A criação de uma rota do turismo judaico em Trás-os-Montes é uma ideia lançada há vários anos que um investigador da cultura judaica considerou hoje continua por concretizar devido ao espírito de “capelinhas” na região.
António Júlio Andrade estuda há 20 anos a herança judaica na região transmontana com uma dezena de livros e publicações em revistas do trabalho que tem desenvolvido em parceria com a investigadora Maria Fernanda Guimarães.
O investigador transmontano foi assistir hoje ao congresso internacional que durante quatro dias aborda a temática, em Bragança, e realçou o que se tem feito para a preservação da memória do judaísmo na região, mas lamentou a falta de trabalho conjunto que tem adiado a criação de uma rota para mostrar o que existe.
“Nós em Trás-os-Montes vivemos muito à base de capelinhas. Inaugura-se um museu em Carção (Vimioso) e ninguém lhe liga, praticamente passa o lado. Miranda do Douro tem uma história fantástica de judaísmo e não ligam, em Moncorvo, Vila Flor, Chacim (Macedo de Cavaleiros)”, concretizou.
O investigador apontou realidades diferentes como Belmonte e a articulação com a Guarda na divulgação da herança judaica e lamentou que o mesmo não aconteça na região de Trás-os-Montes.
A ideia da criação de uma rota turística nesta região foi apadrinhada por alguns municípios e tinha sido o impulso para o trabalho de pesquisa que António Júlio iniciou enquanto diretor de um jornal regional, o Terra Quente.
Ao longo de duas décadas, já leu “mais de mil processos da Inquisição”, durante a perseguição religiosa aos judeus na Península Ibérica e garante que “nesses processos há muitas coisas que as pessoas nem imaginam”.
“A nossa história tem de ser remodelada por completo, temos encontrado factos fantásticos”, defendeu, apontando que foram os judeus “que construíram os primeiros lagares de azeite, que se dedicaram às indústrias de aguardentes, à hotelaria” e deixaram, uma “herança a nível da economia, dos hábitos das pessoas”.
“Devagarinho”, como afirmou, esta herança vai sendo valorizada, mas com algumas falhas.
Apontou a data que não foi assinalada do centenário do nascimento de Jacob Rdorigues Pereira, inventor do alfabeto de surdos – mudos, que era filho uma família criptojudaica portuguesa de Chacim.
“Vamos pensar nisso”, foi a resposta do presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, quando questionado sobre a anunciada e adiada criação da Rota do Turismo Judaico.
O município apoia o evento internacional “Terras de Sefarad” sobre culturas serfardita e judaica que, entre hoje e domingo, congrega, em Bragança, um congresso internacional, exposições, concerto, cinema, e mercado de produtos Kosher.
“Há aqui muita gente que tem conhecimento, que pode dar uma ajuda nessa matéria e nós estamos abertos ao diálogo para podermos depois trabalhar no terreno aquilo que podermos”, afirmou.
Agência Lusa
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