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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 4 de julho de 2017

Esboço de um Programa de Ação para Angueira e para o concelho

I- Linhas de força e reflexão em torno de um Programa de Ação: o que é possível fazer em Angueira e pelo concelho

1- Uma explicação

Desta vez, opto por escrever em Português. E a razão é muito simples: não se trata, agora, de relembrar estórias e situações vivenciadas, num passado mais ou menos longínquo, pela gente de Angueira; trata-se, isso sim, de desenvolver uma reflexão e explana­r um conjunto de ideias que tra­duzem uma forma de perspetivar e de, assim, dar um contributo para a melhoria do futuro da aldeia e do concelho. Neste quadro, o que mais im­porta é que tais ideias sejam acessíveis a todos os potenciais leitores. No entanto, porque em An­gueira se man­tém a antiga toponímia, optei também por, ao longo do texto, utilizar a designação dos sítios do respetivo termo em Mirandês.

2- Princípios subjacentes ao Programa de Ação

* A política, no sentido etimológico e mais nobre do termo, respeita ao governo da cidade, ou melhor, de qualquer localidade (aldeia, vila, cidade), concelho, região ou país.

* Um filho de qualquer terra tem, em relação a ela, a obrigação de cuidar e tudo fa­zer para manter e não deixar degradar nem destruir o seu património.

* O património é o legado deixado pelos antepassados e que qualquer localidade, concelho, região ou país tem de mais genuíno. Conferindo-lhe uma identidade pró­pria, é o que culturalmente os distingue em relação aos demais.

* O património condensa a cultura da comunidade, o conjunto de aquisições por ela realiza­das ao longo da sua história, no processo de adapta­ção às condições natu­rais do seu es­paço vital, bem ainda as relações de familiari­dade e convivência, de troca e parti­lha de bens, de experiências e sa­beres entre os seus mem­bros estabeleci­dos em tal processo.

* O património é aquilo que há de mais genuíno e melhor traduz as formas de pen­sar, sentir e agir, ou seja, a vida e a alma da gente. Comportando várias dimensões, podemos nele distinguir o mate­rial do imaterial, o natural do cultu­ral, o público do privado.

* O património privado é um legado familiar, cabendo em vida do respetivo titular adminis­trá-lo e preservá-lo de forma a poder transmiti-lo à posteridade.

* O património edificado – casas, incluindo as do moleiro, moinhos e os próprios açú­des e calendras –, ainda que privado, interessando a toda a comunidade, é tam­bém um bem de interesse público. Se a sua preservação é, em primeira instân­cia, obriga­ção do respetivo titular, é-o também, subsidiari­a­mente, dos órgãos de ação política e representativos da comuni­dade.

* Pensar globalmente, agir localmente… Este princípio, que traduz a necessidade de encon­trar solu­ções locais para problemas que são globais, remete para a ideia de ser pela nossa casa, ou seja, pela localidade onde vivemos que é preciso começar, na convic­ção de que as de­mais farão o mesmo.

* O Poder Local democrático corresponde à criação de uma relação política que, ape­sar de diferente da mercantil, pressupõe também a celebração de um pacto, ainda que tácito, en­tre o(s) ci­dadão(s) e o(s) autarca(s), assente no compromisso do(s) elei­to(s) promo­ve­r(em) o desenvolvimento local. Para o efeito, quando da elei­ção e antes da deci­são, o(s) au­tarcas deve(m) auscultar e os cidadãos manifestar-lhe(s) os seus principais anseios. Uma vez eleito(s), o(s) autarca(s), não se limitando a dar voz a si mes­mo(s), fica(m) vincula­do(s) ao dever de representar, respeitar e defen­der os interesses de todos os eleito­res.

* O aprofundamento da relação política democrática tende a levar os ci­dadãos eleito­res a tornarem-se cada vez mais exigentes em relação aos autarcas que ele­gem, o que po­de traduzir-se na apresentação de uma espécie de caderno de encar­gos, contemplando os seus principais anseios em relação ao que desejam para a sua terra e que os candidatos autárquicos se comprometem a adotar e a prosseguir de­pois de elei­tos.

* Recusando o maniqueísmo, nem tudo se reduz a ser branco ou preto. Entre os extre­mos desta polaridade cromá­tica, os próprios daltóni­cos, apesar de não pode­rem vislumbrar o resto da pa­leta de co­res, conse­guem, contudo, descortinar, conso­ante as cambiantes, a intensi­dade e a predomi­nân­cia de um ou de outro, a variância, mas também a identidade semân­tica, das tonalidades de cin­zento que se lhes interca­lam.

* Os políticos não são santos nem diabos, são pessoas. Partilhando as virtu­des e os defeitos intrínsecos à humana condição, não podem, contudo, abdi­car de marcar e orien­tar a sua ação por valores e princípios e seguir a ética de ser­viço pú­blico. Recu­sando quaisquer formas de despotismo, maquiave­lismo, caciquismo e nepo­tismo que não são admissí­veis, têm de prosse­guir o interesse público.

3- Obra realizada pelo Poder Local democrático

Ao longo dos últimos mais de 40 anos de Poder Local democrático em Portu­gal, as Juntas de Freguesia e a Câmara Municipal de Vimi­oso foram da responsa­bilidade polí­tica oscilante entre dois partidos políticos: o PS e o PSD. Assim, fo­ram sendo realiza­das obras e adotadas medidas que se traduzi­ram na melhoria de condi­ções de vida da po­pula­ção das freguesias e do conce­lho: abaste­cimento de água, sanea­mento bá­sico, recolha seletiva de lixos domésti­cos e ilumina­ção pública; rede viária, com a constru­ção de estradas munici­pais, arranjo e (re)pavimentação de ruas e de cami­nhos rurais; constru­ção do Par­que Indus­trial, Casa da Cultura, Campo de Fute­bol, Piscina Munici­pal, Mercado Municipal, Parque de Campismo, Zona Industrial e do Pavi­lhão Mul­ti­u­sos na sede do concelho.

Complementarmente a tais obras, foram tomadas outras medidas: a atribui­ção de subsí­dio à família quando do nascimento de uma cri­ança; Complexo Termal da Terro­nha; Parque Industrial e venda dos respetivo espaços a preço simbólico; Cen­tro In­terpreta­tivo e Mu­seu das Minas de Argozelo; Museu Marrano de Carção; Museu Rural de Caçarelhos; Feira das Artes, Ofícios e Sabores de Vimioso; Par­que Ibérico, Turismo e Aventura; Des­porto Aventura e even­tos motorizados; recupera­ção de pom­bais, igrejas e capelas; arranjo de zonas de la­zer; construção de charcas destina­das a atenuar a falta de água no verão e, assim, o gado passar a dis­por de bebedou­ros espalha­dos pelo termo.

No caso de Angueira, são assinaláveis algumas obras realizadas pela Junta de Fregue­sia, com base em projetos que obtiveram financiamento comunitário e outras com apoio da Câmara Municipal: zona bal­near e Parque de Merendas da Cabada; arranjo e pavimen­ta­ção da via entre São Sebastião e Terroso, ao longo da ri­beira; recupera­ção do Forno da Telha; reconstru­ção das pontes da Yedra, da Senhora e da Çanca; construção da sede da Junta e da Associa­ção; limpeza de matas; arranjo do açúde das Ulmedas; ar­ranjo dos pontões das Antraugas e de Telhado; (re)pavimentação de ruas; constru­ção de charcas; ar­ranjo de caminhos rurais.

No entanto, são vários os problemas que persistem ainda. Não obstante as especificida­des da localidade, tais problemas, não sendo exclusi­vos de Angueira, são comuns à generali­dade das aldeias das Terras de Mi­randa, do Nor­deste Transmon­tano e do Interior do país. Tratando-se, porém, de encon­trar so­luções locais para problemas que são globais, é pela nossa aldeia que temos de começar. Esta ideia su­porta-se na convic­ção de que as demais, sendo pro-ati­vas e exigen­tes com os seus representan­tes políticos, farão, ou acabarão por fazer, o mesmo.

Tratando-se do Poder Local e havendo que ser pragmáticos, o que mais im­porta e inte­ressa é solucionar os problemas que afetam a co­munidade. Assim, a nosso ver, o apoio dos munícipes deverá ser dado ao(s) candi­dato(s) autárquico(s) que, credivel­mente, se compro­meta(m) a inscrevê-los no respetivo pro­grama de ação e, acima de tudo, a fazer tudo quanto esteja nas suas mãos e ao seu alcance para os resolver.

A obra realizada não pode constituir motivo para deslumbramentos e, ainda menos, servir de pretexto para esque­cer o muito que falta ainda reali­zar. Se nem sempre as op­ções tomadas e as priorida­des eleitas terão sido as mais adequa­das, importa, agora, em vez de ficarmos a chorar sobre o leite derramado, equacionar, apontar e relevar o que é mais ur­gente e prioritário realizar nos dois próximos mandatos daque­les a quem os eleitores ve­nham a con­fiar os seus destinos, conferindo-lhes a responsabilidade política de gerir as autarquias: a Junta de Freguesia e a Câ­mara Munici­pal. Assim, as necessida­des que se enunciam correspondem ao que, por or­dem de prioridade, tendo em conta o interesse da localidade e do concelho, se consi­dera relevante prosseguir na duração dos respetivos mandatos.

Tendo em vista a grandeza da obra a realizar, reconhece-se que os recursos financei­ros das autar­quias, longe de serem inesgotáveis, são sempre escassos. Assim, ganha pleno sen­tido o velho aforisma: Roma e Pa­via não se fizeram num dia. Corroborando também o adágio devagar que tenho pressa, admite-se que haja que definir priorida­des e o consequente fasea­mento das medi­das a tomar, de­vendo decorrer e ter como re­ferencial a importân­cia estratégica das mesmas em função das necessidades da localidade e dos inte­res­ses do concelho.

Não se desconhece também que, enquanto não se esgotarem os Fundos da União Euro­peia, as autarquias podem ainda contar com avultados recursos financei­ros suple­menta­res. E não se ignora também que uma gestão rigorosa e criteri­osa per­mite potenciar e tirar maior proveito de tais recursos.

A extinção da freguesia de Angueira, decorrente da reconfi­gu­ração do mapa das fregue­sias, é uma problemática que está ainda longe de encer­rada e, portanto, ainda em aberto. É que a desig­nada União de Freguesias de Caçare­lhos e Angueira tradu­ziu-se, de facto, tão só na ex­tinção da freguesia de Angueira. Ora, se tivermos em linha de conta as afinidades, inclusive familiares, que qualquer união implica, parece ser com Avela­noso que An­gueira as tem maiores. Mas, se, para o efeito, a relevân­cia for conferida ao interesse co­mum, devido ao percurso seguido pela ribeira, parece se­rem Serapi­cos e San Joanico, localidades contíguas também, que mais se aproxi­mam às de Angueira. Seja qual for o critério, nem a tradição, nem a distância, nem as afi­nida­des apon­tam para a união entre Angueira e Caçarelhos. Neste quadro, parece mais ló­gico que Caçarelhos e Vilar Seco – localidade que não se percebe o motivo por que fi­cou de fora da reconfiguração que teve lugar – venham a constituir uma união de fregue­sias. Quanto a Angueira, depen­dendo do critério que for seguido, tanto poderá vir a constituir uma união com Avela­noso como, tendo em conta o per­curso seguido pela ribeira, com Serapicos e São Joa­nico, passando, consoante o caso, Vale de Frades a consti­tuir união com Pinelo ou com Avelanoso.

Trata-se de uma perspetiva política? Certamente, se a entendermos no sentido etimoló­gico e mais nobre do termo: o governo da cidade. Este, para ser legítimo, tem de se fundar na livre escolha dos cidadãos, que, para o ser, carece de ser esclare­cida. Ad­mitindo que, por vezes, as escolhas dos cidadãos possam não o ser nem terem sido as melhores, não resta outra atitude senão respeitá-las. É que o so­be­rano é o povo. Partidária? Não, sem prejuízo das con­vic­ções e op­ções, legíti­mas e constitu­cional­mente consagradas, que possamos ter em relação ao que considera­mos ser me­lhor para a terra onde nascemos ou vivemos, direito de que, en­quanto cida­dãos, nin­guém nos pode pri­var e não pode­mos, nem queremos, ab­dicar. Ainda que, em democracia, o(s) par­tido(s) político(s) seja(m), por via da representa­ção, mediador(es) entre o cidadão e o sistema de governa­ção política, é a von­tade do cidadão a que deve prevalecer. As­sim, não é o cida­dão que tem de respon­der pe­rante o(s) partido(s), mas o(s) eleito(s) pe­rante o(s) eleitor(es) que repre­senta(m).

4- É imperativo…

4.1- Preservar o património

A ideia subjacente à visão tradicional de património, sobretudo ao material e pri­vado, é a de tratar-se de um legado familiar deixado pelos antepassados à nova gera­ção dos seus membros. Passando de pais para filhos, sob a forma de herança, tal le­gado não lhes pertence plenamente; os seus atuais titulares têm apenas o direto a, en­quanto forem vivos, o administrar para, quando for chegada a sua hora, o transmiti­rem, por sua vez, aos seus descenden­tes. Assim, cada geração tem, pois, o dever de ze­lar pelo património fami­liar, não o dei­xando destruir, nem degra­dar, de forma a po­der transmiti-lo, se possí­vel ainda com mais valor, à sua descendên­cia.

O património de qualquer lugar pode assumir ou comportar diferentes dimensões: material ou imaterial, natural ou cultu­ral, público ou privado. Mas, conden­sando a cul­tura da comunidade, é também pertença de todos os que nele habi­tam. As­sim, zelar pelo património, mesmo que privado, é cuidar também do inte­resse pú­blico.

O património material compreende o edificado, que, sendo o mais visível e tangível em qualquer lugar, é também o que está mais sujeito à degradação gerada pelas inclemên­cias ocorridas ao longo do tempo.

Em Portugal, a intensificação das migrações – externa, a partir dos anos 60, e in­terna, a partir dos anos 70 do século XX – levou ao despovoamento das localidades ru­rais do interior do país, problema que a redução da natali­dade e a perda da relevân­cia económica da agricultura agravariam ainda mais. Assim, resta, hoje, na generali­dade destas povoa­ções – o que corresponde a extensas áreas do território nacional –, um reduzido número de residentes e uma população muito envelhe­cida, o que, no limite, pode condicionar, e comprometer até, a própria de­fesa do país.

Não espanta, pois, a existência de muitas casas quase ao abandono e em ruína, a preci­sar de interven­ção urgente, na generalidade das aldeias, pro­blema cuja solução re­mete para a convergência de esforços dos residentes, do Poder Local e do Go­verno nacional. Assim, importa que, complemen­tar ou mesmo autonomamente à polí­tica do Go­verno, os órgãos de Poder Local apostem em medidas que, aju­dando a revitalizar e revalorizar o res­petivo territó­rio, contribuam para o seu repovoa­mento.

Em Angueira, para além das casas de viver, há ainda, em ambas as margens da ribeira, os moinhos, alguns dos quais com a respetiva casa do moleiro, bem ainda os açúdes e as ca­lendras – canais que desviam a água do seu curso natural para a conduzir do açúde ao moinho e às hortas existentes ao longo das mesmas –, a exigir urgentes cuidados.

Excluindo o moinho de Telhado – que, como sempre ouvi dizer, é do povo –, os demais são património privado. Assim, é aos proprietários que, em primeira instância, incumbe cuidar deles e fazer as obras necessárias para os não deixar degradar ou arruinar mais, evitando, assim, que se percam para sempre.

O que se passa com os moinhos, as casas do moleiro, os açúdes e as calendras de An­gueira é, pois, muito preocupante. Se, pelos moinhos da Yedra e da Nalsa, bem como pelo pisão, que, em tempos, existiu na Cabada, e foram destruídos ou estão em com­pleta ruína, já pouco ou nada se pode fazer, quanto ao dos Lucas ou das Trés Ruodas, ao de Terroso, ao da Senhora e ao de Telhado, às casas do moleiro, aos açúdes e às calen­dras, se, urgentemente, não se lhes acudir, dentro de pouco tempo, também já pouco, ou mesmo nada, restará deles.

A questão da propriedade dos moinhos e das casas do moleiro – que têm vários proprietá­rios, alguns dos quais residentes no Brasil e outros mesmo desconhecidos, à maior parte dos quais faltarão condições e recursos financeiros para os cuidar e preser­var devidamente – complica ainda mais a sua recuperação, mas não impede que a sua conserva­ção seja também do interesse de todos.

Caso diferente é o dos açúdes e das calendras que, para além de reserva de água desti­nada a fazer girar a mó dos moinhos, eram também e continuam a ser aproveitados para regar as hortas contíguas às margens da ribeira. Tratando-se, pois, de bens coleti­vos, a sua propriedade, é, salvo melhor opinião, da comunidade.

Se os seus proprietários não têm meios nem condições para os recuperar, os ór­gãos do Poder Local não podem ficar indiferentes ou passivamente à espera de que, a breve prazo, este património, continuando a degradar-se a ponto de que, tornando-se irrecuperá­vel, se perca para sempre. Em ambos os casos, é à Junta de Freguesia e à Câ­mara Municipal que, em diálogo com todos os interessados – os residentes e os respeti­vos proprietários –, incumbe encontrar soluções e arranjar forma de lhes acudir – nem que, em situação limite, seja por via da expropriação – que permitam cuidar e salvaguar­dar este património. Estou convicto de que, fazendo convergir vontades, será possível encon­trar formas de conciliar a prossecução do interesse público com o direito privado e outras soluções, com recurso a fundos da União Europeia, para acudir, recuperar e dar fun­ção útil a tão rico património. Deixar que tudo continue como está – isto é, a degra­dar-se – é que não pode ser e a ninguém aproveita.

Para ser democrático, o governo de qualquer localidade, município, região ou país tem de se sustentar num acordo tácito entre quem desempenha car­gos políticos e os seus eleitores. Aos titulares de tais cargos incumbe tudo fazer para que a sua terra e o seu povo alcancem, tenham e mante­nham as melhores condições de vida. E, hoje, já não se trata apenas de providenciar e garantir o sus­tento de toda a gente, mas sim de fazer com que todos vivam bem, isto é, pos­sam desfrutar também do patrimó­nio que os antepassa­dos legaram e deixa­ram.

Para além de uma obrigação de todos, cuidar do património, tanto do material como do imaterial, é também uma forma de preservar a cultura, a memória da gente –seus hábitos e costumes, seus modos de ser, de falar, de se divertir, de trabalhar e de viver –, e de a transmitir à nova geração. E esta é, simultaneamente, uma mis­são e uma tarefa para que todos somos convidados e estamos convocados.

Manter o património é conservar o que é mais genuíno e que, conferindo-lhe uma identidade própria, culturalmente distingue uma localidade, um concelho, uma re­gião ou um país em relação aos demais. E é isto que, para além da vitalidade econó­mica, tende, atual­mente, a tornar-se, cada vez mais, um dos principais motivos de atração de novos visitan­tes e de possíveis novos residentes.

4.2- Providenciar a existência de uma reserva estratégica de água no concelho

Entre as medidas a tomar, deve ser dada priori­dade àquelas que, pelo seu previsível impacto e urgência, sejam mais relevantes para a aldeia e para o concelho. Assim, para além da promoção da recuperação do património edifi­cado, com possí­vel im­pacto no retorno de alguns naturais e na atração de novos moradores à locali­dade, é prio­ritá­ria a criação de uma reserva estraté­gica de água no concelho, pelo seu poten­cial impacto no abastecimento de água às populações das localidades, no com­bate a incêndios, na rega de hortas e na manutenção do caudal ecoló­gico mínimo da ribeira de Angueira durante o verão. E, quanto mais a montante (nascente) esta for do conce­lho, maior será o proveito que podem tirar as localida­des que o inte­gram.

Complementarmente, estas medidas potenciam ainda a dinamização do mer­cado de tra­ba­lho de (re)construção, sendo previsivelmente assinalável o seu impacto no au­mento da oferta de emprego no concelho no domínio da construção civil.

5- Razão de ser das duas medidas prioritárias a realizar em Angueira

5.1- Recuperação do património edificado: casas, moinhos, açúdes e calendras

Nos anos cinquenta do século XX, a população residente – crianças e adultos – em Angueira rondava seis centenas de habitantes. Gradualmente, a partir dos anos 60, com a emigração, as migrações internas e a redução da natalidade, iniciou-se um processo que se traduziu na diminuição da população residente. Assim, resi­dem, atual e permanente­mente, na aldeia menos de uma centena de pessoas. E, não ha­vendo crian­ças, os atu­ais residentes são, maioritariamente, já bas­tante idosos. As­sim, não es­panta que haja, hoje, enorme quantidade de casas desabitadas, algu­mas das quais ameaçam ruína.

Entre o Gago, a montante da aldeia, e a Ribeira de Baixo, a jusante, existiam, no termo e ao longo da ri­beira de Angueira, vários moinhos: o do Gago, o dos Lucas (ou das Três Ruodas), o de Terroso, o da Yedra, o da Senhora, o de Telhado e o da Nalsa. No ri­beiro do Ba­lhe, mais concretamente no Cachon, havia ainda o moinho do se­nhor João Capa­dor, que, há muito tempo, deu lugar à moagem que, ainda em vida dele, foi desati­vada. Na Cabada, havia ainda o pisão, com o seu açúde e, junto ao poço dos Pun­tones, o Forno da Teilha.

Hoje, dos moinhos do Gago, da Yedra e da Nalsa e do pisão da Cabada restam ape­nas vestígios e os açú­des. Assim, excluindo a recuperação dos açúdes e calendras, já pouco ou nada mais há a fazer em relação àqueles. Os restantes quatro – os moi­nhos e as casas do moleiro dos moi­nhos dos Lucas, de Terroso e da Senhora – ainda são recuperá­veis. Mas, se, urgentemente, não se lhes deitar a mão, dentro de pouco tempo este patrimó­nio centenário acabará tam­bém por ruir e tornar-se irrecupe­rá­vel. Lembro, a propósito, que, na pedra com argola onde eram presas as bestas que transportavam os sacos de grão, que está ao lado do tranqueiro esquerdo da porta do moi­nho da Senhora, está inscrito o número 1247, data que corres­ponde a 104 anos após o Tratado de Zamora relativo à fundação e ao reconheci­mento da indepen­dên­cia de Portugal.

Para além dos moinhos e das casas do moleiro de três deles, é possível recuperar os açúdes, incluindo o do pisão (açúde das Almas), e as calendras, evi­tando-se, as­sim, a perda deste patri­mónio e dando préstimo às casas do moleiro, eventual­mente, para tu­rismo rural. Dos moinhos recuperados, poderá ser explorado o seu potencial pedagógi­cos pelo agrupamentos de escolas de Vimioso e dos concelhos vizinhos.

Para recuperar os açudes e as calendras dos moinhos (dos Lucas, de Terroso, da Ye­dra, da Senhora, das Almas, de Telhado e da Nalsa), basta consolidar o respetivo pare­dão e as paredes existentes ao longo das margens de cada açúde, e, eventual­mente, aprofun­dar um pouco, limpar e regularizar o leito da ribeira e das calendras. E pouco mais será necessá­rio e se po­derá fazer. É que fazer subir mais o nível má­ximo atual da água dos açú­des implica­ria alagar e perder muitas das hortas existen­tes nas mar­gens da ribeira. E, com maior propriedade ainda, para além de outras coi­sas mais – designadamente, a dificuldade de obter autorização da autoridade compe­tente –, o mesmo se pode dizer da eventual construção de uma represa de água na ribeira.

5.1.1- Apoio a prestar pela Câmara Municipal à recuperação do património edificado

Uma das possíveis modalidades de apoio à recuperação do património edificado que a Câmara Municipal de Vimi­oso pode prestar, provavelmente a mais inteligente e menos dispendiosa, será disponibili­zar os respetivos serviços de engenha­ria e arquite­tura para estudar soluções, aconselhar os muníci­pes, orientar os proje­tos, acompa­nhar e fiscalizar as obras, para além do apoio logístico à elaboração de dos­siés para os submeter a financiamento da UE. Desta forma, será mais fácil conseguir que a recupe­ração de ca­sas respei­te a traça e utilize as técni­cas e os materi­ais tradicio­nais. Pela presta­ção de tal apoio, é aconselhável que a Câ­mara se limite a co­brar aos proprie­tá­rios um preço mera­mente simbólico.

Quanto à recuperação dos açúdes e das calendras, deverão ser os respetivos servi­ços de engenharia e arquitetura a projetar, elaborar os dossiés e submetê-los a financia­mento da UE, orientar e fiscalizar os trabalhos de recupera­ção. Desta forma, conservando de forma adequada o património arquitetónico, todos – a Câmara, a Junta, o dono da obra, os moradores e, sobretudo, a localidade e o conce­lho – fica­rão a ganhar.

Como alguns dos moinhos e casas do moleiro têm vários proprietários, a CMV de­verá notificá-los a fim de, dentro de um prazo razoável que, para o efeito, lhes fixar, faze­rem as obras necessárias. Caso os legítimos proprietários não se entendam e não se prontifi­quem a recuperá-los, a CMV deverá proceder à respetiva expropria­ção e recuperação.

5.2- Construir, urgentemente, uma represa de água no ribeiro da Caba­nhona

A ribeira de Angueira é um dos rios mais importantes do concelho de Vimioso. Nas­cendo em Terras de Aliste, no seu percurso, passa pelos termos de Alcanices, em Espa­nha, e, já em Portugal, pelos de São Martinho de Angueira, Angueira, Avela­noso, Serapi­cos, São Joanico, Caçarelhos, Vimioso, Vila Chã, Campo de Víboras, Uva, Vale de Algoso, Mora, Algoso, Teixeira, Saldanha, Valcerto e Junqueira, localidades dos concelhos de Vimioso, Miranda do Douro e Mogadouro, e desagua no rio Ma­çãs.

No termo de Angueira, vários ribeiros vão desaguar à ri­beira: os de Belha­rino, da Punte­lhina, do Pilico, do Balhe, da Faceira e das Barrei­ras, na margem di­reita; os das Queijeiras, dos Milanos, da Cabanhona, da Fraga, de Ourrieta la Fuonte, de Souga­nho e do Prado, na margem es­querda.

Nos maiores ribeiros que nela desaguam – o da Cabanhona e o dos Milanos –, con­fluem as águas das chuvas e de várias nascentes de terras com muitos quilómetros quadra­dos de extensão; o da Cabanhona nasce em Genísio e recebe ainda águas dos termos de Caçarelhos e de Angueira (Bal de Molhado, Carrasquito, Tra­bacinos, Fres­nos, Bal de l Quadro, Stante, Malhados, Sculqueira, Lhatas de l Meio, Chapeiron, Ste­bica, Palombeiras, Muola, Sapeira, Lha­gona, Spino, Lhadron, Rama­lhal, Cabanhona, Cabeç Molhón e Cabeç l Cuorbo); o dos Milanos nasce na Especi­osa e recebe ainda águas do termo de Angueira (Cabeça Gorda, Ourrieta Morena, Lhamei­ras, Peladas, Portu­gueses, Mila­nos, Palancares, Cascalhal e Cabeç Molhón). Daí que, quando chove intensamente, estes ribeiros ga­nhem grande caudal, contribuindo, assim, para o aumento do leito das cheias da ri­beira de Angueira.

Estes ribeiros cor­rem e desa­guam em vales apertados – o da Cabanhona e o da Re­tuorta –, condi­ções orográfi­cas que, sendo nuito favoráveis, tornam mais fácil e me­nos dispen­dioso fazer em cada um deles uma represa de água.

Sobretudo no inverno, mas também no outono e na primavera, nos anos de maior pluviosi­dade, é usual haver várias e grandes cheias na ribeira de Angueira. Por exem­plo, no inverno e na prima­vera de 2016, cho­veu tão intensamente que a ribeira e a vala da irri­gação ainda corriam em agosto e os açudes estavam ainda cheios de água, o que, há mui­tos anos, já não acontecia. É que, geralmente, a partir do fi­nal de ju­nho, começa a es­cas­sear a água na ribeira, mesmo nos açudes, deixando, durante o verão, de ha­ver água suficiente para garantir um caudal capaz de alimen­tar poços e açú­des, a vala da irrigação e a zona balnear da Cabada.

A captação de água para abastecimento de Vimioso e de algumas aldeias da parte sul do concelho – Algoso, Campo de Víboras – é feita na ribeira de Angueira. No ve­rão, com a seca do leito da ribeira, a água para abastecimento destas localidades torna-se insuficiente e de fraca qualidade. Sobretudo nos anos de seca, que tendem a ser cada vez mais frequentes, é vulgar faltar água suficiente para assegurar tam­bém o caudal ecoló­gico mí­nimo da ribeira, para o abastecimento de água de quali­dade à sede e outras localidades do conce­lho, para ali­men­tar açúdes e poços ao longo do percurso e poder re­gar as hor­tas e para acudir a qualquer incêndio. Assim, é imprescindível encontrar forma de aproveitar e re­ter a água da chuva de ou­tono, inverno e primavera, em Angueira, para que o conce­lho dela possa dis­por no verão.

Assim, tendo em conta as condições orográficas favoráveis, é urgente que, para o efeito, se cons­trua no ribeiro da Cabanhona, já na Se­nhora, uma represa de água e, mais tarde, uma outra no ribeiro dos Milanos, ao cimo da Retuorta. Sendo poucas e pequenas as hortas existen­tes nas margens destes ribeiros, será pe­queno, em ter­mos agrícolas, o preju­ízo decorrente da construção destas re­presas. Para além disso, tal construção pode ser feita com recurso a fund­os da União Euro­peia.

A construção destas re­presas com alguns metros de altura, em terra batida e pe­dra, para além de, no inverno, permitir regular o volume das cheias da ribeira, teria ainda ou­tras vanta­gens adicionais para An­gueira e para o conce­lho de Vimioso: passa­riam a dis­por de água suficiente e de melhor qualidade para abastecimento público, para eventual abastecimento de helicóp­te­ros, quiçá mesmo de avi­ões de com­bate a incên­dios, para alimentar o canal de irrigação e para a rega das hortas, du­rante o verão. Direta ou indiretamente, esta solução beneficia­ira a maior parte ­das povoa­ções dos conce­lhos de Vimioso (An­gueira, Avelanoso, Serapi­cos, São Joanico, Vimi­oso, Uva, Vale de Algoso, Campo de Víboras e Algoso), de Mi­randa (Granja e Vila Chã da Ri­beira), para as de Mogadouro por onde passa a ribeira e ainda para o de Bra­gança e até mesmo para o ayuntamiento de Alcanices em Espanha.

6- Outras medidas a realizar em Angueira e sua razão de ser

Para além das obras enunciadas como mais prioritárias, há também que realiza­r ou­tras e assegurar ainda a adoção de diversas medidas que, para Angueira e, provavel­mente, ou­tras povoa­ções do conce­lho, se reves­tem de enorme importân­cia e de grande relevân­cia e que, seguida­mente, se enunciam.

Nem todas estas medidas apresentam o mesmo grau de complexi­dade e dificul­dade de execução nem idênti­cos valor, es­forço e custo finan­ceiro, nem ainda a mesma urgência. Dois mandatos autárquicos serão tempo suficiente e ade­quado para as levar a cabo.

6.1- Corrigir erros nas demarcações entre o termo de Angueira e das aldeias vizi­nhas e concluir a sinalização dos sítios do termo de An­gueira no OpenStreetMap

Devido à emigração e as migrações internas da segunda metade do século passado, praticamente toda a gente nova saiu de Angueira, onde fica­ram ape­nas os mais ido­sos. Com o gradual desaparecimento destes e a decadência da agricultura, a maior parte das terras passaram a fica­r de adil e de monte. Assim, hoje, é quase impossível delimitar com preci­são, e já poucos sabem de quem são, as ter­ras, onde estão os mar­cos e são as marcações da maior parte delas, sobretudo daque­las onde já quase só há monte e touças. E o mesmo se passa com as marras e as linhas de demarcação entre o termo de Angueira e os das povoações vizinhas.

A toponímia do termo de Angueira é em Mirandês. Como cada vez há menos pes­soas que ainda sa­bem os nomes e a localização exata dos sítios a que correspondem, im­porta loca­lizá-los num mapa a fim de que, quando as pessoas mais velhas desaparece­rem, não se perca esta toponímia.

O termo de Angueira confronta, a norte e a noroeste, com o de Avelanoso; a noro­este, com o de Serapicos; a poente e a sudoeste, com o de São Joanico; a sudoeste e a sul, com o de Caçarelhos; a sueste, com o da Especiosa; e, a nascente e a nordeste, com o de São Martinho de Angueira.

As marras que separam estes termos foram, há muito tempo, colocadas nos respeti­vos lugares. É possível que, devido à lavra das terras e às touças que foram cres­cendo e sendo arrancadas, muitas delas tenham sido arrancadas também. Agora, que, há tanto tempo, várias terras não são lavradas e com o monte e as touças que foram crescendo, será muito difícil encontrar muitas das marras.

Com os casamentos entre rapazes e moças das povoações vizinhas, al­gumas das ter­ras destas aldeias passaram, por herança, a pertencer a pessoas que passa­ram a mo­rar noutras. Assim, os proprietários de algumas delas deixaram de residir na povoa­ção. Contudo, não deixaram de fazer parte do termo de Angueira. E o mesmo se pas­sou também com pes­soas que, vindas de outras povoações vizinhas, por casa­mento, passaram a residir em Angueira.

No final de 2015 e em 2016, o signatário e um jovem topógrafo, emigrado em França, mas originá­rio de Angueira, contando com colaboração e ajuda de vários ou­tros naturais, têm vindo a localizar e sinalizar no OpenStreet­Map os vários sítios do termo, em Mirandês. Logo no início de 2016, aperceberam-se, porém, da existência de muitos, grandes e graves er­ros, neste e noutros mapas (carta militar e outros) onde figu­ram Angueira e as aldeias vizinhas, na sinalização nas linhas de demarca­ção en­tre os respetivos termos, todos em prejuízo de Angueira:

i) Entre Angueira e Avelanoso, consta dos mapas como sendo do termo de Avela­noso, parte de Ca­becico de Porros e da Chana, as Barreiras, Quebra Cambas, o Absedo de Bal de Xardon, Bal de Xardon, a Bouça, o Milho, Standeiro de Pardos, parte do Rodelhon, parte das Abelheiras, a Marmolina, Cabeç Alto, os Salgadeiros, a Malhadica e Cruç Branca, sítios que sempre pertenceram ao termo de Angueira. Curiosa­mente, o António Esteves alertou-me de que, antigamente, para o gado bo­vino poder circular nestes locais do termo de Angueira, o respetivo proprietário ti­nha de ter uma licença especial. Fica, assim, em parte explicado este erro que consta das cartas militares;

ii) Entre Angueira e São Joanico, constam dos mapas como sendo do termo de São Joanico, as Foias, Bal de Freixo e parte das Tomadas, do Queimado, das Lapas e de Peinha la Bela, sítios que são do termo de Angueira;

iii) Entre Angueira e Caçarelhos, constam dos mapas como sendo do termo de Caçare­lhos parte do Stante e do Bal do Quadro, que são do termo de Angueira.

Ora, que se saiba, desde há centenas de anos, todos os mencionados sítios perten­cem ao termo de Angueira.

Hoje é possível, através de GPS, encontrar, marcar e registar as coordenadas com a localização exata das marras em cartas e mapas. Poderá, assim, ficar claro onde ter­mina o termo de uma povoa­ção e começa o das povoações vizinhas.

Tal clarificação é importante para todas as povoações vizinhas. Pode­rão, assim, evi­tar-se desentendimentos futuros que, bem vistas as coisas, não são bons nem aprovei­tam a ninguém.

A referida constatação levou-nos a suspender a conclusão da tarefa a que, em traba­lho equipa, nos propuséramos até ver clarificada a questão e corrigidos os erros que detectáramos nos mapas. Pediu-se, para o efeito, a colaboração e o apoio do represen­tante de Angueira na Junta da União de Freguesias. Como, até ao momento atual, tudo parece estar na mesma, continuamos a aguardar melhor oportunidade para podermos retomar e concluir a tarefa a que nos propuséramos.

6.2- Organizar um serviço de brigadas de limpeza de matas e floresta

A situação de quase abandono – campos por cultivar, com mato ou floresta – em que, atualmente, se encontra grande parte das terras de sequeiro do termo de An­gueira obriga a equacionar formas de atenuar o risco de incêndio que, a qualquer momento, sobretudo no verão, pode nelas deflagrar. Assim, e porque várias dessas terras têm como proprietários muitos não residentes, alguns deles emigrantes no Brasil ou em países da União Europeia e sem meios e recursos financeiros suficientes para, por inicia­tiva própria, assegurar a lavra e limpeza dos mesmos e suportar os respeti­vos custos, importa que a Câmara Municipal ou a Junta de Freguesia providen­ciem a organização ou garantam a contratação de brigada(s) de limpeza que, a custo aceitável, possam assegurar a limpeza de matas e floresta e à poda e lavra desta.

Assim, detetada a existência de situações de falta de limpeza de matas ou floresta que possam facilitar a deflagração ou a propagação de incêndios e comprometer a segurança, a Câ­mara Municipal ou a Junta de Freguesia notificarão o(s) proprietá­rio(s) no sen­tido de re­solver o problema, alertando que, caso o não faça(m) dentro do prazo conce­dido para o efeito, providenciarão a realização da referida limpeza, cobrando ao(s) proprietá­rio(s) uma importância equivalente ao custo da mesma.

6.3- Concluir a construção do troço entre a Cruzica (Angueira) e a Especiosa da estrada municipal (EM 546) que liga Vimioso à Especiosa e ao Naso

Há já muitos anos, eram ainda Zé Mi­randa e Júlio Meiri­nhos, respetivamente, os presiden­tes da Câmara de Vimioso e da Câmara de Miranda do Douro, fez-se o rompi­mento da estrada entre a Cruzica, pas­sando pelo Ramalhal e pelas Lhameiras, no termo de Angueira, e a Especiosa. Tra­tava-se de fazer uma ligação rodoviária mais curta entre Vimioso e o Naso, mas que servia também São Joanico e Angueira. Já depois de ter sido feito o rompimento, a mudança dos presidentes das menciona­das câmaras municipais e dos respeti­vos partidos traduziu-se na suspensão, até ao presente, da constru­ção do refe­rido troço desta estrada.

Parece, agora, chegada a hora de retomar e concluir uma obra que, sem qualquer razão plausível, foi interrompida.

6.4- Construir uma variante à estrada municipal (EM 545) entre Angueira e as Três Marras que permita desviar da povoação a maior parte do trânsito automóvel

Atualmente, muitos veículos automóveis ligeiros e pesados têm de passar pela povoa­ção. A construção de uma variante à EM 545, entre o alto do Rodelhon e a ponte da Cabada, permitiria desviar a maior parte do trânsito automóvel, sobretudo o de pesa­dos, da povoa­ção. Evitar-se-ia, assim, a passagem pelo Lhargo de Sante Cristo, sítio onde os camiões têm grande dificuldade em passar, pois têm, para o efeito, de fa­zer grandes e difíceis manobras e, mesmo assim, alguns deles acabam por embater e danificar as pare­des de algumas casas e da capela.

Com o preço a que hoje estão as terras e o abandono da agricultura que continua a verificar-se, será pouco elevado o custo da construção da referida variante. Bastará seguir, alargar e corrigir parte do traçado do caminho já existente entre o alto do Rode­lhon, o cruzamento ao cimo de Boca ls Balhes, o Lhombo das Eiras e as Eiras Grandes até ao cimo da Caleija da Senhora e a capela de San Sebastian e, a partir deste, abrir uma nova via até a Cabada. No cimo das Eiras, a vari­ante deverá dar acesso ao caminho atualmente existente e que, pela Rua das Eiras, vai dar ao Ronso. Entre a capela de San Sebas­tian e a ponte da Cabada, haverá que construir um novo troço, de poucas centenas de metros, que, seguindo pelas cortinhas do Tanque, per­mita desviar o trânsito automó­vel, evitando, assim, que te­nha que passar pela Rua de Saiago e pela Eigreija.

6.5- Dar préstimo ao antigo edifício da escola

Vários anos após o incêndio que deflagrou na antiga escola, a Câmara Municipal de Vimioso procedeu à recupera­ção do edifício, que foi construído pelo povo nos anos 30 do século XX. No entanto, não quis, ou não soube, dar-lhe uma função útil. Assim, as duas grandes salas que o compõem encontram-se vazias e sem qualquer prés­timo.

Como as respetivas instalações parece reunirem as condições necessá­rias para o efeito, pode ser convertida num centro de dia, com ocupação e serviço de almoço para pessoas da terceira idade. Evi­tar-se-ia, assim, que os ido­sos ainda não incapacita­dos tenham que, prematura­mente, ser interna­dos em lares, ficando afasta­dos e sem os cuidados da família e deixando a aldeia ainda mais despovo­ada.

6.6- Plantar árvores de sombra na povoação e em alguns sítios do termo

Antes do acidente nuclear ocorrido, há já muitos anos, na central de Chernobyl, ha­via olmos em vários sítios do termo e da povoação de Angueira que, nesse ano, seca­ram: na povoação, havia-os no Balhe, no Ronso, no largo onde era a fonte da Eigreija, no Cachon, na Çanca e na Salina; no termo, havia-os na Yedra, na Re­tuorta, na Cabada, na Açúda de las Almas, nos Puntones, nas Ulmedas e nas Antrau­gas. Para além dos olmos, cresciam naturalmente ou eram plantados, junto à ribeira e aos ribei­ros, amieiros, freixos, choupos e alvarinhos. Nas partes mais secas do termo, cresciam naturalmente carvalhos, carrascos e vários tipos de arbustos.

A arborização então existente na povoação ajudava as pessoas a resistir aos rigores do clima, especial­mente ao intenso calor de verão. Com o desaparecimento dos ol­mos, hoje pou­cas são as árvores que restam e que, com a sombra, ajudem a ameni­zar as ele­vadas temperaturas que se fazem sentir durante o ve­rão.

Será, pois, da maior conveniência proceder à plantação de árvores de sombra ao me­nos nos seguintes sítios da povoação: Lhargo de Saiago, Sagrado, Cachon, Çanca, Sa­lina, Balhe, Beiga de l Casal e Canhada.

6.7– Disponibilizar aos moradores e visitantes acesso livre à Internet

Duas das três operadoras de telemóveis – Nós e Vodafone – têm fraco ou nenhum sinal em Angueira. Atualmente, porque só a MEO dispõe de uma força de sinal aceitá­vel, muito dos moradores e, sobretudo, os visitantes não têm acesso nem con­tacto fá­ceis com o exterior, o que os impede de aceder ao que se passa no mundo.

Como já acontece em outros sítios do país – por exemplo, no conce­lho de Esposende –, seria vantajosa para toda a gente a disponibili­zação do acesso fácil, livre e rápido à In­ternet na povoação.

Para além disso, há também que pressio­nar as operadoras de telemóveis no sentido de porem à disposi­ção da gente de Angueira a rede 4G. Desta forma, qualquer mora­dor ou visi­tante poderá a ela aceder mais facilmente. Assim, fica resolvido, pelo me­nos em parte, o problema da difi­culdade de acesso pelas redes de telemóvel.

6.8- Fazer uma conduta subterrânea destinada à passagem de linhas e cabos e substituir os postes telefónicos e elétricos existentes na povoação 

Quando, no final dos anos 50 e 60 do século passado, foram instala­dos os postes, as linhas telefónicos e os cabos elétricos, as pessoas, que ansiavam por passar a dispor de te­lefone e de eletricidade o mais rápido possível, sem ficarem a aguardar mais tempo à es­pera deles, nem se deram conta do mal que ali ficavam. Depois, acaba­riam por se acostu­mar a vê-los ali. Mas, quem vai de fora logo se dá conta de quão inestéticos são e mal ficam uns postes tão feios e tantos fios a cruzar-se e a atraves­sar de um lado para o outro da rua, uma das coisas que, esteticamente, mais preju­dica a beleza das nossas povoações. E Angueira não escapa a isso.

Para resolver o problema, há que sensibilizar os moradores e convencer a Câmara Municipal de Vimioso a fazer uma conduta subterrânea em todas as ruas da povoa­ção, come­çando pelas mais importantes, e a aprovar um regulamento próprio. De­pois, há ainda que sensibili­zar e convencer as concessionárias – a PT e a EDP – a mu­dar e fa­zer pas­sar as respetivas linhas ou cabos por tal conduta. Passando o forneci­mento de eletricidade e do serviço telefónico e, eventualmente, de internet e de televi­são por cabo, a ser feito por esta conduta, para além de se reduzir o risco de avarias e melhorar tais serviços, acaba-se com a inestética e densa amálgama aérea de fios e ca­bos atualmente visíveis entre os pos­tes elétri­cos e telefónicos e as habita­ções.

6.9- Fazer uma conduta para drenagem das águas pluviais na povoação

Quando, há muitos anos atrás, a Câmara Municipal de Vimioso instalou a rede de saneamento básico em Angueira, não providenciou a instalação de uma conduta pró­pria destinada à recolha e drenagem das águas pluviais, que permita evitar que, nos dias mais chuvosos e em que haja enxurradas, sobretudo de outono, inverno e prima­vera, a água da chuva es­corra pelas ruas e nestas se forme gelo.

Assim, ao tratar de instalar a conduta subterrânea para passagem de cabos telefóni­cos e elétricos, é de aproveitar para, paralelamente, instalar também outra conduta destinada à recolha das águas pluviais.

6.10- Reconstruir algumas das habitações que estão em ruína e risco de se perder

Algumas casas de Angueira, atualmente em ruína, mas que, pela sua localização ou pela importância que tiveram na vida das pessoas e na cultura da aldeia, sendo, a vários títulos, memoráveis, merecem ser reconstruídas: a casa do senhor Cor­reia e da dona Laura, na Rua do Cachão; a casa da dona Palmiri­nha, pouco abaixo da capela de Sante Cristo, na Rua da Salina; e a casa do Padre Lino, perto do Ronso, também esta recentemente demolida por ameaçar ru­ína e falta de entendi­mento entre os respetivos herdeiros.

Na sequência do incêndio que, há já vários anos, consumiu a casa do sr. Correia e da dona Laura, a Câmara Municipal de Vimioso procedeu à demolição total do interior e par­cial das paredes exteriores da mesma. Já neste verão, como se pode constatar por fotogra­fias publicadas nas redes sociais, a pretexto de alargar a Rua do Cachon, demoliu-se a garagem e o que restava das paredes exteriores da casa viradas a po­ente e a sul. Em relação a uma e a outra destas opções, expresso as minhas reservas. É que, a meu ver, em vez de demolir as paredes, a Câmara Munici­pal deveria ter op­tado por protegê-las de forma a evitar a infiltração de água da chuva. Assim, para além de ganhar tempo até que, eventualmente, aparecesse al­guém interessado em reconstruir a casa ou a Câmara dispor de fundos suficientes para o fazer, não se inviabili­zaria a futura reconstrução de uma casa, a vários títulos, memorável, de An­gueira. Foi nela que as pessoas de várias gerações viram, pela primeira vez na vida, a projeção de um filme; foi a primeira casa de Angueira com luz elétrica, produzida por um gerador, décadas ainda antes de chegar à aldeia a eletrici­dade; foi nela que muitos alunos da dona Laura – especialmente os que se preparavam para o exame de admissão ao liceu, mas não só – continuavam o estudo após, diaria­mente, haverem cumprido o horário escolar habitual; e, sobretudo, esta casa tinha um largo pátio interior, circular e com vários degraus, que, salvaguardadas as devidas propor­ções, fazia lembrar um tea­tro grego clássico, bem como um grande alpendre co­berto, também interior, a rodear o pátio e que dava acesso aos cómodos da casa, e ainda um lindo, amplo e vistoso solário, virado a sul, todos fabulosos. Trata-se de uma casa que, mais que um foco, foi mesmo um farol de civilização em relação a An­gueira. Lamenta-se, pois, o que se fez a esta que era uma das casas mais memoráveis de An­gueira. Espera-se que esta último demolição não comprometa definitivamente, tor­nando-a totalmente irreversível, a possibilidade de eventual reconstrução de uma casa com tantas memórias dignas de registo.

Porque as casas não são apenas pedras e o “progresso” não se traduz em arrasar tudo o que é velho e passado e parte da memória e da cultura de um povo, defender o patrimó­nio arquitectónico é preservar também muito do que dignamente representa os que nos antecederam e está associado à memória dos mesmos por parte da respetiva descendência e de quantos, hoje, residem em Angueira ou se sentem afetivamente liga­dos a ela.

Assim, a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal, deverão contactar os herdeiros des­tas casas no sentido de os auscultar, motivar e apoiar na respetiva reconstrução. Se, de todo em todo, tal se revelar inviável, deverão, então e como se preconiza para o caso dos moinhos e respetivas casas do moleiro, ser estudadas e aplicadas outras soluções tendentes a evitar a perda definitiva deste património.

6.11- Assegurar ou concessionar um circuito de transportes públicos no concelho

Uma população residente envelhecida e a care­cer cada vez mais de assistência mé­dica tem de se deslocar mais frequentemente ao Centro de Saúde, ao médico e à farmácia e ainda, como qualquer cidadão, a outros serviços públicos. As contingên­cias próprias do transporte escolar não permitem responder adequadamente às necessi­dades destas pessoas. Se não dispuserem de automóvel próprio e de carta de condução, atual­mente, só o poderão fazer a expensas próprias e recor­rendo ao ser­viço de táxi ou, aleatoriamente, a boleias. Ora, tratando-se de pessoas, geralmente com baixas refor­mas e fracos recur­sos, é-lhes incomportá­vel suportar os elevados custos de tais deslocações.

Assim, torna-se imprescindível disponibilizar ou concessio­nar uma rede de minibus que, diariamente, assegu­re à população resi­dente nas aldeias a possibilidade de se deslocar à sede do conce­lho.

6.12- Delimitar uma área de proteção dos castros da Quecolha e do Castro

Para além da capela de S. Miguel, existem no termo de Angueira dois exemplares memoráveis e ainda mais antigos que testemunham a riqueza do seu património: o castro da Quecolha (Cacoia) e o castro do Castro. Sobretudo nas imediações do pri­meiro, a lavra das terras fez emergir alguns vestígios que, hoje, ornamen­tam o espaço entre a sede da Junta e da Associação e a ponte do Pilo. No entanto, é bem provável que outras peças aí encontradas tenham tido, eventualmente, outro destino.

Parece necessário afastar semelhante risco. Assim, importa delimitar uma área de proteção a cada um dos dois castros existentes no termo de Angueira e expropriar as terras à volta dos mes­mos de forma a salvaguardar as ruínas e a evitar que sejam destruídas e possam tornar-se irrecuperáveis.

6.13- Melhorar as vias pedonais existentes ao longo das margens da ribeira

A ribeira de Angueira apresenta um conjunto de atrativos turísticos – o arvoredo, o sistema de açúdes, calendras e moi­nhos, as casas do moleiro, as hortas, as variedades de fauna e flora e a fres­cura que, à beira dela, se sente no verão – condições favoráveis que a tornam um ponto aprazí­vel para a realização de piqueniques, passeios a pé e outras atividades de lazer. Melho­rando as vias que acompanham a ribeira, aproveitar-se-ia bem melhor todo esse grande potencial que a mesma apresenta.

Trata-se de fazer com que, para além dos visitantes, também os residen­tes possam por elas circular com maior facilidade, rapi­dez, comodi­dade e segu­rança e possam ainda ser aproveitadas pelos agricultores para se desloca­rem para as suas hortas.

6.14- Sinalizar sítios e percursos, percursos, corriças e fontes existentes no termo

Por entre a aridez da paisagem, há em vários sí­tios e espalhadas pelo termo de Angueira uma nas­cente ou fonte, ge­ralmente seguida de uma augueira que, com maior ou menor fio de água, interrompe aquela secura. Será de toda a conveniên­cia em assinalá-las nos percursos do termo de forma a que eventuais pedestrianos se possam orientar, saber a localiza­ção exata em que se encontram e, em caso de necessidade, refres­car-se e abastecer-se de água.

6.15- Sensibilizar o alcalde de Alcanices para a necessidade de melhorar a via rodoviária entre a fronteira das Três Marras e a dita localidade e o acesso à E-82

Aprofundar contactos com o alcalde do ayuntamiento de Alcanices no sentido de o sensibilizar para a necessidade de melhorar a carretera de Portugal das Três Mar­ras, via de ligação entre a raia e a E-82 nesta vila espanhola. Tal melhoria, com corre­ção de percurso e alargamento da via, deveria ainda contemplar um novo ponto de liga­ção entre es­tas vias, entre a carre­tera de San Bitero e a carretera de Arcocilho, mais a poente do atual entroncamento, localizado junto ao posto da Guardia Civil.

6.16- Encontrar solução para cultivo de latas e terras de regadio e aproveita­mento dos lameiros

Devido à orografia e aos cursos de água existentes no termo, Angueira dispõe, nas margens da ribeira e dos ribeiros, de muitas latas ou hortas: Chapaçals, San Mi­guel, Ribeira de Baixo, Nalsa, Souganho, Antraugas, Te­lhado, Ulme­das, Faceira, Areal, Fa­ceira de l Prado, Mediana, Salina, Cachon, Balhe, Çanca, Múrio, Cabada, Tanque, Ourri­eta Caliente, Yedra, Ter­roso e ainda as de Bal de Conde, Puntelhina, Retuorta e Caba­nhona. Sendo terras de aluvião e rega­dio, de muito boa qualidade e grande poten­cial para a pro­dução de hortícolas, estas latas da­vam, em regra, duas produ­ções anuais.

Até aos anos 80 do século passado e não obstante a emigração, eram muito raras as ter­ras de Angueira, mesmo as de se­queiro, que ficavam de adil. A maior parte de­las, sem fa­lar das latas e outras terras de regadio, ou eram de cultivo ou lameiros para pasto dos ani­mais.

Com o abandono da agricultura, subsequente à entrada de Portugal na CEE, as ter­ras de sequeiro foram as que, primeiro, deixaram de ser cul­tivadas, ficando de floresta ou de monte. Poucos anos mais tarde, passou-se o mesmo com as baixas e as corti­nhas mais frescas, de regadio, de al­guns vales. Mais recente­mente, nas margens da ribeira e dos ribeiros, são já muitas as latas por cultivar e até al­guns lameiros que não são lim­pos, nem guardados. Apesar de ficarem per­to da povoação, algumas latas da Fa­ceira, da Mediana e da Salina encontram-se já, hoje, sem cultivo. Sendo terras de aluvião e de muito boa qualidade, é escandaloso, quase até crimi­noso, encontra­rem-se nesse estado. É que, como se sabe, em Por­tugal não há mui­tas ter­ras de tão boa qualidade. Seria essa uma das razões pelas quais, nos séculos XIII e XIV, o abade do mosteiro de Moreru­ela – dono de terras do termo de Angueira – as concedia a quem as pudesse cultivar. E se, ainda não há muito tempo, estas latas da­vam duas produções anuais, agora, muitas delas não dão sequer uma.

Havendo, pois, que fazer alguma coisa para incentivar o cultivo, ao me­nos, das la­tas e o aproveitamento dos lameiros, dever-se-á, para o efeito e antes de mais, come­çando pelas latas das Ulmedas, da Faceira, da Mediana, da Salina, do Cachon e da Çanca, todas elas com possibilidade de rega pelo canal da irrigação, fa­zer o seguinte:

i) Solicitar apoio ao Ministério da Agricultura para medir, calcular áreas, fazer as plan­tas da localiza­ção exata das latas e o levanta­mento dos respetivos proprietá­rios;

ii) Auscultar os proprietários no sentido de sa­ber se estarão dispostos a ceder, por arrendamento, as respetivas latas para cultivo por possíveis inte­ressados;

iii) Estabelecer o preço da renda a pagar aos seus proprietários, variá­vel em função da respetiva área e tendo como referencial uma percentagem do va­lor anual do subsí­dio atribuído pela União Europeia a terras de cultivo;

iv) Estabelecer a duração do contrato de arrenda­mento (10 anos?) e o valor da indemni­zação ao arrendatário pelo tempo que fal­tar para cumprir a duração do con­trato.

Assegurar ainda aos proprietários que não perdem o direito às respetivas terras e só as cederão para arrendamento se o desejarem; que, caso as ce­dam, poderão, se o quiserem, denun­ciar e resolver o contrato de arrendamento.

O que se propõe fazer em relação àquelas latas, poderá ser, posteriormente, alar­gado às restan­tes: Chapaçals, San Miguel, Prado, Ribeira de Baixo, Nalsa, Souganho, Telhado, Antrau­gas, Faceira de l Prado, Balhe, Múrio, Cabada, Ourrieta Caliente, Ye­dra e Terroso.

Finalmente, poder-se-á ainda proceder de idêntica forma em relação aos lameiros e às terras de se­queiro do termo de Angueira.

Braga, 3 julho de 2017
António Preto Torrão
in:angueirablog.wordpress.com

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