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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Pastor de Penedos


O gado já não saia ao monte há três dias.
Ovelhas e cães rafeiros juntavam-se em um só ganido.
Era o reino da fome.
A febre tinha aumentado e
o chá de ervas da tia Adília, apenas tinha molhado a garganta e feito permanecer a esperança.
Tossindo e espirrando, naquela manhã de domingo apenas eu tinha ficado à lareira. Missas haveria outras...
O escano de castanho como trono da miséria.
Ardia um madeiro de carvalho.
Na semi-penumbra da casa de lavradores, economizava-se o azeite da candeia.
Com o calor da lareira, a dura madeira do escano, luzidia de tanto uso, tornava-se confortável.
Do alto pendiam, alheiras, salpicões, linguiças buchos e presuntos tal como pendia outrora da macieira o fruto do pecado.
Tinha sim engolido à pressa um cibo de broa, três figos da Terra Quente, e um trago de bagaço.
O olor do fumeiro turturava-me as entranhas.
Tinha dito a mãe que ali não se tocava, o salpicão de Valpaços era já conhecido em todo o país.
Havia de comprar as batatas para a sementeira, duas sacas de trigo, enxofre para as vinhas…
-Será que os haviam contado?
…na alegria das matanças, enchia-se a tripa até mais não dar
naquele tempo, pouco se ia a escola
talvez nem soubesse contar…
…é que, quando vinha carta de Macau do tio Alberto, pedia sempre para eu ler
devagarzinho, soletrando cada palavra,
palavras de um longe desconhecido, só conhecidas de quem fugia a terra.
-Talvez nem tivesse contado !
…vencido pela febre, o desejo quase carnal, peguei na vara mais comprida ali à mão e levei à lareira.
A ponta rubra da vara era então brilhante como a estrela cintilante de uma varinha de condão :
pela primeira vez da minha vida, senti na minha mão o poder do fogo, um igual de Hephaistos!
Era tempo de assar à pressa.
...é que o senhor padre não se atardava com sermões de aldeia...

Carlos Tronco

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