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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Carta ao Guilherme


Caro Guilherme, pareces-me um jovem bem-intencionado. Custa-me que te tenham posto a dizer coisas esdrúxulas na carta aos jogadores da seleção patrocinada pela empresa do homem mais rico de Portugal, ou, já não sei bem, aquele que vem logo a seguir ao mais rico, conforme os anos e as revistas que fazem as contas aos seus milhões.
Percebo que tu, sonhando ser médico ou biólogo, declares, neste tempo de incerteza, que só ficarás em Portugal “se valer a pena”. Mas preferia que expusesses as tuas condições para exercer a futura profissão de modo que valha a pena, sendo a primeira dessas condições o teu próprio compromisso e o da tua geração com o país que é o vosso.
Dizes aos jogadores: “Para muitos milhões de pessoas, Portugal são vocês”. Enganas-te. Por mais que as televisões se esforcem por nos convencer do que afirmas, uma equipa de futebol, mesmo a que representa Portugal num campeonato, é apenas uma equipa de futebol que nos pode dar, ou não, uma alegria momentânea. O teu futuro não se joga neste campeonato.
É falso que os “craques”, talentosos sem dúvida, - ainda que esteja por provar se serão uma equipa – e por isso milionários na sua maioria, tenham “nos pés” a possibilidade de “mudar em campo a opinião que o mundo tem de nós”. Eles têm a possibilidade de mostrar que Portugal tem uma boa seleção de futebol e nada mais. Compreenderia que lhes pedisses para não serem “fracos e preguiçosos”. Mas custa-me, Guilherme, que tu, ou, mais apropriadamente, a empresa patrocinadora e os publicitários que talvez tenham escrito essa carta, os desafiem a “mostrar que não somos fracos e preguiçosos”. Aos 14 anos, já deves saber que não precisamos disso.
Conheces, certamente, a fama dos portugueses emigrados, a esmagadora maioria dos quais não tem uma vida de estadão nem trataria por “você” o Presidente da República numa receção em Belém. Daqueles que nunca receberam nem receberão a Ordem do Infante, como aconteceu com a seleção de Sub-20, não por ter vencido, mas por ter ficado em 2º lugar no campeonato do mundo do ano passado. Àqueles, Guilherme, ninguém lhes chamou nem chamará “fracos e preguiçosos”. Pertencem ao povo que somos todos, os que partiram e os que ficaram, uns mais fracos e preguiçosos do que outros, como acontece com todos os povos. 
Daí que essas palavras nunca devessem ser ditas numa ação publicitária com propósitos patrioteiros, mas que se revela tosca e ignara, para dizer o mínimo. Escrever essas palavras, ainda que para as negar, é já assumir que o insulto, usado por outros com intenção política e má-fé, possa ser aplicado a um povo que, como dizes também, “não tem nada a provar” enquanto povo. Talvez outros, os seus dirigentes na política, nas instituições, nas empresas, tenham tudo a provar, mas isso já é outra conversa.
“Há um futuro para defender” dizes também. Mas ele não está nos pés dos jogadores da seleção. O futebol não fez nem fará pelo país nada do que pensas, ou te levaram a afirmar que pode fazer. Se o digo agora – e to digo a ti, caro Guilherme, esperando que não leves a mal este desabafo – é porque há bola a mais na nossa vida coletiva. E também por causa disso, convém recordar, já hipotecámos uma parte do teu futuro num campeonato como o que agora começou.


Fernando Madrinha
EXPRESSO – 9 de junho de 2012

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