O mês de Setembro de 2017 em Portugal Continental foi o mais seco dos últimos 87 anos e uma parte do território transmontano está já no nível seca estrema, o mais preocupante da escala definida pelos meteorologistas.
A Brigantia falou com alguns pastores que já vivem uma situação de desespero nas suas actividades devido à falta de chuva.
António Cordeiro é pastor e proprietário de ovelhas, em Vila de Ala, no concelho de Mogadouro, e queixa-se que esta falta de chuva está a reflectir-se sobretudo num grande desfalque à carteira dos criadores de gado.
“Os criadores de ovinos, bovinos e caprinos são os mais prejudicados, com gastos avultados nas sementeiras e a falta de chuva que significa pouca produção. Para fazer face a isto temos que ter muitos mais gastos do que habitualmente. O governo promete apoios, mas não nos auxilia. Não há nada verde, não há nada para dar aos animais, as colheitas que fizemos no início do verão, de reserva para o inverno, é as que temos de lhe dar agora. ”
Delmino Ferreira é pastor de cabras e ovelhas, vive em Grijó, concelho de Bragança, e diz que um dos seus grandes problemas tem sido conseguir matar a sede ao rebanho, que é o sustento da família.
“Vai ser muito difícil os animais aguentarem-se. Eu já nem falo da comida de estar tudo seco e de termos de comprar, mas já estamos num ponto em que não há onde levar os animais a beber. Não temos onde ir, havia aqui umas lagoas, mas estão secas e cheias de barro, se eu não fizer alguma atenção, as que forem para lá se não tiverem força ficam lá enterradas. As fontes, as ribeiras, está tudo seco. É uma situação complicada que as pessoas da cidade nem imaginam.”
Manuel Duarte é proprietário de 200 cabeças de gado e conta que agora que se estão a esgotar as reservas de comida feitas para dar às cabras no tempo frio, por isso quando chegar o inverno não sabe como vai fazer
“ Só Deus dirá o que será no inverno, se as coisas melhorarem que comecem a aparecer pastos tudo bem, senão vamos ter de lhe dar sempre seco e quando acabarem as reservas teremos de comprar mais à base de rações, com tudo isto temos muito mais despesas e não conseguimos ter o rendimento que devíamos ter.”
Quem também testemunha estas dificuldades é António Rodrigues pastor em Grijó de Parada, no concelho de Bragança, que diz mesmo que se esta situação persistir vários animais correm o risco de morrer.
“Quem está de fora não imagina o desespero que esta situação é neste momento. As reservas estão a esgotar-se os animais vão passar fome, sede e vão ficar em perigo de vida porque não há alimentação suficiente à sua sobrevivência. Com tudo isto a nossa vida também fica complicada, porque dependemos dos animais, já que o resto da agricultura já nem vale a pena porque está de rastos, os animais eram quem mantinha o agricultor ainda em pé, se não tiramos rendimento de nenhum dos lados, acabamos por ir abaixo.”
José Adelino Teixeira, pastor de ovelhas, em Lagomar (Bragança), está preocupado com o que pode acontecer aos seus animais.
“O que é que vão comer os animais quando saem? Não há nada está tudo seco. Para beberem já estou a gastar água do furo e da rede. Infelizmente este é um problema que nos afecta a todos e que parece cada dia a ficar pior. ”
A par da criação de gado todos são agricultores, um sector com perspectivas igualmente negras caso a chuva continue sem cair.
As previsões não são animadoras para quem vive da agro-pecuária, já que o sol e as temperaturas de verão, entre os 27 e os 34 graus, vieram para ficar e vão manter-se assim no nordeste transmontano pelo menos durante os próximos 10 dias, segundo o instituto português do mar e da atmosfera.
Escrito por Brigantia
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