um terreno bem estruturado e preparado, primeiro com o arado, depois com a enxada e finalmente com a grade. Depois de semeado, o linho é regado com frequência e mondado até à colheita, normalmente em Junho.
2. Arrancar: em Junho a planta já está com a haste amarelada e é arrancada, quase sempre pela raiz.
3. Ripar: as plantas arrancadas trazem ainda a "baganha" (semente), que é preciso separar do caule. Esta operação é feita com os ripeiras ou ripanços, que podem ser de vários tamanhos e tipos. São colocados em cima de carros de bois, ou presos nos cabeçalhos dos carros. Vários homens trabalham passando as "manadas" de linho pelos dentes do ripeiro, de forma a tirar-lhes a "baganha". Esta guarda-se em sacos, depois de joeirada.
5. Secar: quando o linho está pronto, é retirado do rio e colocado a secar ao sol. Dispões-se em molhadas e aí permanece perto de quinze dias.
6. Malhar: uma vez seco, estende-se o linho na eira, onde é batido com molhos, preparando-o para a operação seguinte.
7. Macerar ou moer: o linho é moído num engenho formado por um tambor rotativo canelado em que engrena uma série de roletas, também canelados, dispostos a sua volta. Este engenho era movido por tracção animal. O linho é colocado em camadas de forma a cobrir completamente o tambor e, depois de um lado, é virado e moído do outro. De seguida é retirado e disposto em molhos.
8. Espadelar: ao sair do engenho, a parte lenhosa do linho vem partida , sendo necessário retira-la, bem como as partes mais grosseiras do linho. Nesta fase, o linho é batido com um cutelo de madeira, chamado espadela, em cima de uma tábua, chamada espadeladouro.
9. Assedar: depois de limpas as impurezas as fibras são separadas por cumprimentos e espessuras. As mais longas e finas formam o linho, as mais curtas e grosseiras, a estopa. Para isso usam-se os sedeiros, instrumentos com dentes de aço finos e serrados, nos quais se passam as estrigas de linho. A estopa que fica, antes de ser fiada tem que se submeter a outra operação. Em manadas a estopa é passada no restelo, uma espécie de pente largo de madeira com dentes de aço grandes e pontiagudos. Depois de "penteada" a estopa está pronta a ser fiada.
11. Barrelar: antes de dobrar e tecer as meadas é necessário branqueá-las. As meadas são embebidas em água dissolvida com cinza(esta cinza é obtida de madeira escolhida , tais como: casca de pinheiro, vide, oliveira e peneirada para não deixar passar os carvões).depois cozem-se as meadas no lume dentro de potes de ferro , juntamente com cinza e sabão. Fica a ferver o dia todo, juntando-se água sempre que preciso, para manter as meadas cobertas. No dia seguinte, retiram-se, deixando-se arrefecer e lavam-se. Seguidamente, coloca-se as meadas num "barreleiro"(cesto alto de trama muito apertada), cobrem-se com um pano. Vai-se deitando água a ferver e mantém-se o barreleiro quente durante vários dias. As meadas são depois novamente lavadas e postas a corar, repetindo-se a barrela e a cora alternadamente várias vezes. Finalmente põe-se a secar em paus ou arames e, quando secas, enrolam-se sobre si e guardam-se até serem dobradas.
12. Dobar e tecer: esta operação consiste em dobrar o fio das meadas para novelos, utilizando-se para isso a dobadoura. Temos assim, o fio pronto para fazer a urdidura da tela e o fio da trama. É então tecido num tear manual.
Maravilha. Recordei muitas cenas da minha infância em que minha mãe e minha avó executavam essas tarefas no processamento do linho
ResponderEliminar