sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Análise pouco aprofundada do despovoamento no chamado interior de Portugal

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Na Universidade Sénior em Bragança, o professor de Direito e Cidadania Dr. Narciso Pires, propôs para análise, aos alunos, um artigo recente do Dr. António Barreto sobre o despovoamento em Portugal. Tenho há pelo menos quarenta anos uma ideia formada da competência dos políticos e homens de saber que têm governado o nosso país neste período que cada vez mais se aproxima do descalabro no concernente a quase todos as vertentes da governação.


Primeiramente porque não são escolhidos os tais políticos pelo seu saber e sólida formação nas áreas para as quais são nomeados pelos seus chefes no partido, que estão sempre prontos a recompensar com um lugar de chefia os menos cultos mas mais gananciosos das hostes que comandam. 
Numa análise superficial ao desempenho da actividade dos deputados eleitos para representarem Bragança na Assembleia da República pelos dois partidos que mais tempo detiveram o poder em Portugal, mais o terceiro que a reboque tem feito alianças com os dois referidos, verificamos que o que de positivo se fez foi nada ou coisa nenhuma. Os tempos de intervenção de qualquer deles lutando para defender os interesses do distrito e simultaneamente do Interior no seu todo é quase zero. Claro que há sempre a desculpa que estamos longe de Lisboa e coitados deles chegam lá cansados e por conseguinte incapazes de usar o discurso apropriado para exporem com convicção o que deveria ser o primeiríssimo dever que se sobreporia a todos os interesses quase sempre de puro interesse privado em tais foros ou departamentos da governança. Convirá subtrair aqui uma minoria ínfima que por mais pruridos ou até lisura de carácter não se embrenharam em florestas impenetráveis cujo acesso concedido a iniciados, apenas, serve para arranjarem lenha para se queimarem. O rácio de aproveitamento da acção destes próceres em benefício da comunidade é nulo! Em contrapartida da sua acção muito desprestígio tem angariado.
Particularmente estou convencido que não há em Portugal um número suficiente de homens de saber bastante, para desinteressadamente, salvaguardado que fosse o pagamento justo, devido a quem trabalha com competência, poderem reinventar este país que está à beira do abismo! O despovoamento faz-se inexoravelmente porque não há pensamento positivo capaz de levar a população ao emprego produtivo capaz de criar riqueza e garantir o bem-estar da gente que tem direito a tal e que paga aos agentes do Estado para que isso aconteça e aos quais os agentes do Estado em vez de tal tratam com desdém e espoliam com milhentos encargos que cobrados com perfídia vão servir para garantirem os pagamentos legais e ilegais que o Estado inventa. 
Como podem ser bons administradores dos dinheiros públicos, indivíduos que foram estudantes medianos e quantas vezes medíocres e que porque pertencem às Jotas são designados para ocuparem lugares que pagam salários a muitíssima gente da qual se tornaram patrões sem jamais terem sentido que o dinheiro correspondente foi ganho sob a sua sensata administração e trabalho. 
Normalmente um patrão que emprega gente, sente-se responsável pelo pagamento atempado dos salários aqueles que para ele trabalham. Vejamos alguns exemplos que nos ajudarão a compreender melhor os meandros do que resulta em prepotência e incompetência. 
O parque automóvel cresceu substancialmente, devido às más políticas do sector dos transportes. Não se pede aos gestores responsáveis por isso que sejam responsáveis de facto, pelos prejuízos acumulados a jusante, faz-se então o mais fácil sobrecarregam-se os combustíveis com impostos ad náusea e o mesmo acontece com circulação nas estradas e o parqueamento nas zonas urbanas, mais o pagamento de multas que a polícia tão zelosa é em sinalizar por tudo e por nada.
Não vou dizer o que me parece verdade porque sei que posso ser marcado como alvo a abater! A segunda questão que proponho para análise é esta. Quando foram desactivadas as linhas de Caminho de Ferro no interior do país a razão apontada para tal era a de que todas elas eram deficitárias e o prejuízo acumulado era incomportável. Ora tantos anos após, verificamos que a CP é hoje muito mais deficitária do que quando o comboio percorria o país de N a S e de E.a O. Razão para tal foi a transferência das verbas devidas ao Interior, serem ou suprimidas ou desviadas, para apostas ruinosas e a dotação inscrita para Porto e Lisboa ter aumentado principalmente para pagar ordenados aos ferroviários organizados em sindicatos e Centrais que fazendo greves quando lhes interessava a eles e a mais ninguém, causavam disrupção nas populações que não conseguiam chegar aos locais de trabalho a horas.
O investimento em material circulante e aumento da capacidade técnica do Staff foi nulo ou mal feito pois o que se constata hoje é que a nossa rede ferroviária é a pior da Europa e não serve os interesses da população nem os da própria CP que é hoje um sorvedouro de capitais que são pagos por todos, os que usam o comboio e os outros que sabem que ainda circula algures lá para o litoral. No entanto também sabem que se alugam composições aos espanhóis por rios de dinheiro e que às vezes até lhes cai o motor! Pergunto onde estão os herdeiros do saber dos homens que antes destes, souberam fazer e com competência e gosto a infra-estrutura que servia o país no tempo em que toda a gente se queixava porque de contente lhe doía um dente? Vamos apenas com duas achegas e há tantas outras para escrutinar! 
É recorrente dizer-se que o despovoamento se processa velozmente porque a sociedade agrária foi suprimida e consequentemente a população que aí ocupava o seu tempo teve que emigrar para o litoral ou para a estranja. Será verdade em parte, mais certamente foi que o Estado não curou de procurar alternativas em outros sectores que mesmo que difícil fosse retirá-los de Lisboa e Porto, pudessem ocupar outros espaços mais adequados e que assim pudessem ser a ocupação mais adequada para a mão de obra disponível. Parece-me no entanto uma falácia dizer-se que a agricultura em Portugal era toda de subsistência quando nós continuamos a comer, se calhar mais do que noutros tempos e a diferença é que hoje compramos ao estrangeiro o que dantes produzíamos nós. Veja-se o que se passa com as pescas. Até já nem podemos comprar sardinhas aos portugueses porque não no-las deixam pescar nem sequer no nosso mar e depois vêm os espanhóis e vendem-no-las eles das pescadas no mesmo mar onde se pescam as nossas e com exigência de virem também ao nosso bocadinho que eles os da EU reservaram para que se entretenham os nossos pescadores, que sei lá porquê, teimam em irem ao seu mar pescar, porque já os seus avoengos lá pescavam e eles gostam do mar com os seus peixinhos e mesmo entregando o lucro aos intermediários e às autoridades marítimas que os esfolam lá vão ao peixe porque sempre assim foi e até Cristo gostava dos pescadores gente abnegada, que foram, os que ele mais recrutou. Também gostava de peixe pois um dia em que era pouco para tantos, Ele com um passe de mágica de poucos fez muitos, e ainda sobraram peixes para se encherem doze canastras.
Ora é nesta linha de raciocínio que se encontram as nossa pescas que só não estão no interior porque Deus as pôs no litoral. Vá lá a gente compreender porque é que uma só Companhia de pescas alemã tem atribuída uma quota de pesca superior à de Portugal inteiro. Claro que alguns pescadores também emigraram e encontram-se em Londres, Paris, Bruxelas,  porque tinham o dever de dar de comer aos filhos e de os mandaram para a Escola e não ganhavam para isso. Os que restam é porque são resilientes, vulgo casmurros e insistem em pescar uns carapauzitos que eu que nasci em terras do Reino Maravilhoso e a quem //Los arroyos de la sierra //me complacen mas que el mar, //dizia eu que os carapaus fresquinhos, fritos e acompanhados de um arroz de tomate me consolam ao ponto de achar que os pescadores são uma gente a quem devemos admirar e também agradecer e o Estado tratar com o respeito e a justiça que tanto apregoa mas só dispensa aos novos ricos e sus muchachos.
Regressemos ao Interior e pensemos por exemplo no absurdo que é o Parque Natural de Montesinho, aqui mesmo no território que as populações das aldeias que o compõem através dos séculos preservaram com todo o saber acumulado durante gerações, que nunca estragaram uma árvore, um lameiro, uma fonte, ou um pego, onde as trutas se escondem e se fazem grossas e saborosas, agora nem no que é deles há séculos,  podem fazer o que sempre fizeram, que foi cuidar de tudo sem precisar de licença dos fidalgos da cidade que inventaram o Estado, que serve agora para proibir tudo o que é sensatez e razão lógica.
Às leis dos mandarins do parque nem a Câmara desafia. Os iluminados que estão em Braga ou em Lisboa decretaram que a Câmara não pudesse mandar uns quantos trabalhadores para arranjarem um caminho que de ruim que estava não permitia a passagem fácil ao povo. Souberam do arranjo os próceres da Nova Ordem que é desordem e chamaram a Câmara a capítulo, remetendo um processo para Tribunal que usando dos poderes que a lei lhe confere e a contento dos ditos próceres ditaram sentença gravosa contra a Câmara. O processo que levou à criação de uma Pessoa de Direito Administrativo como é o Parque Natural de Montesinho foi precedido de um sem número de promessas que se diziam virem a ser a forma que conduziria as populações da área em questão ao Paraíso Terreal. Pois bem, para castigo das populações por terem delegado a governança do que era seu, em uns quanto néscios que assinaram de cruz o que lhe deram foi um inferno e muitos vexames dos quais já nem a Câmara se livra. 
E assim se faz, ou desfaz, Portugal. Uns vão bem e outros mal! (Fausto Bordalo Dias)




Bragança 08/02/2019
 A. O. dos Santos 
(Bombadas)


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