Filme português de Rui Simões, um documentário histórico de longa-metragem que descreve a situação social e política de Portugal entre o 25 de Abril de 1974 e o 25 de Novembro de 1975, «tal como ela foi sentida pela equipa que, ao longo deste processo, foi ao mesmo tempo espectador, actor, participante, mas que, sobretudo, se encontrava totalmente comprometida com o processo revolucionário em curso (PREC)».
Estreou em Lisboa nos cinemas Estúdio e Quarteto a 18 de Novembro de 1981.
Ficha técnica:
Argumento: Rui Simões
Realizador: Rui Simões
Produção: Cooperativa Virver
Texto: Teresa Sá
Narrador: José Mário Branco (voz over)
Formato: 35 mm p/b
Género: Documentário histórico
Duração 135'
Distribuição: Cooperativa Virver
Antestreia: 9º Festival Internacional de Cinema da Figueira da Foz (1980)
Sinopse
Portugal entre dois momentos históricos cruciais. O PREC: entre o dia 25 de Abril de 1974 e o dia 25 de Novembro de 1975.
A Revolução dos Cravos e o Primeiro Governo Provisório. As manifestações do PS e do PCP. António de Spínola e o «bom povo». O direito à greve. Camponeses e operários, os campos e as fábricas. Vasco Gonçalves, as coligações políticas e o MFA. Mário Soares perante a contaminação fascista da administração pública. Álvaro Cunhal e o Portugal democrático e independente. Os actos de repressão pela GNR, as manifestações pela descolonização. A radicalização da vida política: o 28 de Setembro, o 11 de Março, o caso Torrebela. As ocupações de prédios abandonados, a Reforma Agrária, o Norte e o Centro, Os Três Efes: Fátima, Futebol e Fado. Os retornados. Os avanços da social-democracia. Os casos do jornal República e da Rádio Renascença Os recuos do PS na revolução democrática. Os ataques a sedes dos partidos de esquerda. A Santa da Ladeira, a prisão de Otelo Saraiva de Carvalho e a entrada em cena de Ramalho Eanes.
Enquadramento histórico:
Bom Povo Português é um filme que cobre os acontecimentos sociais e políticos de um momento crucial da história de Portugal. É por isso um filme histórico. Assume-se porém como filme de intervenção, na linha do cinema militante, amplamente praticado durante a Revolução dos Cravos, inspirado pelos ideais de Maio 68 e por Jean-Luc Godard, na sua fase maoista. O filme de intervenção caracteriza-se por implicar uma tomada de posição ideológica perante a injustiça social, tomada de posição essa que intencionalmente é explícita, sendo geralmente implícita e ténue em obras que não se assumem como tal, mesmo quando o propósito interventivo existe, mas não transparece.
Fernando Solanas define assim o género: «Utilizar o cinema como uma arma ou uma espingarda, converter a própria obra num facto, numa acto, numa acção revolucionária» (Cinema fora do sistema, entrevista com Godard em Cinema Arte e Ideologia -- antologia de A. Roma Torres, pág. 257, ed. Afrontamento, Porto, 1975), Rui Simões, como muitos dos cineastas portugueses dessa época, serve-se da câmara como uma arma, algo que, na arte ou na cidadania, pode ser considerado imperativo ético e legítimo recurso: Godard e outros bem se esforçaram por o demonstrar e hoje em dia, como sempre, vários movimentos cívicos que se afirmam como idóneos e progressistas fazem cinema de intervenção. Em língua inglesa cabe na designação, mais lata, de cinema político.
O documentário Bom Povo Português ilustraria, como pano de fundo, realidades invocadas por outros filmes portugueses também presentes, em 1980, no 9º Festival Internacional da Figueira da Foz: realidades do passado, anteriores à Revolução dos Cravos, invocadas por Cerromaior (filme) e Manhã Submersa e outras, relacionadas com a revolução, aludidas por A Culpa, Verde por Fora, Vermelho por Dentro, Kilas, o Mau da Fita e Oxalá.
Sem comentários:
Enviar um comentário