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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O último oleiro do Felgar

Sebastião Rebouta dá continuidade a uma arte de família que tem passado de geração em geração

Longe vão os tempos em que a família Rebouta, natural do Felgar, concelho de Torre de Moncorvo, passava os dias a moldar diversas peças em barro, que eram utilizadas na cozinha tradicional. A substituição do barro pelo ferro levou ao declínio da olaria, pelo que, actualmente, Sebastião Rebouta é o único oleiro no sul do distrito de Bragança.
Este artesão vai trabalhando, apenas, para manter a tradição da sua família. Abraçou o ofício desde tenra idade, altura em que começou a ajudar o pai a fazer testos e recebia um tostão por cada peça. Com o passar dos anos foi aprendendo a moldar peças de diversas formas e feitios, mas, actualmente, vê a sua arte à beira do fim, uma vez que não tem seguidores.

Recorde-se que o Felgar foi o centro de maior exploração da indústria artesanal da olaria. Em pleno século XVII e XVIII, os três fornos de louça coziam peças que abasteciam os concelhos de Moncorvo, Carrazeda de Ansiães, Freixo de Espada à Cinta, Alfândega da Fé e Vila Nova de Foz Côa.
Os alguidares, cântaros, canecas, jarros, púcaros e vasilhas eram algumas das peças que saíam da fábrica do Felgar, onde também se fabricavam artefactos microcerâmicos de carácter etnográfico.

O processo de transformação do barro e o peso e evolução da olaria no Felgar foram estudados por Liliana Reis, aluna do 4º ano de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, que chegou à conclusão que esta arte se encontra em vias de extinção.
A extracção do barro nas proximidades das margens do rio Sabor também é tarefa do oleiro, que, antes de conceber a peça, recolhe a matéria-prima e prepara-a para entrar na roda, que é onde os objectos ganham forma.

Com 60 anos de idade, o último oleiro do Felgar tem nas suas mãos o futuro de uma arte que fez história no concelho de Torre de Moncorvo

A secagem, trituração, peneiração, o amassar e o fingimento do barro são as tarefas que antecedem a execução dos utensílios. Após a criação de cada objecto, o oleiro decora-o, seca-o e coze-o num forno de lenha.

Antigamente, o barro era transformado em várias formas desde a malga, aos alguidares e, até, cinzeiros. Agora, os utensílios de barro foram substituídos pela louça de ferro fundido ou esmalte e os oleiros dedicam-se, essencialmente, à criação de peças para decoração.
Segundo o encarregado do Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, Nelson Campos, a essência da olaria do Felgar foi-se perdendo ao longo dos anos. Actualmente, esta arte está nas mãos de um oleiro com mais de 60 anos, que vai criando as suas peças num atelier improvisado.

O responsável realça, ainda, que Torre de Moncorvo foi palco de cursos de formação nesta área, financiados pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional. No entanto, nenhum dos formandos quis dar seguimento à arte, que se encontra mais comprometida do que nunca. “ O principal local de extracção do barro ficará submerso com a construção da barragem do Baixo Sabor”, lamenta Nelson Campos.

Peças históricas levadas pelos espanhóis

Para imortalizar a arte que fez história no Felgar, o PARM - Projecto Arqueológico da Região de Moncorvo quer criar um núcleo museológico dedicado à olaria nesta localidade.
Segundo Nelson Campos, os espanhóis andam pelas aldeias do concelho de Torre de Moncorvo a apanhar objectos de barro sem qualquer identificação de origem.
“São peças arqueológicas quer fazem parte da nossa história, pelo que devem ser conservadas e preservadas num espaço próprio”, salienta o responsável.
Os objectos que, outrora, foram concebidos na fábrica do Felgar são procurados por indivíduos espanhóis que oferecem tachos de esmalte em troca destas relíquias.
“Corremos o risco de perder, para sempre, este pedaço de história. Por isso, temos que agir antes que seja tarde demais”, reconhece Nelson Campos.

in:diariodetrasosmontes.com

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