Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 9 de maio de 2015

Menino Jesus da Cartolinha

Ainda hoje o mistério perdura. Quem é, de onde veio e onde se meteu depois esse menino, desinquieto, irritado e enigmático, que comandou o povo de Miranda do Douro contra os invasores espanhóis nas guerras da Restauração? Que existiu, existiu - assegura a memória do povo ao longo das gerações. Mas quem era ele afinal? Seria mesmo o Menino Jesus?
A tradição popular diz que sim. E hoje o "Menino Jesus da Cartolinha" impõe-se como um desses símbolos inapagáveis do imaginário transmontano. Um autêntico mito para os mirandeses. Quem o quiser ver pode encontrá-lo na catedral de Miranda do Douro. Ali continua, imponente, com a sua elegante cartola, vestes de oficial de cavalaria, espada a tiracolo e uma condecoração ao peito. E com ele também um guarda-roupa invulgar, consoante as "modas" no rolar dos tempos: desde uma capa-de-honras mirandesa, fardas, coletes, chapéus de todos os estilos, meias e meiotes de lã, camisas de finos bordados, até um variado conjunto de botas e tamancos de pau. Tudo promessas de devotos que ali vão num ritual secular.
Quanto à cartola, ou "cartolinha" no uso do povo, poucos hoje saberão que se trata, afinal, de um adereço artificial. O menino, que começou por ser conhecido como o "Menino do Chapeuzinho", o que usava na origem era nada mais que um simples chapéu de palha. Ainda hoje é possível ver na cabeça - assegurou-nos fonte credível - umas minúsculas perfurações que demonstram que outrora o menino usou cabeleira, entretanto arrancada para lhe assentar a cartola.
Na verdade, segundo a lenda - e que vale o que todas as lendas valem -, no tempo das guerras da Restauração, Miranda do Doutro esteve dias e dias cercada pelas tropas espanholas, ao ponto de, sem mantimentos nem munições para resistir, nada mais restar do que render-se definitivamente ao domínio invasor. E eis senão quando um menino de chapéu de palha, desconhecido, irrompeu pelas ruas gritando contra os espanhóis e apelando à revolta dos populares. Tal foi o bastante para que o povo ganhasse o alento que lhe faltava. Num ápice todos saíram à rua - uns com enxadas, ancinhos e forquilhas, outros com paus, cutelos e machados - unindo-se às tropas fragilizadas da restauração. E assim conseguiram afugentar e vencer os invasores. No final, o povo procurou o tal menino, travesso, refilão, o do chapeuzinho de palha. Queria louvá-lo. Vitoriá-lo. Mas quê? Onde estava? Quem era ele? Ninguém sabia. Tinha, pura e simplesmente, desaparecido.
O povo acreditou então que havia sido o Menino Jesus que ali caíra, por milagre, para salvar a cidade. E logo mandou esculpir a imagem que passou a ser venerada na catedral. Entretanto, uma jovem que, na mesma batalha, havia perdido o noivo, um oficial das tropas portuguesas, resolveu oferecer o traje militar ao menino. E daí nasceu a tradição da dádiva de roupas. Muitos anos depois, porque alguém achou que o chapéu de palha não condizia com a nobreza do traje, e tão-pouco com o "estatuto" de um comandante, colocaram-lhe então a cartolinha. E que bem que lhe fica!

Sem comentários:

Enviar um comentário