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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Lúpulo em vias de extinção, Os baixos preços de mercado podem acabar com a cultura no distrito de Bragança

O lúpulo já foi a cultura de maior rentabilidade no distrito de Bragança, mas a crise que afecta a agricultura, associada aos preços baixos que se praticam no mercado, estão a asfixiar a produção.

Contudo, ainda há produtores no Nordeste Transmontano que lutam contra a crise, com todas as armas que têm, para não deixarem o lúpulo desaparecer da região.
No distrito de Bragança, esta cultura chegou a ocupar 117 hectares. A produção era tão elevada que mobilizava um grande número de pessoas, principalmente aquando da apanha.
Nos primeiros anos em que se produziu lúpulo em Trás-os-Montes, entre 1962 e 1976, a apanha desta planta era feita, essencialmente, por pessoal jovem, na sua maioria estudantes, que aproveitavam as férias para amealharem alguns tostões.
Luís Tomé é natural de Bragança e dedicou a sua vida à agricultura, nomeadamente ao cultivo do lúpulo. “Conheço o fado do lúpulo desde os meus 15 anos. Nessa altura era tudo feito manualmente, desde a plantação até à apanha”, recorda o jornaleiro.
Este agricultor recorda a grande quantidade de pessoas que se reuniam no mês de Agosto, altura em que se efectuava a colheita.
“Muitas vezes juntavam-se às 20 pessoas para ganharem alguns tostões no lúpulo. Nessa altura este produto dava dinheiro…”, relata Luís Tomé.

De Bragança para as cervejeiras

Durante os anos de expansão das plantações, foram muitos os agricultores do Nordeste Transmontano que se dedicaram a esta colheita.
“A maioria dos agricultores de Bragança produziam lúpulo. Chegaram-se a produzir cerca de 200 toneladas, enquanto que actualmente só se produzem apenas 20”, refere Sá Morais, um dos produtores mais antigo da região.
Actualmente, existem oito campos de lúpulo no distrito de Bragança. As produções de Quintanilha, Zoio, Pinela, Vinhas e Gimonde são as únicas resistentes.
Sá Morais recorda os tempos em que o lúpulo era um sucesso, mas é com mágoa que encara a realidade da extinção desta planta, não só na região transmontana, como também em todo o País.
“As únicas regiões do País que produziam esta cultura era Bragança e Braga. Durante muitos anos estas duas zonas abasteciam a indústria cervejeira portuguesa e os excedentes ainda tinham escoamento garantido no mercado alemão”, salienta o produtor.

Lúpulo era altamente rentável

A Lupulex era a empresa responsável pela recepção do lúpulo produzido pelos agricultores de Bragança e de Braga, cabendo-lhe o escoamento da mercadoria para o mercado.
“Nesta altura a comercialização tinha um preço que proporcionava aos agricultores terem os seus lucros. A produção de lúpulo era considerada uma das mais rentáveis no concelho de Bragança”, recorda Sá Morais.
No entanto, a concorrência “desleal” de alguns países que operam no mercado europeu, nomeadamente a China, estão a desmotivar os produtores transmontanos.
Esta realidade é testemunhada por um jovem de Gimonde, no concelho de Bragança, que decidiu seguir os passos do pai, para não deixar morrer esta cultura tradicional.
“Para cultivar lúpulo, actualmente, é preciso gostar mesmo desta planta. É muito complicado competir com países onde têm pessoas a trabalhar um dia inteiro a troco de uma tacinha de arroz”, lamenta Luís Sá, referindo-se à China.
Contudo, a realidade portuguesa é bem diferente. A crise económica que se faz sentir, aliada à subida dos preços, está a colocar os agricultores numa situação difícil de aguentar.

Cervejeiras baixam preços

“O lúpulo é uma cultura bastante exigente em adubações, em pesticidas, em água e em mão-de-obra. Por isso, estamos numa situação muito complicada, primeiro porque os preços dos adubos e dos pesticidas não param de aumentar, em segundo porque estamos perante um ano de seca”, recorda Sá Morais.
Para acentuar as dificuldades que se atravessam, o produtor dá um exemplo. “Só para ter uma ideia que esta cultura tem os dias contados, basta verificar o decréscimo dos preços de mercado. No ano passado, o quilo de alpha puro de lúpulo foi-nos pago a 42 euros, este ano a Indústria Cervejeira baixou o preço para 30 euros”, assegura o produtor.
Apesar do decréscimo do preço, a qualidade do lúpulo produzido na região de Bragança tem vindo a aumentar e as variedades produzidas têm acompanhado as exigências do mercado.
A alteração dos gostos dos consumidores de cerveja levou os produtores do distrito de Bragança a renovarem as suas plantações de lúpulo. Os agricultores foram obrigados a produzir uma variedade de lúpulo diferente, com uma quantidade de graus alpha mais elevado.

Estado atrasou subsídios

Esta situação levou muitos homens da terra a abandonarem a cultura, devido aos custos elevados que esta modificação acarretava.
Cruz Oliveira, engenheiro da Zona Agrária de Bragança, aponta como causas do declínio da produção de lúpulo a falta de investigação e a inércia do Estado.

“Para se substituir a qualidade que já não tem cotação no mercado por uma nova variedade distam entre três a cinco anos, pelo que era necessário estabelecer protocolos financeiros, para auxiliarem os agricultores”, considera o engenheiro agrónomo. Contudo, acrescenta o técnico, “o Estado acabou por conceder esses subsídios, mas com um atraso tal que a grande maioria dos produtores não conseguiu sustentar-se e abandonou essa cultura”.
Perante a época de crise na produção do lúpulo, a empresa que recebia este produto foi obrigada a fechar as portas.

Bralúpulo resiste

A braços com dificuldades, a Lupulex pôs o seu património à venda. Mas, os agricultores mais resistentes uniram-se e formaram a Associação de Produtores de Lúpulo de Bragança (Bralúpulo) que, para além de defender os interesses dos agricultores, acabou por comprar as instalações da Lupulex.
Os “amantes” da produção do lúpulo lutaram com todas as armas para não deixarem morrer esta tradição e, actualmente, continuam a trabalhar para manterem o funcionamento da Bralúpulo, situada junto ao Centro de Educação Especial de Bragança.
Os produtores mais antigos procuram passar o “bichinho” aos mais novos, para que os campos de lúpulo continuem a embelezar as paisagens do Nordeste Transmontano.
Luís Sá é filho do produtor mais antigo de Gimonde e confessa que não vai deixar morrer a cultura que preencheu a vida do seu pai.
“Desde miúdo que acompanho a cultura do lúpulo. Aquilo que mais me fascina é a magia desta planta, que se tiver a temperatura e a humidade adequadas chega a crescer 25 centímetros por dia, até atingir cerca de sete metros de altura”, enfatiza o jovem produtor.
Face à situação de crise que abala esta cultura, Sá Morais garante que a Bralúpulo vai fazer novos estudos de mercado para tentar colocar o lúpulo transmontano no mercado externo a um preço mais elevado. O objectivo é retirar mais rendimento da cultura, tal como acontecia nas décadas de 60 e 70.

in:diariodetrasosmontes.com

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