I- Linhas de força e reflexão em torno de um Programa de Ação: o que é possível fazer em Angueira e pelo concelho
1- Uma explicação
Desta vez, opto por escrever em Português. E a razão é muito simples: não se trata, agora, de relembrar estórias e situações vivenciadas, num passado mais ou menos longínquo, pela gente de Angueira; trata-se, isso sim, de desenvolver uma reflexão e explanar um conjunto de ideias que traduzem uma forma de perspetivar e de, assim, dar um contributo para a melhoria do futuro da aldeia e do concelho. Neste quadro, o que mais importa é que tais ideias sejam acessíveis a todos os potenciais leitores. No entanto, porque em Angueira se mantém a antiga toponímia, optei também por, ao longo do texto, utilizar a designação dos sítios do respetivo termo em Mirandês.
2- Princípios subjacentes ao Programa de Ação
* A política, no sentido etimológico e mais nobre do termo, respeita ao governo da cidade, ou melhor, de qualquer localidade (aldeia, vila, cidade), concelho, região ou país.
* Um filho de qualquer terra tem, em relação a ela, a obrigação de cuidar e tudo fazer para manter e não deixar degradar nem destruir o seu património.
* O património é o legado deixado pelos antepassados e que qualquer localidade, concelho, região ou país tem de mais genuíno. Conferindo-lhe uma identidade própria, é o que culturalmente os distingue em relação aos demais.
* O património condensa a cultura da comunidade, o conjunto de aquisições por ela realizadas ao longo da sua história, no processo de adaptação às condições naturais do seu espaço vital, bem ainda as relações de familiaridade e convivência, de troca e partilha de bens, de experiências e saberes entre os seus membros estabelecidos em tal processo.
* O património é aquilo que há de mais genuíno e melhor traduz as formas de pensar, sentir e agir, ou seja, a vida e a alma da gente. Comportando várias dimensões, podemos nele distinguir o material do imaterial, o natural do cultural, o público do privado.
* O património privado é um legado familiar, cabendo em vida do respetivo titular administrá-lo e preservá-lo de forma a poder transmiti-lo à posteridade.
* O património edificado – casas, incluindo as do moleiro, moinhos e os próprios açúdes e calendras –, ainda que privado, interessando a toda a comunidade, é também um bem de interesse público. Se a sua preservação é, em primeira instância, obrigação do respetivo titular, é-o também, subsidiariamente, dos órgãos de ação política e representativos da comunidade.
* Pensar globalmente, agir localmente… Este princípio, que traduz a necessidade de encontrar soluções locais para problemas que são globais, remete para a ideia de ser pela nossa casa, ou seja, pela localidade onde vivemos que é preciso começar, na convicção de que as demais farão o mesmo.
* O Poder Local democrático corresponde à criação de uma relação política que, apesar de diferente da mercantil, pressupõe também a celebração de um pacto, ainda que tácito, entre o(s) cidadão(s) e o(s) autarca(s), assente no compromisso do(s) eleito(s) promover(em) o desenvolvimento local. Para o efeito, quando da eleição e antes da decisão, o(s) autarcas deve(m) auscultar e os cidadãos manifestar-lhe(s) os seus principais anseios. Uma vez eleito(s), o(s) autarca(s), não se limitando a dar voz a si mesmo(s), fica(m) vinculado(s) ao dever de representar, respeitar e defender os interesses de todos os eleitores.
* O aprofundamento da relação política democrática tende a levar os cidadãos eleitores a tornarem-se cada vez mais exigentes em relação aos autarcas que elegem, o que pode traduzir-se na apresentação de uma espécie de caderno de encargos, contemplando os seus principais anseios em relação ao que desejam para a sua terra e que os candidatos autárquicos se comprometem a adotar e a prosseguir depois de eleitos.
* Recusando o maniqueísmo, nem tudo se reduz a ser branco ou preto. Entre os extremos desta polaridade cromática, os próprios daltónicos, apesar de não poderem vislumbrar o resto da paleta de cores, conseguem, contudo, descortinar, consoante as cambiantes, a intensidade e a predominância de um ou de outro, a variância, mas também a identidade semântica, das tonalidades de cinzento que se lhes intercalam.
* Os políticos não são santos nem diabos, são pessoas. Partilhando as virtudes e os defeitos intrínsecos à humana condição, não podem, contudo, abdicar de marcar e orientar a sua ação por valores e princípios e seguir a ética de serviço público. Recusando quaisquer formas de despotismo, maquiavelismo, caciquismo e nepotismo que não são admissíveis, têm de prosseguir o interesse público.
3- Obra realizada pelo Poder Local democrático
Ao longo dos últimos mais de 40 anos de Poder Local democrático em Portugal, as Juntas de Freguesia e a Câmara Municipal de Vimioso foram da responsabilidade política oscilante entre dois partidos políticos: o PS e o PSD. Assim, foram sendo realizadas obras e adotadas medidas que se traduziram na melhoria de condições de vida da população das freguesias e do concelho: abastecimento de água, saneamento básico, recolha seletiva de lixos domésticos e iluminação pública; rede viária, com a construção de estradas municipais, arranjo e (re)pavimentação de ruas e de caminhos rurais; construção do Parque Industrial, Casa da Cultura, Campo de Futebol, Piscina Municipal, Mercado Municipal, Parque de Campismo, Zona Industrial e do Pavilhão Multiusos na sede do concelho.
Complementarmente a tais obras, foram tomadas outras medidas: a atribuição de subsídio à família quando do nascimento de uma criança; Complexo Termal da Terronha; Parque Industrial e venda dos respetivo espaços a preço simbólico; Centro Interpretativo e Museu das Minas de Argozelo; Museu Marrano de Carção; Museu Rural de Caçarelhos; Feira das Artes, Ofícios e Sabores de Vimioso; Parque Ibérico, Turismo e Aventura; Desporto Aventura e eventos motorizados; recuperação de pombais, igrejas e capelas; arranjo de zonas de lazer; construção de charcas destinadas a atenuar a falta de água no verão e, assim, o gado passar a dispor de bebedouros espalhados pelo termo.
No caso de Angueira, são assinaláveis algumas obras realizadas pela Junta de Freguesia, com base em projetos que obtiveram financiamento comunitário e outras com apoio da Câmara Municipal: zona balnear e Parque de Merendas da Cabada; arranjo e pavimentação da via entre São Sebastião e Terroso, ao longo da ribeira; recuperação do Forno da Telha; reconstrução das pontes da Yedra, da Senhora e da Çanca; construção da sede da Junta e da Associação; limpeza de matas; arranjo do açúde das Ulmedas; arranjo dos pontões das Antraugas e de Telhado; (re)pavimentação de ruas; construção de charcas; arranjo de caminhos rurais.
No entanto, são vários os problemas que persistem ainda. Não obstante as especificidades da localidade, tais problemas, não sendo exclusivos de Angueira, são comuns à generalidade das aldeias das Terras de Miranda, do Nordeste Transmontano e do Interior do país. Tratando-se, porém, de encontrar soluções locais para problemas que são globais, é pela nossa aldeia que temos de começar. Esta ideia suporta-se na convicção de que as demais, sendo pro-ativas e exigentes com os seus representantes políticos, farão, ou acabarão por fazer, o mesmo.
Tratando-se do Poder Local e havendo que ser pragmáticos, o que mais importa e interessa é solucionar os problemas que afetam a comunidade. Assim, a nosso ver, o apoio dos munícipes deverá ser dado ao(s) candidato(s) autárquico(s) que, credivelmente, se comprometa(m) a inscrevê-los no respetivo programa de ação e, acima de tudo, a fazer tudo quanto esteja nas suas mãos e ao seu alcance para os resolver.
A obra realizada não pode constituir motivo para deslumbramentos e, ainda menos, servir de pretexto para esquecer o muito que falta ainda realizar. Se nem sempre as opções tomadas e as prioridades eleitas terão sido as mais adequadas, importa, agora, em vez de ficarmos a chorar sobre o leite derramado, equacionar, apontar e relevar o que é mais urgente e prioritário realizar nos dois próximos mandatos daqueles a quem os eleitores venham a confiar os seus destinos, conferindo-lhes a responsabilidade política de gerir as autarquias: a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal. Assim, as necessidades que se enunciam correspondem ao que, por ordem de prioridade, tendo em conta o interesse da localidade e do concelho, se considera relevante prosseguir na duração dos respetivos mandatos.
Tendo em vista a grandeza da obra a realizar, reconhece-se que os recursos financeiros das autarquias, longe de serem inesgotáveis, são sempre escassos. Assim, ganha pleno sentido o velho aforisma: Roma e Pavia não se fizeram num dia. Corroborando também o adágio devagar que tenho pressa, admite-se que haja que definir prioridades e o consequente faseamento das medidas a tomar, devendo decorrer e ter como referencial a importância estratégica das mesmas em função das necessidades da localidade e dos interesses do concelho.
Não se desconhece também que, enquanto não se esgotarem os Fundos da União Europeia, as autarquias podem ainda contar com avultados recursos financeiros suplementares. E não se ignora também que uma gestão rigorosa e criteriosa permite potenciar e tirar maior proveito de tais recursos.
A extinção da freguesia de Angueira, decorrente da reconfiguração do mapa das freguesias, é uma problemática que está ainda longe de encerrada e, portanto, ainda em aberto. É que a designada União de Freguesias de Caçarelhos e Angueira traduziu-se, de facto, tão só na extinção da freguesia de Angueira. Ora, se tivermos em linha de conta as afinidades, inclusive familiares, que qualquer união implica, parece ser com Avelanoso que Angueira as tem maiores. Mas, se, para o efeito, a relevância for conferida ao interesse comum, devido ao percurso seguido pela ribeira, parece serem Serapicos e San Joanico, localidades contíguas também, que mais se aproximam às de Angueira. Seja qual for o critério, nem a tradição, nem a distância, nem as afinidades apontam para a união entre Angueira e Caçarelhos. Neste quadro, parece mais lógico que Caçarelhos e Vilar Seco – localidade que não se percebe o motivo por que ficou de fora da reconfiguração que teve lugar – venham a constituir uma união de freguesias. Quanto a Angueira, dependendo do critério que for seguido, tanto poderá vir a constituir uma união com Avelanoso como, tendo em conta o percurso seguido pela ribeira, com Serapicos e São Joanico, passando, consoante o caso, Vale de Frades a constituir união com Pinelo ou com Avelanoso.
Trata-se de uma perspetiva política? Certamente, se a entendermos no sentido etimológico e mais nobre do termo: o governo da cidade. Este, para ser legítimo, tem de se fundar na livre escolha dos cidadãos, que, para o ser, carece de ser esclarecida. Admitindo que, por vezes, as escolhas dos cidadãos possam não o ser nem terem sido as melhores, não resta outra atitude senão respeitá-las. É que o soberano é o povo. Partidária? Não, sem prejuízo das convicções e opções, legítimas e constitucionalmente consagradas, que possamos ter em relação ao que consideramos ser melhor para a terra onde nascemos ou vivemos, direito de que, enquanto cidadãos, ninguém nos pode privar e não podemos, nem queremos, abdicar. Ainda que, em democracia, o(s) partido(s) político(s) seja(m), por via da representação, mediador(es) entre o cidadão e o sistema de governação política, é a vontade do cidadão a que deve prevalecer. Assim, não é o cidadão que tem de responder perante o(s) partido(s), mas o(s) eleito(s) perante o(s) eleitor(es) que representa(m).
4- É imperativo…
4.1- Preservar o património
A ideia subjacente à visão tradicional de património, sobretudo ao material e privado, é a de tratar-se de um legado familiar deixado pelos antepassados à nova geração dos seus membros. Passando de pais para filhos, sob a forma de herança, tal legado não lhes pertence plenamente; os seus atuais titulares têm apenas o direto a, enquanto forem vivos, o administrar para, quando for chegada a sua hora, o transmitirem, por sua vez, aos seus descendentes. Assim, cada geração tem, pois, o dever de zelar pelo património familiar, não o deixando destruir, nem degradar, de forma a poder transmiti-lo, se possível ainda com mais valor, à sua descendência.
O património de qualquer lugar pode assumir ou comportar diferentes dimensões: material ou imaterial, natural ou cultural, público ou privado. Mas, condensando a cultura da comunidade, é também pertença de todos os que nele habitam. Assim, zelar pelo património, mesmo que privado, é cuidar também do interesse público.
O património material compreende o edificado, que, sendo o mais visível e tangível em qualquer lugar, é também o que está mais sujeito à degradação gerada pelas inclemências ocorridas ao longo do tempo.
Em Portugal, a intensificação das migrações – externa, a partir dos anos 60, e interna, a partir dos anos 70 do século XX – levou ao despovoamento das localidades rurais do interior do país, problema que a redução da natalidade e a perda da relevância económica da agricultura agravariam ainda mais. Assim, resta, hoje, na generalidade destas povoações – o que corresponde a extensas áreas do território nacional –, um reduzido número de residentes e uma população muito envelhecida, o que, no limite, pode condicionar, e comprometer até, a própria defesa do país.
Não espanta, pois, a existência de muitas casas quase ao abandono e em ruína, a precisar de intervenção urgente, na generalidade das aldeias, problema cuja solução remete para a convergência de esforços dos residentes, do Poder Local e do Governo nacional. Assim, importa que, complementar ou mesmo autonomamente à política do Governo, os órgãos de Poder Local apostem em medidas que, ajudando a revitalizar e revalorizar o respetivo território, contribuam para o seu repovoamento.
Em Angueira, para além das casas de viver, há ainda, em ambas as margens da ribeira, os moinhos, alguns dos quais com a respetiva casa do moleiro, bem ainda os açúdes e as calendras – canais que desviam a água do seu curso natural para a conduzir do açúde ao moinho e às hortas existentes ao longo das mesmas –, a exigir urgentes cuidados.
Excluindo o moinho de Telhado – que, como sempre ouvi dizer, é do povo –, os demais são património privado. Assim, é aos proprietários que, em primeira instância, incumbe cuidar deles e fazer as obras necessárias para os não deixar degradar ou arruinar mais, evitando, assim, que se percam para sempre.
O que se passa com os moinhos, as casas do moleiro, os açúdes e as calendras de Angueira é, pois, muito preocupante. Se, pelos moinhos da Yedra e da Nalsa, bem como pelo pisão, que, em tempos, existiu na Cabada, e foram destruídos ou estão em completa ruína, já pouco ou nada se pode fazer, quanto ao dos Lucas ou das Trés Ruodas, ao de Terroso, ao da Senhora e ao de Telhado, às casas do moleiro, aos açúdes e às calendras, se, urgentemente, não se lhes acudir, dentro de pouco tempo, também já pouco, ou mesmo nada, restará deles.
A questão da propriedade dos moinhos e das casas do moleiro – que têm vários proprietários, alguns dos quais residentes no Brasil e outros mesmo desconhecidos, à maior parte dos quais faltarão condições e recursos financeiros para os cuidar e preservar devidamente – complica ainda mais a sua recuperação, mas não impede que a sua conservação seja também do interesse de todos.
Caso diferente é o dos açúdes e das calendras que, para além de reserva de água destinada a fazer girar a mó dos moinhos, eram também e continuam a ser aproveitados para regar as hortas contíguas às margens da ribeira. Tratando-se, pois, de bens coletivos, a sua propriedade, é, salvo melhor opinião, da comunidade.
Se os seus proprietários não têm meios nem condições para os recuperar, os órgãos do Poder Local não podem ficar indiferentes ou passivamente à espera de que, a breve prazo, este património, continuando a degradar-se a ponto de que, tornando-se irrecuperável, se perca para sempre. Em ambos os casos, é à Junta de Freguesia e à Câmara Municipal que, em diálogo com todos os interessados – os residentes e os respetivos proprietários –, incumbe encontrar soluções e arranjar forma de lhes acudir – nem que, em situação limite, seja por via da expropriação – que permitam cuidar e salvaguardar este património. Estou convicto de que, fazendo convergir vontades, será possível encontrar formas de conciliar a prossecução do interesse público com o direito privado e outras soluções, com recurso a fundos da União Europeia, para acudir, recuperar e dar função útil a tão rico património. Deixar que tudo continue como está – isto é, a degradar-se – é que não pode ser e a ninguém aproveita.
Para ser democrático, o governo de qualquer localidade, município, região ou país tem de se sustentar num acordo tácito entre quem desempenha cargos políticos e os seus eleitores. Aos titulares de tais cargos incumbe tudo fazer para que a sua terra e o seu povo alcancem, tenham e mantenham as melhores condições de vida. E, hoje, já não se trata apenas de providenciar e garantir o sustento de toda a gente, mas sim de fazer com que todos vivam bem, isto é, possam desfrutar também do património que os antepassados legaram e deixaram.
Para além de uma obrigação de todos, cuidar do património, tanto do material como do imaterial, é também uma forma de preservar a cultura, a memória da gente –seus hábitos e costumes, seus modos de ser, de falar, de se divertir, de trabalhar e de viver –, e de a transmitir à nova geração. E esta é, simultaneamente, uma missão e uma tarefa para que todos somos convidados e estamos convocados.
Manter o património é conservar o que é mais genuíno e que, conferindo-lhe uma identidade própria, culturalmente distingue uma localidade, um concelho, uma região ou um país em relação aos demais. E é isto que, para além da vitalidade económica, tende, atualmente, a tornar-se, cada vez mais, um dos principais motivos de atração de novos visitantes e de possíveis novos residentes.
4.2- Providenciar a existência de uma reserva estratégica de água no concelho
Entre as medidas a tomar, deve ser dada prioridade àquelas que, pelo seu previsível impacto e urgência, sejam mais relevantes para a aldeia e para o concelho. Assim, para além da promoção da recuperação do património edificado, com possível impacto no retorno de alguns naturais e na atração de novos moradores à localidade, é prioritária a criação de uma reserva estratégica de água no concelho, pelo seu potencial impacto no abastecimento de água às populações das localidades, no combate a incêndios, na rega de hortas e na manutenção do caudal ecológico mínimo da ribeira de Angueira durante o verão. E, quanto mais a montante (nascente) esta for do concelho, maior será o proveito que podem tirar as localidades que o integram.
Complementarmente, estas medidas potenciam ainda a dinamização do mercado de trabalho de (re)construção, sendo previsivelmente assinalável o seu impacto no aumento da oferta de emprego no concelho no domínio da construção civil.
5- Razão de ser das duas medidas prioritárias a realizar em Angueira
5.1- Recuperação do património edificado: casas, moinhos, açúdes e calendras
Nos anos cinquenta do século XX, a população residente – crianças e adultos – em Angueira rondava seis centenas de habitantes. Gradualmente, a partir dos anos 60, com a emigração, as migrações internas e a redução da natalidade, iniciou-se um processo que se traduziu na diminuição da população residente. Assim, residem, atual e permanentemente, na aldeia menos de uma centena de pessoas. E, não havendo crianças, os atuais residentes são, maioritariamente, já bastante idosos. Assim, não espanta que haja, hoje, enorme quantidade de casas desabitadas, algumas das quais ameaçam ruína.
Entre o Gago, a montante da aldeia, e a Ribeira de Baixo, a jusante, existiam, no termo e ao longo da ribeira de Angueira, vários moinhos: o do Gago, o dos Lucas (ou das Três Ruodas), o de Terroso, o da Yedra, o da Senhora, o de Telhado e o da Nalsa. No ribeiro do Balhe, mais concretamente no Cachon, havia ainda o moinho do senhor João Capador, que, há muito tempo, deu lugar à moagem que, ainda em vida dele, foi desativada. Na Cabada, havia ainda o pisão, com o seu açúde e, junto ao poço dos Puntones, o Forno da Teilha.
Hoje, dos moinhos do Gago, da Yedra e da Nalsa e do pisão da Cabada restam apenas vestígios e os açúdes. Assim, excluindo a recuperação dos açúdes e calendras, já pouco ou nada mais há a fazer em relação àqueles. Os restantes quatro – os moinhos e as casas do moleiro dos moinhos dos Lucas, de Terroso e da Senhora – ainda são recuperáveis. Mas, se, urgentemente, não se lhes deitar a mão, dentro de pouco tempo este património centenário acabará também por ruir e tornar-se irrecuperável. Lembro, a propósito, que, na pedra com argola onde eram presas as bestas que transportavam os sacos de grão, que está ao lado do tranqueiro esquerdo da porta do moinho da Senhora, está inscrito o número 1247, data que corresponde a 104 anos após o Tratado de Zamora relativo à fundação e ao reconhecimento da independência de Portugal.
Para além dos moinhos e das casas do moleiro de três deles, é possível recuperar os açúdes, incluindo o do pisão (açúde das Almas), e as calendras, evitando-se, assim, a perda deste património e dando préstimo às casas do moleiro, eventualmente, para turismo rural. Dos moinhos recuperados, poderá ser explorado o seu potencial pedagógicos pelo agrupamentos de escolas de Vimioso e dos concelhos vizinhos.
Para recuperar os açudes e as calendras dos moinhos (dos Lucas, de Terroso, da Yedra, da Senhora, das Almas, de Telhado e da Nalsa), basta consolidar o respetivo paredão e as paredes existentes ao longo das margens de cada açúde, e, eventualmente, aprofundar um pouco, limpar e regularizar o leito da ribeira e das calendras. E pouco mais será necessário e se poderá fazer. É que fazer subir mais o nível máximo atual da água dos açúdes implicaria alagar e perder muitas das hortas existentes nas margens da ribeira. E, com maior propriedade ainda, para além de outras coisas mais – designadamente, a dificuldade de obter autorização da autoridade competente –, o mesmo se pode dizer da eventual construção de uma represa de água na ribeira.
5.1.1- Apoio a prestar pela Câmara Municipal à recuperação do património edificado
Uma das possíveis modalidades de apoio à recuperação do património edificado que a Câmara Municipal de Vimioso pode prestar, provavelmente a mais inteligente e menos dispendiosa, será disponibilizar os respetivos serviços de engenharia e arquitetura para estudar soluções, aconselhar os munícipes, orientar os projetos, acompanhar e fiscalizar as obras, para além do apoio logístico à elaboração de dossiés para os submeter a financiamento da UE. Desta forma, será mais fácil conseguir que a recuperação de casas respeite a traça e utilize as técnicas e os materiais tradicionais. Pela prestação de tal apoio, é aconselhável que a Câmara se limite a cobrar aos proprietários um preço meramente simbólico.
Quanto à recuperação dos açúdes e das calendras, deverão ser os respetivos serviços de engenharia e arquitetura a projetar, elaborar os dossiés e submetê-los a financiamento da UE, orientar e fiscalizar os trabalhos de recuperação. Desta forma, conservando de forma adequada o património arquitetónico, todos – a Câmara, a Junta, o dono da obra, os moradores e, sobretudo, a localidade e o concelho – ficarão a ganhar.
Como alguns dos moinhos e casas do moleiro têm vários proprietários, a CMV deverá notificá-los a fim de, dentro de um prazo razoável que, para o efeito, lhes fixar, fazerem as obras necessárias. Caso os legítimos proprietários não se entendam e não se prontifiquem a recuperá-los, a CMV deverá proceder à respetiva expropriação e recuperação.
5.2- Construir, urgentemente, uma represa de água no ribeiro da Cabanhona
A ribeira de Angueira é um dos rios mais importantes do concelho de Vimioso. Nascendo em Terras de Aliste, no seu percurso, passa pelos termos de Alcanices, em Espanha, e, já em Portugal, pelos de São Martinho de Angueira, Angueira, Avelanoso, Serapicos, São Joanico, Caçarelhos, Vimioso, Vila Chã, Campo de Víboras, Uva, Vale de Algoso, Mora, Algoso, Teixeira, Saldanha, Valcerto e Junqueira, localidades dos concelhos de Vimioso, Miranda do Douro e Mogadouro, e desagua no rio Maçãs.
No termo de Angueira, vários ribeiros vão desaguar à ribeira: os de Belharino, da Puntelhina, do Pilico, do Balhe, da Faceira e das Barreiras, na margem direita; os das Queijeiras, dos Milanos, da Cabanhona, da Fraga, de Ourrieta la Fuonte, de Souganho e do Prado, na margem esquerda.
Nos maiores ribeiros que nela desaguam – o da Cabanhona e o dos Milanos –, confluem as águas das chuvas e de várias nascentes de terras com muitos quilómetros quadrados de extensão; o da Cabanhona nasce em Genísio e recebe ainda águas dos termos de Caçarelhos e de Angueira (Bal de Molhado, Carrasquito, Trabacinos, Fresnos, Bal de l Quadro, Stante, Malhados, Sculqueira, Lhatas de l Meio, Chapeiron, Stebica, Palombeiras, Muola, Sapeira, Lhagona, Spino, Lhadron, Ramalhal, Cabanhona, Cabeç Molhón e Cabeç l Cuorbo); o dos Milanos nasce na Especiosa e recebe ainda águas do termo de Angueira (Cabeça Gorda, Ourrieta Morena, Lhameiras, Peladas, Portugueses, Milanos, Palancares, Cascalhal e Cabeç Molhón). Daí que, quando chove intensamente, estes ribeiros ganhem grande caudal, contribuindo, assim, para o aumento do leito das cheias da ribeira de Angueira.
Estes ribeiros correm e desaguam em vales apertados – o da Cabanhona e o da Retuorta –, condições orográficas que, sendo nuito favoráveis, tornam mais fácil e menos dispendioso fazer em cada um deles uma represa de água.
Sobretudo no inverno, mas também no outono e na primavera, nos anos de maior pluviosidade, é usual haver várias e grandes cheias na ribeira de Angueira. Por exemplo, no inverno e na primavera de 2016, choveu tão intensamente que a ribeira e a vala da irrigação ainda corriam em agosto e os açudes estavam ainda cheios de água, o que, há muitos anos, já não acontecia. É que, geralmente, a partir do final de junho, começa a escassear a água na ribeira, mesmo nos açudes, deixando, durante o verão, de haver água suficiente para garantir um caudal capaz de alimentar poços e açúdes, a vala da irrigação e a zona balnear da Cabada.
A captação de água para abastecimento de Vimioso e de algumas aldeias da parte sul do concelho – Algoso, Campo de Víboras – é feita na ribeira de Angueira. No verão, com a seca do leito da ribeira, a água para abastecimento destas localidades torna-se insuficiente e de fraca qualidade. Sobretudo nos anos de seca, que tendem a ser cada vez mais frequentes, é vulgar faltar água suficiente para assegurar também o caudal ecológico mínimo da ribeira, para o abastecimento de água de qualidade à sede e outras localidades do concelho, para alimentar açúdes e poços ao longo do percurso e poder regar as hortas e para acudir a qualquer incêndio. Assim, é imprescindível encontrar forma de aproveitar e reter a água da chuva de outono, inverno e primavera, em Angueira, para que o concelho dela possa dispor no verão.
Assim, tendo em conta as condições orográficas favoráveis, é urgente que, para o efeito, se construa no ribeiro da Cabanhona, já na Senhora, uma represa de água e, mais tarde, uma outra no ribeiro dos Milanos, ao cimo da Retuorta. Sendo poucas e pequenas as hortas existentes nas margens destes ribeiros, será pequeno, em termos agrícolas, o prejuízo decorrente da construção destas represas. Para além disso, tal construção pode ser feita com recurso a fundos da União Europeia.
A construção destas represas com alguns metros de altura, em terra batida e pedra, para além de, no inverno, permitir regular o volume das cheias da ribeira, teria ainda outras vantagens adicionais para Angueira e para o concelho de Vimioso: passariam a dispor de água suficiente e de melhor qualidade para abastecimento público, para eventual abastecimento de helicópteros, quiçá mesmo de aviões de combate a incêndios, para alimentar o canal de irrigação e para a rega das hortas, durante o verão. Direta ou indiretamente, esta solução beneficiaira a maior parte das povoações dos concelhos de Vimioso (Angueira, Avelanoso, Serapicos, São Joanico, Vimioso, Uva, Vale de Algoso, Campo de Víboras e Algoso), de Miranda (Granja e Vila Chã da Ribeira), para as de Mogadouro por onde passa a ribeira e ainda para o de Bragança e até mesmo para o ayuntamiento de Alcanices em Espanha.
6- Outras medidas a realizar em Angueira e sua razão de ser
Para além das obras enunciadas como mais prioritárias, há também que realizar outras e assegurar ainda a adoção de diversas medidas que, para Angueira e, provavelmente, outras povoações do concelho, se revestem de enorme importância e de grande relevância e que, seguidamente, se enunciam.
Nem todas estas medidas apresentam o mesmo grau de complexidade e dificuldade de execução nem idênticos valor, esforço e custo financeiro, nem ainda a mesma urgência. Dois mandatos autárquicos serão tempo suficiente e adequado para as levar a cabo.
6.1- Corrigir erros nas demarcações entre o termo de Angueira e das aldeias vizinhas e concluir a sinalização dos sítios do termo de Angueira no OpenStreetMap
Devido à emigração e as migrações internas da segunda metade do século passado, praticamente toda a gente nova saiu de Angueira, onde ficaram apenas os mais idosos. Com o gradual desaparecimento destes e a decadência da agricultura, a maior parte das terras passaram a ficar de adil e de monte. Assim, hoje, é quase impossível delimitar com precisão, e já poucos sabem de quem são, as terras, onde estão os marcos e são as marcações da maior parte delas, sobretudo daquelas onde já quase só há monte e touças. E o mesmo se passa com as marras e as linhas de demarcação entre o termo de Angueira e os das povoações vizinhas.
A toponímia do termo de Angueira é em Mirandês. Como cada vez há menos pessoas que ainda sabem os nomes e a localização exata dos sítios a que correspondem, importa localizá-los num mapa a fim de que, quando as pessoas mais velhas desaparecerem, não se perca esta toponímia.
O termo de Angueira confronta, a norte e a noroeste, com o de Avelanoso; a noroeste, com o de Serapicos; a poente e a sudoeste, com o de São Joanico; a sudoeste e a sul, com o de Caçarelhos; a sueste, com o da Especiosa; e, a nascente e a nordeste, com o de São Martinho de Angueira.
As marras que separam estes termos foram, há muito tempo, colocadas nos respetivos lugares. É possível que, devido à lavra das terras e às touças que foram crescendo e sendo arrancadas, muitas delas tenham sido arrancadas também. Agora, que, há tanto tempo, várias terras não são lavradas e com o monte e as touças que foram crescendo, será muito difícil encontrar muitas das marras.
Com os casamentos entre rapazes e moças das povoações vizinhas, algumas das terras destas aldeias passaram, por herança, a pertencer a pessoas que passaram a morar noutras. Assim, os proprietários de algumas delas deixaram de residir na povoação. Contudo, não deixaram de fazer parte do termo de Angueira. E o mesmo se passou também com pessoas que, vindas de outras povoações vizinhas, por casamento, passaram a residir em Angueira.
No final de 2015 e em 2016, o signatário e um jovem topógrafo, emigrado em França, mas originário de Angueira, contando com colaboração e ajuda de vários outros naturais, têm vindo a localizar e sinalizar no OpenStreetMap os vários sítios do termo, em Mirandês. Logo no início de 2016, aperceberam-se, porém, da existência de muitos, grandes e graves erros, neste e noutros mapas (carta militar e outros) onde figuram Angueira e as aldeias vizinhas, na sinalização nas linhas de demarcação entre os respetivos termos, todos em prejuízo de Angueira:
i) Entre Angueira e Avelanoso, consta dos mapas como sendo do termo de Avelanoso, parte de Cabecico de Porros e da Chana, as Barreiras, Quebra Cambas, o Absedo de Bal de Xardon, Bal de Xardon, a Bouça, o Milho, Standeiro de Pardos, parte do Rodelhon, parte das Abelheiras, a Marmolina, Cabeç Alto, os Salgadeiros, a Malhadica e Cruç Branca, sítios que sempre pertenceram ao termo de Angueira. Curiosamente, o António Esteves alertou-me de que, antigamente, para o gado bovino poder circular nestes locais do termo de Angueira, o respetivo proprietário tinha de ter uma licença especial. Fica, assim, em parte explicado este erro que consta das cartas militares;
ii) Entre Angueira e São Joanico, constam dos mapas como sendo do termo de São Joanico, as Foias, Bal de Freixo e parte das Tomadas, do Queimado, das Lapas e de Peinha la Bela, sítios que são do termo de Angueira;
iii) Entre Angueira e Caçarelhos, constam dos mapas como sendo do termo de Caçarelhos parte do Stante e do Bal do Quadro, que são do termo de Angueira.
Ora, que se saiba, desde há centenas de anos, todos os mencionados sítios pertencem ao termo de Angueira.
Hoje é possível, através de GPS, encontrar, marcar e registar as coordenadas com a localização exata das marras em cartas e mapas. Poderá, assim, ficar claro onde termina o termo de uma povoação e começa o das povoações vizinhas.
Tal clarificação é importante para todas as povoações vizinhas. Poderão, assim, evitar-se desentendimentos futuros que, bem vistas as coisas, não são bons nem aproveitam a ninguém.
A referida constatação levou-nos a suspender a conclusão da tarefa a que, em trabalho equipa, nos propuséramos até ver clarificada a questão e corrigidos os erros que detectáramos nos mapas. Pediu-se, para o efeito, a colaboração e o apoio do representante de Angueira na Junta da União de Freguesias. Como, até ao momento atual, tudo parece estar na mesma, continuamos a aguardar melhor oportunidade para podermos retomar e concluir a tarefa a que nos propuséramos.
6.2- Organizar um serviço de brigadas de limpeza de matas e floresta
A situação de quase abandono – campos por cultivar, com mato ou floresta – em que, atualmente, se encontra grande parte das terras de sequeiro do termo de Angueira obriga a equacionar formas de atenuar o risco de incêndio que, a qualquer momento, sobretudo no verão, pode nelas deflagrar. Assim, e porque várias dessas terras têm como proprietários muitos não residentes, alguns deles emigrantes no Brasil ou em países da União Europeia e sem meios e recursos financeiros suficientes para, por iniciativa própria, assegurar a lavra e limpeza dos mesmos e suportar os respetivos custos, importa que a Câmara Municipal ou a Junta de Freguesia providenciem a organização ou garantam a contratação de brigada(s) de limpeza que, a custo aceitável, possam assegurar a limpeza de matas e floresta e à poda e lavra desta.
Assim, detetada a existência de situações de falta de limpeza de matas ou floresta que possam facilitar a deflagração ou a propagação de incêndios e comprometer a segurança, a Câmara Municipal ou a Junta de Freguesia notificarão o(s) proprietário(s) no sentido de resolver o problema, alertando que, caso o não faça(m) dentro do prazo concedido para o efeito, providenciarão a realização da referida limpeza, cobrando ao(s) proprietário(s) uma importância equivalente ao custo da mesma.
6.3- Concluir a construção do troço entre a Cruzica (Angueira) e a Especiosa da estrada municipal (EM 546) que liga Vimioso à Especiosa e ao Naso
Há já muitos anos, eram ainda Zé Miranda e Júlio Meirinhos, respetivamente, os presidentes da Câmara de Vimioso e da Câmara de Miranda do Douro, fez-se o rompimento da estrada entre a Cruzica, passando pelo Ramalhal e pelas Lhameiras, no termo de Angueira, e a Especiosa. Tratava-se de fazer uma ligação rodoviária mais curta entre Vimioso e o Naso, mas que servia também São Joanico e Angueira. Já depois de ter sido feito o rompimento, a mudança dos presidentes das mencionadas câmaras municipais e dos respetivos partidos traduziu-se na suspensão, até ao presente, da construção do referido troço desta estrada.
Parece, agora, chegada a hora de retomar e concluir uma obra que, sem qualquer razão plausível, foi interrompida.
6.4- Construir uma variante à estrada municipal (EM 545) entre Angueira e as Três Marras que permita desviar da povoação a maior parte do trânsito automóvel
Atualmente, muitos veículos automóveis ligeiros e pesados têm de passar pela povoação. A construção de uma variante à EM 545, entre o alto do Rodelhon e a ponte da Cabada, permitiria desviar a maior parte do trânsito automóvel, sobretudo o de pesados, da povoação. Evitar-se-ia, assim, a passagem pelo Lhargo de Sante Cristo, sítio onde os camiões têm grande dificuldade em passar, pois têm, para o efeito, de fazer grandes e difíceis manobras e, mesmo assim, alguns deles acabam por embater e danificar as paredes de algumas casas e da capela.
Com o preço a que hoje estão as terras e o abandono da agricultura que continua a verificar-se, será pouco elevado o custo da construção da referida variante. Bastará seguir, alargar e corrigir parte do traçado do caminho já existente entre o alto do Rodelhon, o cruzamento ao cimo de Boca ls Balhes, o Lhombo das Eiras e as Eiras Grandes até ao cimo da Caleija da Senhora e a capela de San Sebastian e, a partir deste, abrir uma nova via até a Cabada. No cimo das Eiras, a variante deverá dar acesso ao caminho atualmente existente e que, pela Rua das Eiras, vai dar ao Ronso. Entre a capela de San Sebastian e a ponte da Cabada, haverá que construir um novo troço, de poucas centenas de metros, que, seguindo pelas cortinhas do Tanque, permita desviar o trânsito automóvel, evitando, assim, que tenha que passar pela Rua de Saiago e pela Eigreija.
6.5- Dar préstimo ao antigo edifício da escola
Vários anos após o incêndio que deflagrou na antiga escola, a Câmara Municipal de Vimioso procedeu à recuperação do edifício, que foi construído pelo povo nos anos 30 do século XX. No entanto, não quis, ou não soube, dar-lhe uma função útil. Assim, as duas grandes salas que o compõem encontram-se vazias e sem qualquer préstimo.
Como as respetivas instalações parece reunirem as condições necessárias para o efeito, pode ser convertida num centro de dia, com ocupação e serviço de almoço para pessoas da terceira idade. Evitar-se-ia, assim, que os idosos ainda não incapacitados tenham que, prematuramente, ser internados em lares, ficando afastados e sem os cuidados da família e deixando a aldeia ainda mais despovoada.
6.6- Plantar árvores de sombra na povoação e em alguns sítios do termo
Antes do acidente nuclear ocorrido, há já muitos anos, na central de Chernobyl, havia olmos em vários sítios do termo e da povoação de Angueira que, nesse ano, secaram: na povoação, havia-os no Balhe, no Ronso, no largo onde era a fonte da Eigreija, no Cachon, na Çanca e na Salina; no termo, havia-os na Yedra, na Retuorta, na Cabada, na Açúda de las Almas, nos Puntones, nas Ulmedas e nas Antraugas. Para além dos olmos, cresciam naturalmente ou eram plantados, junto à ribeira e aos ribeiros, amieiros, freixos, choupos e alvarinhos. Nas partes mais secas do termo, cresciam naturalmente carvalhos, carrascos e vários tipos de arbustos.
A arborização então existente na povoação ajudava as pessoas a resistir aos rigores do clima, especialmente ao intenso calor de verão. Com o desaparecimento dos olmos, hoje poucas são as árvores que restam e que, com a sombra, ajudem a amenizar as elevadas temperaturas que se fazem sentir durante o verão.
Será, pois, da maior conveniência proceder à plantação de árvores de sombra ao menos nos seguintes sítios da povoação: Lhargo de Saiago, Sagrado, Cachon, Çanca, Salina, Balhe, Beiga de l Casal e Canhada.
6.7– Disponibilizar aos moradores e visitantes acesso livre à Internet
Duas das três operadoras de telemóveis – Nós e Vodafone – têm fraco ou nenhum sinal em Angueira. Atualmente, porque só a MEO dispõe de uma força de sinal aceitável, muito dos moradores e, sobretudo, os visitantes não têm acesso nem contacto fáceis com o exterior, o que os impede de aceder ao que se passa no mundo.
Como já acontece em outros sítios do país – por exemplo, no concelho de Esposende –, seria vantajosa para toda a gente a disponibilização do acesso fácil, livre e rápido à Internet na povoação.
Para além disso, há também que pressionar as operadoras de telemóveis no sentido de porem à disposição da gente de Angueira a rede 4G. Desta forma, qualquer morador ou visitante poderá a ela aceder mais facilmente. Assim, fica resolvido, pelo menos em parte, o problema da dificuldade de acesso pelas redes de telemóvel.
6.8- Fazer uma conduta subterrânea destinada à passagem de linhas e cabos e substituir os postes telefónicos e elétricos existentes na povoação
Quando, no final dos anos 50 e 60 do século passado, foram instalados os postes, as linhas telefónicos e os cabos elétricos, as pessoas, que ansiavam por passar a dispor de telefone e de eletricidade o mais rápido possível, sem ficarem a aguardar mais tempo à espera deles, nem se deram conta do mal que ali ficavam. Depois, acabariam por se acostumar a vê-los ali. Mas, quem vai de fora logo se dá conta de quão inestéticos são e mal ficam uns postes tão feios e tantos fios a cruzar-se e a atravessar de um lado para o outro da rua, uma das coisas que, esteticamente, mais prejudica a beleza das nossas povoações. E Angueira não escapa a isso.
Para resolver o problema, há que sensibilizar os moradores e convencer a Câmara Municipal de Vimioso a fazer uma conduta subterrânea em todas as ruas da povoação, começando pelas mais importantes, e a aprovar um regulamento próprio. Depois, há ainda que sensibilizar e convencer as concessionárias – a PT e a EDP – a mudar e fazer passar as respetivas linhas ou cabos por tal conduta. Passando o fornecimento de eletricidade e do serviço telefónico e, eventualmente, de internet e de televisão por cabo, a ser feito por esta conduta, para além de se reduzir o risco de avarias e melhorar tais serviços, acaba-se com a inestética e densa amálgama aérea de fios e cabos atualmente visíveis entre os postes elétricos e telefónicos e as habitações.
6.9- Fazer uma conduta para drenagem das águas pluviais na povoação
Quando, há muitos anos atrás, a Câmara Municipal de Vimioso instalou a rede de saneamento básico em Angueira, não providenciou a instalação de uma conduta própria destinada à recolha e drenagem das águas pluviais, que permita evitar que, nos dias mais chuvosos e em que haja enxurradas, sobretudo de outono, inverno e primavera, a água da chuva escorra pelas ruas e nestas se forme gelo.
Assim, ao tratar de instalar a conduta subterrânea para passagem de cabos telefónicos e elétricos, é de aproveitar para, paralelamente, instalar também outra conduta destinada à recolha das águas pluviais.
6.10- Reconstruir algumas das habitações que estão em ruína e risco de se perder
Algumas casas de Angueira, atualmente em ruína, mas que, pela sua localização ou pela importância que tiveram na vida das pessoas e na cultura da aldeia, sendo, a vários títulos, memoráveis, merecem ser reconstruídas: a casa do senhor Correia e da dona Laura, na Rua do Cachão; a casa da dona Palmirinha, pouco abaixo da capela de Sante Cristo, na Rua da Salina; e a casa do Padre Lino, perto do Ronso, também esta recentemente demolida por ameaçar ruína e falta de entendimento entre os respetivos herdeiros.
Na sequência do incêndio que, há já vários anos, consumiu a casa do sr. Correia e da dona Laura, a Câmara Municipal de Vimioso procedeu à demolição total do interior e parcial das paredes exteriores da mesma. Já neste verão, como se pode constatar por fotografias publicadas nas redes sociais, a pretexto de alargar a Rua do Cachon, demoliu-se a garagem e o que restava das paredes exteriores da casa viradas a poente e a sul. Em relação a uma e a outra destas opções, expresso as minhas reservas. É que, a meu ver, em vez de demolir as paredes, a Câmara Municipal deveria ter optado por protegê-las de forma a evitar a infiltração de água da chuva. Assim, para além de ganhar tempo até que, eventualmente, aparecesse alguém interessado em reconstruir a casa ou a Câmara dispor de fundos suficientes para o fazer, não se inviabilizaria a futura reconstrução de uma casa, a vários títulos, memorável, de Angueira. Foi nela que as pessoas de várias gerações viram, pela primeira vez na vida, a projeção de um filme; foi a primeira casa de Angueira com luz elétrica, produzida por um gerador, décadas ainda antes de chegar à aldeia a eletricidade; foi nela que muitos alunos da dona Laura – especialmente os que se preparavam para o exame de admissão ao liceu, mas não só – continuavam o estudo após, diariamente, haverem cumprido o horário escolar habitual; e, sobretudo, esta casa tinha um largo pátio interior, circular e com vários degraus, que, salvaguardadas as devidas proporções, fazia lembrar um teatro grego clássico, bem como um grande alpendre coberto, também interior, a rodear o pátio e que dava acesso aos cómodos da casa, e ainda um lindo, amplo e vistoso solário, virado a sul, todos fabulosos. Trata-se de uma casa que, mais que um foco, foi mesmo um farol de civilização em relação a Angueira. Lamenta-se, pois, o que se fez a esta que era uma das casas mais memoráveis de Angueira. Espera-se que esta último demolição não comprometa definitivamente, tornando-a totalmente irreversível, a possibilidade de eventual reconstrução de uma casa com tantas memórias dignas de registo.
Porque as casas não são apenas pedras e o “progresso” não se traduz em arrasar tudo o que é velho e passado e parte da memória e da cultura de um povo, defender o património arquitectónico é preservar também muito do que dignamente representa os que nos antecederam e está associado à memória dos mesmos por parte da respetiva descendência e de quantos, hoje, residem em Angueira ou se sentem afetivamente ligados a ela.
Assim, a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal, deverão contactar os herdeiros destas casas no sentido de os auscultar, motivar e apoiar na respetiva reconstrução. Se, de todo em todo, tal se revelar inviável, deverão, então e como se preconiza para o caso dos moinhos e respetivas casas do moleiro, ser estudadas e aplicadas outras soluções tendentes a evitar a perda definitiva deste património.
6.11- Assegurar ou concessionar um circuito de transportes públicos no concelho
Uma população residente envelhecida e a carecer cada vez mais de assistência médica tem de se deslocar mais frequentemente ao Centro de Saúde, ao médico e à farmácia e ainda, como qualquer cidadão, a outros serviços públicos. As contingências próprias do transporte escolar não permitem responder adequadamente às necessidades destas pessoas. Se não dispuserem de automóvel próprio e de carta de condução, atualmente, só o poderão fazer a expensas próprias e recorrendo ao serviço de táxi ou, aleatoriamente, a boleias. Ora, tratando-se de pessoas, geralmente com baixas reformas e fracos recursos, é-lhes incomportável suportar os elevados custos de tais deslocações.
Assim, torna-se imprescindível disponibilizar ou concessionar uma rede de minibus que, diariamente, assegure à população residente nas aldeias a possibilidade de se deslocar à sede do concelho.
6.12- Delimitar uma área de proteção dos castros da Quecolha e do Castro
Para além da capela de S. Miguel, existem no termo de Angueira dois exemplares memoráveis e ainda mais antigos que testemunham a riqueza do seu património: o castro da Quecolha (Cacoia) e o castro do Castro. Sobretudo nas imediações do primeiro, a lavra das terras fez emergir alguns vestígios que, hoje, ornamentam o espaço entre a sede da Junta e da Associação e a ponte do Pilo. No entanto, é bem provável que outras peças aí encontradas tenham tido, eventualmente, outro destino.
Parece necessário afastar semelhante risco. Assim, importa delimitar uma área de proteção a cada um dos dois castros existentes no termo de Angueira e expropriar as terras à volta dos mesmos de forma a salvaguardar as ruínas e a evitar que sejam destruídas e possam tornar-se irrecuperáveis.
6.13- Melhorar as vias pedonais existentes ao longo das margens da ribeira
A ribeira de Angueira apresenta um conjunto de atrativos turísticos – o arvoredo, o sistema de açúdes, calendras e moinhos, as casas do moleiro, as hortas, as variedades de fauna e flora e a frescura que, à beira dela, se sente no verão – condições favoráveis que a tornam um ponto aprazível para a realização de piqueniques, passeios a pé e outras atividades de lazer. Melhorando as vias que acompanham a ribeira, aproveitar-se-ia bem melhor todo esse grande potencial que a mesma apresenta.
Trata-se de fazer com que, para além dos visitantes, também os residentes possam por elas circular com maior facilidade, rapidez, comodidade e segurança e possam ainda ser aproveitadas pelos agricultores para se deslocarem para as suas hortas.
6.14- Sinalizar sítios e percursos, percursos, corriças e fontes existentes no termo
Por entre a aridez da paisagem, há em vários sítios e espalhadas pelo termo de Angueira uma nascente ou fonte, geralmente seguida de uma augueira que, com maior ou menor fio de água, interrompe aquela secura. Será de toda a conveniência em assinalá-las nos percursos do termo de forma a que eventuais pedestrianos se possam orientar, saber a localização exata em que se encontram e, em caso de necessidade, refrescar-se e abastecer-se de água.
6.15- Sensibilizar o alcalde de Alcanices para a necessidade de melhorar a via rodoviária entre a fronteira das Três Marras e a dita localidade e o acesso à E-82
Aprofundar contactos com o alcalde do ayuntamiento de Alcanices no sentido de o sensibilizar para a necessidade de melhorar a carretera de Portugal das Três Marras, via de ligação entre a raia e a E-82 nesta vila espanhola. Tal melhoria, com correção de percurso e alargamento da via, deveria ainda contemplar um novo ponto de ligação entre estas vias, entre a carretera de San Bitero e a carretera de Arcocilho, mais a poente do atual entroncamento, localizado junto ao posto da Guardia Civil.
6.16- Encontrar solução para cultivo de latas e terras de regadio e aproveitamento dos lameiros
Devido à orografia e aos cursos de água existentes no termo, Angueira dispõe, nas margens da ribeira e dos ribeiros, de muitas latas ou hortas: Chapaçals, San Miguel, Ribeira de Baixo, Nalsa, Souganho, Antraugas, Telhado, Ulmedas, Faceira, Areal, Faceira de l Prado, Mediana, Salina, Cachon, Balhe, Çanca, Múrio, Cabada, Tanque, Ourrieta Caliente, Yedra, Terroso e ainda as de Bal de Conde, Puntelhina, Retuorta e Cabanhona. Sendo terras de aluvião e regadio, de muito boa qualidade e grande potencial para a produção de hortícolas, estas latas davam, em regra, duas produções anuais.
Até aos anos 80 do século passado e não obstante a emigração, eram muito raras as terras de Angueira, mesmo as de sequeiro, que ficavam de adil. A maior parte delas, sem falar das latas e outras terras de regadio, ou eram de cultivo ou lameiros para pasto dos animais.
Com o abandono da agricultura, subsequente à entrada de Portugal na CEE, as terras de sequeiro foram as que, primeiro, deixaram de ser cultivadas, ficando de floresta ou de monte. Poucos anos mais tarde, passou-se o mesmo com as baixas e as cortinhas mais frescas, de regadio, de alguns vales. Mais recentemente, nas margens da ribeira e dos ribeiros, são já muitas as latas por cultivar e até alguns lameiros que não são limpos, nem guardados. Apesar de ficarem perto da povoação, algumas latas da Faceira, da Mediana e da Salina encontram-se já, hoje, sem cultivo. Sendo terras de aluvião e de muito boa qualidade, é escandaloso, quase até criminoso, encontrarem-se nesse estado. É que, como se sabe, em Portugal não há muitas terras de tão boa qualidade. Seria essa uma das razões pelas quais, nos séculos XIII e XIV, o abade do mosteiro de Moreruela – dono de terras do termo de Angueira – as concedia a quem as pudesse cultivar. E se, ainda não há muito tempo, estas latas davam duas produções anuais, agora, muitas delas não dão sequer uma.
Havendo, pois, que fazer alguma coisa para incentivar o cultivo, ao menos, das latas e o aproveitamento dos lameiros, dever-se-á, para o efeito e antes de mais, começando pelas latas das Ulmedas, da Faceira, da Mediana, da Salina, do Cachon e da Çanca, todas elas com possibilidade de rega pelo canal da irrigação, fazer o seguinte:
i) Solicitar apoio ao Ministério da Agricultura para medir, calcular áreas, fazer as plantas da localização exata das latas e o levantamento dos respetivos proprietários;
ii) Auscultar os proprietários no sentido de saber se estarão dispostos a ceder, por arrendamento, as respetivas latas para cultivo por possíveis interessados;
iii) Estabelecer o preço da renda a pagar aos seus proprietários, variável em função da respetiva área e tendo como referencial uma percentagem do valor anual do subsídio atribuído pela União Europeia a terras de cultivo;
iv) Estabelecer a duração do contrato de arrendamento (10 anos?) e o valor da indemnização ao arrendatário pelo tempo que faltar para cumprir a duração do contrato.
Assegurar ainda aos proprietários que não perdem o direito às respetivas terras e só as cederão para arrendamento se o desejarem; que, caso as cedam, poderão, se o quiserem, denunciar e resolver o contrato de arrendamento.
O que se propõe fazer em relação àquelas latas, poderá ser, posteriormente, alargado às restantes: Chapaçals, San Miguel, Prado, Ribeira de Baixo, Nalsa, Souganho, Telhado, Antraugas, Faceira de l Prado, Balhe, Múrio, Cabada, Ourrieta Caliente, Yedra e Terroso.
Finalmente, poder-se-á ainda proceder de idêntica forma em relação aos lameiros e às terras de sequeiro do termo de Angueira.
Braga, 3 julho de 2017
António Preto Torrão
in:angueirablog.wordpress.com
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