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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Trindade Coelho - Uma Vida Exemplar, uma Obra Multifacetada

Nascido em Mogadouro em 18 de Junho de 1861, Trindade Coelho partiu cedo, por desejo próprio, a 9 de Junho de 1908.

Evocou-se, no ano de 2008, o centenário da sua morte em que a convergência de várias Instituições foi enriquecida para essa evocação.


Desde já várias autarquias: Mogadouro onde nasceu, a povoação de Travanca, então a 15 Km da sua terra natal, onde fez os estudos primários frequentando a escola régia dessa localidade com seu irmão, vivendo ambos em casa do professor, com fama de leccionar muito bem.


Por este facto foi afastado prematuramente da família, de que o seu temperamento sensível se ressentiu sempre, particularmente sentidas as saudades de sua mãe cuja morte decorreu durante essa estadia.


Porto e Coimbra foram cidades onde Trindade Coelho fez respectivamente os estudos secundários e o Curso de Direito. Como magistrado iniciou carreira no Sabugal. Em Portalegre exerceu a sua actividade durante quatro anos onde o jovem magistrado transmontano manteve a sua integridade, perante o caciquismo que tentava muitas vezes atar as mãos à justiça. Após transferência para Ovar, por período breve, foi finalmente colocado em Lisboa, último local da sua carreira numa fase política bastante acidentada em Portugal, na sequência do Ultimato Inglês. E ainda em Lisboa, viu-se temporariamente sem ocupação e numa situação angustiante, dado a extinção do tribunal onde realizava a ingrata tarefa de fiscalizar a imprensa de Lisboa. Foi posteriormente nomeado para Sintra, em 1895, num tribunal exclusivamente fiscal.


Em quatro campos distintos se situou a actividade de Trindade Coelho como escritor: o jornalismo, as obras de carácter jurídico, as de intervenção cívica e as de carácter propriamente literário.


Do seu livro “Os Meus Amores” (Contos e baladas) pareceu-nos interessante e oportuno, dado a abertura do ano escolar, transcrever o início do conto ” Para a Escola“, que certamente estará na lembrança de muitos leitores.


Este conto “Para a Escola” foi escrito por Trindade Coelho em Coimbra, no dia da sua formatura e termina esse conto evocando a sua dedicada ama Helena:


“…Helena, minha boa amiga! Acabo de chegar ao fim da viagem que principiei esse dia. Não volto mais à Escola! Venho hoje restituir-te, querida amiga, aquele beijo, dulcíssimo beijo aquele! – que tu então me deste.”


Maria Virgínia Rodrigues


PARA A ESCOLA


No velho casarão do convento é que era a aula. Aula de pri­meiras letras. A porta lá estava, com fortes pinceladas vermelhas, ao cimo da grande escadaria de pedra, tão suave que era um regalo subi-la. Obra de frades, os senhores calculam.,. Já tinha principia­do a aula quando a Helena entrou comigo pela mão. Fez-se um si­lêncio nas bancadas, onde os rapazes mastigavam as suas lições e a sua tabuada, num ritmo cadenciado e monótono, cantarolando. E ouviu-se então a voz da Helena dizer para o Sr. Professor, um de óculos e cara rapada, falripas brancas por baixo do lenço verme­lho, atado em nó sobre a testa:


- Muito bons dias. Lá de casa mandam dizer que aqui está a encomendinha.


Oh! Oh! A encomendinha era eu, que ia pela primeira vez à es­cola. Ali estava a encomendinha!


- Está bem, que fica entregue. E lá em casa como vão?


E, enquanto o velho professor me tomava sobre os joelhos, a Helena enfiava-me no braço o cordão da saquinha vermelha, com borlas, onde ia metido nem eu sabia o quê. Meu pai é que lá sabia… E ali estava eu entre os joelhos do Sr. Professor, com o boné numa das mãos e a saquinha vermelha na outra, muito com­prometido. A Helena, que sorria contrafeita, baixou-se para me dar um beijo e disse-me adeus.


Choraminguei, quis sair na companhia dela.


- Não, agora o menino fica – disse-me a Helena. – Isto aqui é uma escola onde se aprende a ler. – E agachando-se, diante de mim: – Olhe tanto menino, vê?


(Do livro os” Meus Amores” de Trindade Coelho)

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