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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

“Encomendação das Almas” - Algoso/Vimioso


A “Encomendação das Almas”, uma celebração associada ao culto dos mortos, e que em tempos se fazia na maioria das aldeias transmontanas, continua a ter expressão, todas as Sextas-feiras da Quaresma, a partir da meia-noite, em Algoso, uma aldeia histórica do concelho de Vimioso.
Um pequeno grupo de pessoas da aldeia teima em fazer sobreviver um ritual cuja origem, como a maioria das tradições, se perde no tempo e corre, como tantas, o risco de se perder.
Esta encomendação, que decorre obrigatoriamente a partir da meia-noite, junta lado a lado um pequeno grupo de homens e mulheres, que percorrem, noite dentro, todos os bairros da aldeia para lembrarem àqueles que “já dormem o primeiro sono” que é preciso rezar pelos mortos, que solicitam o auxílio dos vivos para a sua entrada no Paraíso.
Colocados em lugares estratégicos e agrupados num pequeno círculo, entoam um punhado de versos que, a distintas vozes e em ritmo afinado, a que se misturam um tom dolente e sinistro, dão vida às sonoridades de uma melodia que aprenderam dos avós.
“Acorda ó pecador / acorda não durmas mais / olha que se estão queixando / as almas dos vossos pais.” Dizem alguns dos versos das três estrofes de uma canção, que é também um alerta, ensaiada vezes sem conta algumas horas antes da saída, para ajudar a distrair do sono.
Feito com algum secretismo, o cerimonial acontece tardio. “Só vamos quando já todos estão a dormir, para depois os acordarmos e fazer com que aqueles que nos ouvem rezem pelas almas do Purgatório”, explica Ascensão Vicente.
Antigamente, diz Maria da Natividade, “só eram três pessoas, dois homens e uma mulher, e, como fazia muito frio, os homens iam muito tapadinhos, com aqueles capotes de burel”, e percorriam, mesmo às escuras, as ruas enlameadas da aldeia para poder levar a todos os recantos os versos da tradição. “Quando era nova, lembro-me bem de os ouvir da cama e a gente arrepiava-se com aquilo”, recorda Maria da Natividade.
Segundo Alfredo Carvalho, que apesar dos seus mais de oitenta anos ainda acompanha o grupo, “as pessoas que nos ouviam punham também à janela uma candeia ou uma vela acesa”. Hoje “convidam-nos a entrar em suas casas e oferecem-nos uma fatia de bolo, um copo de vinho ou bagaço para afinar a voz, e a gente agradece, porque as noites ainda estão muito frias”, diz Augusto Gouveia.
A rua da lagoa, o tronco, o pelourinho ou o barranco, são alguns dos pontos obrigatórios desta ronda nocturna, que se estende muitas vezes até às duas da madrugada para fazer chegar a encomendação a toda a aldeia.
“Os versos são muito antigos, foram os nossos pais e os nossos avós que no-los ensinaram, porque, desde novos, nos juntávamos a eles e fazíamos por aprender estas coisas”, recorda José Carlos Brinco.
No entanto, receiam que a tradição acabe por se perder, porque, lamenta-se Ascensão Vicente, “ao contrário da nossa, a geração de agora não quer aprender nada disto, os jovens já não põem fé a nada”.
Mas este ritual da “Encomendação das Almas”, que ainda vai sobrevivendo, não o faziam apenas em Algoso, deslocavam-se muitas vezes às aldeias vizinhas, como Vale de Algoso, ou mesmo à vila de Vimioso, “sempre que havia vagar”, conta Augusto Gouveia, que começou a participar nesta tradição aos dezanove anos.
Mas Algoso, que conserva ainda um invejável património arquitectónico, tem outras tradições quaresmais, como aquela que se realiza na Quinta-feira Santa e que leva os mais devotos a visitar todos os lugares sagrados da aldeia.
Cada um dos pequenos santuários é adornado de colchas brancas e flores pelas zeladoras e, ao início da tarde, individualmente ou em pequenos grupos, visitam, uma a uma, todas as capelinhas, num compasso onde as orações são ponto obrigatório. As Igrejas da Misericórdia, S. Roque e S. João são alguns dos santuários da visita, que termina na capelinha da Nossa Senhora do Castelo.

in:algoso.pt

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