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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

A Maldição

Local: VINHAIS, BRAGANÇA
Informante: Guilhermino Bernardino Fernandes (M), 70 anos

Dizem os velhos transmontanos que um pai nunca deve rogar uma praga a um filho. Se o fizer amaldiçoará o seu próprio sangue e pagará caro por isso. Daí o ditado: “Anda a praga em redor e vai cair no rogador”. 
 Conta-se a propósito que há muitos anos havia em certa aldeia um homem muito severo que obrigava o filho a trabalhar sem descanso. Nem os dias sagrados o deixava respeitar. 
 Um dia, ao aproximar-se a festa em honra do santo da devoção do moço, este pediu ao pai que o deixasse ir à romaria. Mas o pai não aceitou, justificando que havia uma leira para regar, uma restolha para lavrar, um monte para queimar... 
 — Primeiro a obrigação e depois a devoção! — rematou o pai. 
 No entanto, o filho resolveu, pela primeira vez, contrariá-lo, dizendo-lhe que o trabalho podia fazê-lo depois, mas que a romaria era coisa de um só dia. O pai, perante a atitude do moço, rogou-lhe a seguinte praga: 
 — Se fores à romaria, que te danes como um lobo no mesmo dia! 
 Pior coisa não podia ter dito. No dia da festa o moço lá foi, mas já não voltou. Passados alguns dias, começou a falar-se que andava um lobo corpulento nas redondezas da aldeia e que, pela noite, entrava nos currais para comer os cordeiros. Como o aparecimento deste estranho animal coincidiu com o desaparecimento do rapaz, o pai lembrou-se da maldição que lhe havia lançado e, por isso, alguma coisa lhe dizia que esse lobo era o filho transformado em lobisomem. 
 Entretanto, os habitantes da aldeia, fartos de tanto desassossego causado pelo lobo, resolveram munir-se de cutelos e, noite após noite, foram à procura dele para o matarem. Ao aperceber-se disso, o pai do moço, muito aflito, foi confessar-se ao padre e pedir-lhe ajuda para salvar o filho. 
 — Ao amaldiçoares o rapaz fizeste o que de pior um pai pode fazer a um filho! — disse-lhe o padre. 
 — E que posso eu agora fazer para ajudá-lo? — perguntou o pai. 
 — Toma esta cruz, e, sempre que os homens da aldeia saírem para matar o lobo, vai com eles. Quando o atingirem com os cutelos, tu aproximas-te dele e colocas-lhe esta cruz sobre o sangue. 
 O homem assim fez. Quando o lobo tombou no chão com os golpes que apanhou, o homem foi sobre ele e colocou-lhe a cruz no momento em que exalava o último suspiro. 
 Diz o povo que, no mesmo instante, o lobo se transformou no belo rapaz que havia sido, e que ainda teve tempo de perdoar ao pai o mal que lhe fez. Dias depois o homem foi ter com o padre para lhe devolver a cruz. 
 — Leva-a contigo — disse-lhe o padre, — pois, ainda que te pese demais, terás de carregá-la o resto dos teus dias. 
 Não foram muitos. Conta o povo que o homem pouco mais durou, e que morreu roído pelos remorsos.

Fonte:PARAFITA, Alexandre Antologia de Contos Populares

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