Por enquanto não se encontrou recurso mais eficaz do que a racionalidade, suportada no conhecimento, para atingir a elevação da condição humana.
Precisamos, no entanto, de ter em conta outro contributo da experiência milenar: o risco do erro estará sempre presente. Dessa constatação deveria resultar a vontade de agir com inteligência e serenidade na condução dos destinos do sistema educativo, em vez da imposição de modelos conjunturais, ideologicamente condicionados, promotores de verdadeiras tragédias.
Não está longe a experiência perturbante da educação no Estado Novo, que fomentou a mesquinhez, o arcaísmo, a submissão, a desigualdade, a misologia (aversão à inovação), enfim, a tristeza de viver.
Está ainda mais perto a vanglória de manter em funcionamento um sistema educativo voltado para a quantidade, que relegou a qualidade para terceiro ou quarto plano, produzindo torrentes de diplomados tecnicamente incompetentes e incapazes de uma atitude crítica relativamente às suas limitações e ao funcionamento geral da sociedade, massa manipulável à disposição de exploradores, populistas e fanáticos tresloucados que ameaçam estragar o próximo futuro.
Foi nesse contexto que floresceram pretensas ciências, a navegar nas águas que turvaram, da pedagogia, dos métodos didácticos, da própria epistemologia e que constituem o fenómeno do “eduquês”, designação que corresponde à sua vacuidade, presunção, arrogância e, principalmente, ineficácia.
Quando não se produzem frases coerentes nos últimos níveis do ensino secundário, quando se soletram textos simples, não se dominam conhecimentos básicos e, ao mesmo tempo, alastram comportamentos selvagens, campeia a violência tribal nas ruas, nos futebóis e discotecas, talvez fosse avisado reflectir sobre o que se tem feito na educação.
No entanto, em vez de estabelecer uma estratégia sólida, resultante da participação cívica, entra-se num frenesim de medidas avulsas, contraditórias, mesmo insensatas, que a breve prazo se revelarão potenciadoras do caos.
Os cidadãos de amanhã merecem mais do que a replicação de condições que têm demonstrado não servir a consolidação de valores, a solidez ética e moral e o aprofundamento do conhecimento.
Para se atingir esse objectivo não basta lançar dinheiro sobre os problemas e insistir em fazer do “eduquês” o protagonista. Porque o dinheiro não compra a inteligência nem a dignidade e a vida não é um festival de ilusões. O sucesso passa por dar condições iguais a todos os alunos, de Lisboa ou de Mogadouro, mas também por promover a responsabilização deles próprios e das famílias, instalando uma cultura de valorização da escola e de reconhecimento do trabalho que trará benefícios para toda a comunidade.
Doutro modo, o ensino público retomará o caminho do desleixo, do facilitismo, da mediocridade e haverá largos milhares de deserdados da democracia, dispostos porventura a esquecê-la.
Teófilo Vaz
in:jornalnordeste.com
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