Nascido em Mogadouro em 18 de Junho de 1861, Trindade Coelho partiu cedo, por desejo próprio, a 9 de Junho de 1908.
Evocou-se, no ano de 2008, o centenário da sua morte em que a convergência de várias Instituições foi enriquecida para essa evocação.
Desde já várias autarquias: Mogadouro onde nasceu, a povoação de Travanca, então a 15 Km da sua terra natal, onde fez os estudos primários frequentando a escola régia dessa localidade com seu irmão, vivendo ambos em casa do professor, com fama de leccionar muito bem.
Por este facto foi afastado prematuramente da família, de que o seu temperamento sensível se ressentiu sempre, particularmente sentidas as saudades de sua mãe cuja morte decorreu durante essa estadia.
Porto e Coimbra foram cidades onde Trindade Coelho fez respectivamente os estudos secundários e o Curso de Direito. Como magistrado iniciou carreira no Sabugal. Em Portalegre exerceu a sua actividade durante quatro anos onde o jovem magistrado transmontano manteve a sua integridade, perante o caciquismo que tentava muitas vezes atar as mãos à justiça. Após transferência para Ovar, por período breve, foi finalmente colocado em Lisboa, último local da sua carreira numa fase política bastante acidentada em Portugal, na sequência do Ultimato Inglês. E ainda em Lisboa, viu-se temporariamente sem ocupação e numa situação angustiante, dado a extinção do tribunal onde realizava a ingrata tarefa de fiscalizar a imprensa de Lisboa. Foi posteriormente nomeado para Sintra, em 1895, num tribunal exclusivamente fiscal.
Em quatro campos distintos se situou a actividade de Trindade Coelho como escritor: o jornalismo, as obras de carácter jurídico, as de intervenção cívica e as de carácter propriamente literário.
Do seu livro “Os Meus Amores” (Contos e baladas) pareceu-nos interessante e oportuno, dado a abertura do ano escolar, transcrever o início do conto ” Para a Escola“, que certamente estará na lembrança de muitos leitores.
Este conto “Para a Escola” foi escrito por Trindade Coelho em Coimbra, no dia da sua formatura e termina esse conto evocando a sua dedicada ama Helena:
“…Helena, minha boa amiga! Acabo de chegar ao fim da viagem que principiei esse dia. Não volto mais à Escola! Venho hoje restituir-te, querida amiga, aquele beijo, dulcíssimo beijo aquele! – que tu então me deste.”
Maria Virgínia Rodrigues
PARA A ESCOLA
No velho casarão do convento é que era a aula. Aula de primeiras letras. A porta lá estava, com fortes pinceladas vermelhas, ao cimo da grande escadaria de pedra, tão suave que era um regalo subi-la. Obra de frades, os senhores calculam.,. Já tinha principiado a aula quando a Helena entrou comigo pela mão. Fez-se um silêncio nas bancadas, onde os rapazes mastigavam as suas lições e a sua tabuada, num ritmo cadenciado e monótono, cantarolando. E ouviu-se então a voz da Helena dizer para o Sr. Professor, um de óculos e cara rapada, falripas brancas por baixo do lenço vermelho, atado em nó sobre a testa:
- Muito bons dias. Lá de casa mandam dizer que aqui está a encomendinha.
Oh! Oh! A encomendinha era eu, que ia pela primeira vez à escola. Ali estava a encomendinha!
- Está bem, que fica entregue. E lá em casa como vão?
E, enquanto o velho professor me tomava sobre os joelhos, a Helena enfiava-me no braço o cordão da saquinha vermelha, com borlas, onde ia metido nem eu sabia o quê. Meu pai é que lá sabia… E ali estava eu entre os joelhos do Sr. Professor, com o boné numa das mãos e a saquinha vermelha na outra, muito comprometido. A Helena, que sorria contrafeita, baixou-se para me dar um beijo e disse-me adeus.
Choraminguei, quis sair na companhia dela.
- Não, agora o menino fica – disse-me a Helena. – Isto aqui é uma escola onde se aprende a ler. – E agachando-se, diante de mim: – Olhe tanto menino, vê?
(Do livro os” Meus Amores” de Trindade Coelho)
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