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Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço.
A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)
(Henrique Martins)
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N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.
segunda-feira, 11 de junho de 2012
Carta ao Guilherme
Caro Guilherme, pareces-me um jovem bem-intencionado. Custa-me que te tenham posto a dizer coisas esdrúxulas na carta aos jogadores da seleção patrocinada pela empresa do homem mais rico de Portugal, ou, já não sei bem, aquele que vem logo a seguir ao mais rico, conforme os anos e as revistas que fazem as contas aos seus milhões.
Percebo que tu, sonhando ser médico ou biólogo, declares, neste tempo de incerteza, que só ficarás em Portugal “se valer a pena”. Mas preferia que expusesses as tuas condições para exercer a futura profissão de modo que valha a pena, sendo a primeira dessas condições o teu próprio compromisso e o da tua geração com o país que é o vosso.
Dizes aos jogadores: “Para muitos milhões de pessoas, Portugal são vocês”. Enganas-te. Por mais que as televisões se esforcem por nos convencer do que afirmas, uma equipa de futebol, mesmo a que representa Portugal num campeonato, é apenas uma equipa de futebol que nos pode dar, ou não, uma alegria momentânea. O teu futuro não se joga neste campeonato.
É falso que os “craques”, talentosos sem dúvida, - ainda que esteja por provar se serão uma equipa – e por isso milionários na sua maioria, tenham “nos pés” a possibilidade de “mudar em campo a opinião que o mundo tem de nós”. Eles têm a possibilidade de mostrar que Portugal tem uma boa seleção de futebol e nada mais. Compreenderia que lhes pedisses para não serem “fracos e preguiçosos”. Mas custa-me, Guilherme, que tu, ou, mais apropriadamente, a empresa patrocinadora e os publicitários que talvez tenham escrito essa carta, os desafiem a “mostrar que não somos fracos e preguiçosos”. Aos 14 anos, já deves saber que não precisamos disso.
Conheces, certamente, a fama dos portugueses emigrados, a esmagadora maioria dos quais não tem uma vida de estadão nem trataria por “você” o Presidente da República numa receção em Belém. Daqueles que nunca receberam nem receberão a Ordem do Infante, como aconteceu com a seleção de Sub-20, não por ter vencido, mas por ter ficado em 2º lugar no campeonato do mundo do ano passado. Àqueles, Guilherme, ninguém lhes chamou nem chamará “fracos e preguiçosos”. Pertencem ao povo que somos todos, os que partiram e os que ficaram, uns mais fracos e preguiçosos do que outros, como acontece com todos os povos.
Daí que essas palavras nunca devessem ser ditas numa ação publicitária com propósitos patrioteiros, mas que se revela tosca e ignara, para dizer o mínimo. Escrever essas palavras, ainda que para as negar, é já assumir que o insulto, usado por outros com intenção política e má-fé, possa ser aplicado a um povo que, como dizes também, “não tem nada a provar” enquanto povo. Talvez outros, os seus dirigentes na política, nas instituições, nas empresas, tenham tudo a provar, mas isso já é outra conversa.
“Há um futuro para defender” dizes também. Mas ele não está nos pés dos jogadores da seleção. O futebol não fez nem fará pelo país nada do que pensas, ou te levaram a afirmar que pode fazer. Se o digo agora – e to digo a ti, caro Guilherme, esperando que não leves a mal este desabafo – é porque há bola a mais na nossa vida coletiva. E também por causa disso, convém recordar, já hipotecámos uma parte do teu futuro num campeonato como o que agora começou.
Fernando Madrinha
EXPRESSO – 9 de junho de 2012
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