TORRE DE D. CHAMA é uma Vila sede da maior freguesia rural de Mirandela, que ocupa uma extensa área. Dista desta cidade cerca de 24 km. Situa se na margem esquerda do rio Tuela, a pouco mais de 3 km, a NNE da sede de concelho. Tem defronte a mole verde da Serra da Nogueira, e a Sul as férteis terras de Macedo de Cavaleiros. É atravessada por diversos ribeiros.
A sua História é riquíssima, e, só por si, não cabia neste apontamento. Contudo, cabe nos aqui dar algumas indicações importantes sobre esta terra transmontana. Existindo já antes da Formação de Portugal, este nome de Torre de D. Chama evidencia claramente a sua indicação de uma "Torre", e uma senhora local "Dona" do lugar, que se chamava "Chama ", proveniente de "Flamula" que deu "Chamôa" e depois "Chama". Esta ligação de palavras é tão identificativa, que existe uma lenda local que nos mostra a relação dessas palavras com clarividência. O Dicionário Geográfico do Reino de Portugal vol. 37, folhas 73, assim o indica. (ver lendas). Nas chancelarias medievais surge com a designação de: Turris de Domina Flamula.
Já no século XIII , no Foral de D. Dinis, aparece com o nome de Torre de Dona Cliâmoa. Alguns historiadores indicam até uma certa coincidência com a lenda atrás transcrita, que uma nobre dama, Dona Châmoa Rodrigues, que ali teria vivido pelo ano de 960, e por isso consideram na a fundadora da localidade. Tem vastos achados arqueológicos, e vestígios que ainda hoje podemos testemunhar no local como o monumento tipo berrão "a Ursa" de pedra junto ao Pelourinho que nos fazem pensar em povoamento muito remoto. No Monte de S. Brás existe uma ermida àquele santo, cuja capela está rodeada dos restos da muralha de um forte Luso romano. Pensa se que o próprio culto de S. Brás tenha sucedido após a ruína de um outro templo pré existente, a outro culto (talvez Santa Maria que é o orago local).
É que, entre nós, o S. Brás não era dos favoritos da Alta Idade Média. Estes muros castrejos sofreram as diferentes passagens de povos, dos romanos, dos mouros e dos cristãos entre outros. O próprio Pároco local de 1758 é de opinião que aqueles restos de povoado no Monte de S. Brás, teriam sido a primitiva povoação da Torre, que depois se transferiu para o sopé daquele mesmo monte. Vários utensílios de cobre e bronze, além de alguma cerâmica, têm sido até encontrados. Em Plena Idade Média, Torre de D. Chama começa a ganhar mais importância, inclusive estratégica. Nesse sentido, e para a repovoar, o rei D. Dinis dá lhe Foral em 25 4 1287, renovando o a 25 3 1299. Mais tarde, D. Manuel I concede lhe novo Foral a 14 5 1512. Contudo, a sua tradição municipalista deverá ter começado antes do século XIII. No tempo de D. Fernando, o senhorio da vila passa para um fidalgo Castelhano, por este considerar o rei de Portugal como seu rei. Só que, com a Regência do Mestre de Avis, Torre de D. Chama passa para um português fiel, Gonçalo Vasques Guedes, ao mesmo tempo senhor de Murça. Manteve-se nessa família de geração em geração.
A Paróquia, no século XVIII tinha pároco, provido pela Abadia de Guide. O concelho é extinto a 24 X 1855, e era composto por várias freguesias dos actuais concelhos de Vinhais, Macedo de Cavaleiros e Mirandela, como Espadanedo, Ervedosa, Ferreira, Fradizela, Lamalonga, Guide, S. Pedro Velho. Porém, devido a um bairrismo intenso, e a um desenvolvimento crescente, torre de D. Chama passa a Vila de novo em 1991. Mesmo sem ser concelho, como defendia o abade de Baçal e muitos dos seus habitantes, a Vila da Torre impôs se no conjunto das freguesias rurais de Mirandela.
Em 1530, segundo o numeramento dessa época o seu termo tinha 317 moradores distribuídos assim pelas suas aldeias de então: Lama Longa e Argana com 10 cada, Vilar d'Ouro, Ribeirinha com 6, Ferradosa, Mosteirô e Seixo com 7, Vai D'Amieiro 3, Couços, Regadeiro, Vai de Navalho com 9, Vilares 12, S. Pedro Velho 21, Fornos 18, Melles 25,Guide 37, Vale de Gouvinhas 17, Fradizela 26, Vale de Prados 14, Múrias 24 Gandariças 4, Vale Maior 11, Vila Nova 6. Em 1796 o concelho tinha 1391 homens, 1289 mulheres, 4 barbeiros, 17 eclesiásticos seculares, 3 pessoas literárias, 41 sem ocupação, 6 negociantes, 4 cirurgiões, 2 boticários, 290 lavradores e 140 jornaleiros, 24 alfaiates, 20 sapateiros, 7 carpinteiros, 14 pedreiros, 4 ferreiros, 5 ferradores, 1 chapeleiro, 7 almocreves, 56 criados e 47 criadas. Já em 1960 podemos indicar na Torre carreiras de camionetes para Bragança e Mirandela, sendo o principal comércio o azeite, cereais, fruta e vinho.
Ali estavam instalados vários serviços económico sociais: 1 depósito de adubos. 2 agências bancárias, 1 agência funerária, 1 agência de jornais, 4 agentes de seguros, 4 albardeiros, 7 alfaiates, 1 grupo desportivo e Casa do Povo, 1 garagem de automóveis, 1 lagar de azeite, 1 negociante deste produto, 4 barbeiros, 2 cafés, 1 farmácia, 1 ferrador, 1 filarmónica da Casa do Povo, 1 depósito de gasolina, 4 latoeiros, 1 agente de máquinas agrícolas, 3 médicos, 7 mercearias, 4 fábricas de moagem, 3 pensões, 4 professores, posto de Registo Civil, 3 serralharias civis, 3 talhos, 2 tamanqueiros e três transportes de mercadorias. Em 1950 tinha 2120 habitantes sendo 1.050 do sexo masculino e 1.070 do feminino. Em 1960 tinha 1.890 pessoas e em 1991 eram residentes 1.587. No Censo de 2001 a sua população ficava se pelos 1.386 habitantes, sendo 654 do sexo masculino. A freguesia da Vila de Torre de D. Chama tem vastos recursos, e os seus habitantes não se dedicam só à agricultura. Embora esta seja a actividade preponderante, a pecuária, o comércio, o ensino e outros serviços têm prosperado na localidade. A que, certamente não será estranho uma triplicidade de condições: a sua situação geográfica, ficando a 25 km de Mirandela, ou de Macedo de Cavaleiros ou de Valpaços, 50 km de Bragança, no coração da Terra Quente; a sua extensão de território; as suas potencialidades que a dinâmica dos habitantes e residentes sabem aproveitar.
A agricultura tem a servi-Ia um comércio relacionado com as sementes, os enxertos, os adubos, calagem, rações e derivados, alfaias e máquinas etc. Produz abundantemente azeite, vinho, frutas diversas e cereais. A mecanização já vai sendo uma realidade, a par de muito tradicionalismo, onde não faltam os muares e as carroças, os arados, charruas, enxadas e por aí fora. Na pecuária há explorações de gado bovino, ovino, caprino e suíno. Industrialmente também já tem algum peso. Fábricas de moagem de farinhas, de pastelaria fina, padarias com fornos de cozer o pão, extracção de azeite, blocos e vigas de cimento, pré-esforçados, areias, gravilha e brita, cerâmica, transformação e tratamento de mármores e granitos. Como também a adega, oficinas de alumínios, ferragens, serrações, carpintarias mecânicas e unidades agro pecuárias. Tem estações de serviços e reparação de automóveis, farmácia, barbearias, relojoarias, alfaiatarias, cafés, restaurantes, bares, armazéns e retalhistas diversos, supermercados, talhos, peixaria, fazendaria, mercearias e miudezas, pronto a vestir, perfumaria, sapatarias com consertos rápidos, electrodomésticos, móveis, construção civil, alcatifas e artigos de decoração. As duas feiras, a 5 e a 17 de cada mês e as anuais de 5 de Novembro (Santos) e 5 de Janeiro (Reis), dão um ar de feiras francas e romarias, principalmente as duas últimas, atraindo muita gente vendendo ou comprando, e até convivendo.
No aspecto sócio cultural a Torre marca bem a diferença em relação às restantes freguesias rurais do concelho. Tem Casa do Povo e Delegação da Segurança Social com corpo médico, enfermagem e diversos serviços, que inclui ambulância. Agências Bancárias, Estação dos CTT, Posto da GNR, Bombeiros Voluntários fundados a 16 de Março de 1978. Possui uma Associação Cultural que já pretendeu recriar uma Banda de Música. O Grupo Desportivo foi fundado também em 1978. A Festa dos Caretos a 26 de Dezembro representa a luta entre cristãos e mouros. Deriva das festas pagãs entre o bem e o mal, a luz e as trevas, o sagrado e o profano. Segundo o povo é esta luta que está na origem da povoação de Torre de D. Chama em que os cristãos tomam o castelo de assalto aos mouros. No ensino orgulha se de ter vários níveis: pré primário, primário, preparatório e secundário, este particular. O 1.° desde 1985/86 com 2 estabelecimentos, o segundo com cerca de 100 alunos, o 3° criado em 1977 e com novas instalações inauguradas em 1986, e o último um Colégio. O ensino Secundário foi a partir de 1977/78, e a partir de 1985/86 passou a ter curso complementar nalgumas áreas. A Torre tem também muitos pontos de atracção turística. desde a gastronomia ao artesanato, passando pelos lugares típicos, monumentos, romarias e festas e tradições. Vários pratos relacionados com os enchidos e o presunto; no artesanato a latoaria, albardaria e tecelagem. A Ponte Romana sobre o rio Tuela, o Monte de S. Brás, o Pelourinho e a sua "ursa" no Largo da Berrôa, A Igreja Matriz, o Santuário do Senhor dos Aflitos. As festas típicas e tradicionais são: S. Brás, à volta de 3 de Fevereiro, sendo precedida pela festa de N.a Sr.a das Candeias que tem carácter regional e termina com a partilha das merendas que levam nos farnéis. Festa do Divino Senhor dos Passos, no 2.° fim de semana de Agosto, é a Festa da Vila, de carácter cultural, recreativo e religioso. Depois, a 14 de Setembro, há a festa do Divino senhor dos Aflitos com a sua pequena Capela. A 25 e 26 de Dezembro é a festa de Santo Estêvão e dos Caretos. Esta última ganhou um tipicismo peculiar, embora com algumas alterações ao sabor dos tempos e da organização. Porém, ultimamente consta das seguintes partes: "Deitar os jogos à Praça" no dia 25, sobre a tarde. Ao escurecer é o "roubar dos burros". Depois "a Fogueira". A 26 "a passagem da cigarrada ", pelas 10 horas é o Carnaval antecipado com rapazes vestidos de raparigas e vice versa. Chamam lhe "as Madannas". Após o almoço é a "bênção do pão" no adro da Igreja. E, finalmente é o "Correr a Mourisca". Não faltam os reis mouros e cristãos, os caçadores e as mouriscas. É a apoteose da festa, com jogos próprios, gritos, caixas e bombos.
Mosteirô tem bons terrenos agrícolas e casas antigas xistosas, bem como uma Igreja interessante em cantaria regional.
Guide possui uma grandiosidade ancestral no campo paroquial, mas agora destaca se a Igreja, largo principal e casas bem agradáveis demonstrando algum cuidado de construção antiga, a par das modernas que não ligam muito bem.
Vilares fica na estrada que de Mirandela dá acesso à Torre, a cerca de 4 quilómetros, e são apenas escassas dezenas de casas, com destaque para a Capela e Casa Rural rica também com capela, em linda cantaria bem aparelhada e com várias saliências.
In III volume do Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses, coordenado por Barroso da Fonte.
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