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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

… há dias assim

Por: Fernando Calado
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Porque te ris, Serafim Calado… estás tão bonito!… fica-te tão bem a gravata… eu sei, foi só para o retrato… o Victor era bom fotógrafo… Tu gostavas mais do colete… e do lenço tabaqueiro atado ao pescoço para venceres as ladeiras desse mundo de Cristo… montado no teu macho … à cata do negócio… O nosso macho tinha uma estrela branca na cabeça. Lembras-te?!
- Eugénia porque te apaixonaste tanto pelo teu Serafim?! Porque estás tão feliz junto do teu homem?! Qual é o segredo! O teu sorriso é de mãe… és tão bonita!
Encontraram-se por acaso em casa do tio Aníbal de Rabal… 
- Eugénia, queres casar, com este rapaz! Disse o tio Aníbal, naquele seu sorriso onde cabiam todas as ironias. 
- O teu rosto ficou maçã vermelha… em pleno estio!
Não disseste nada… embaraçada… só os teus olhos de judia se espelharam nas longas pradarias da Judeia… e estavas tão feliz… e só o teu coração dizia: - és tão bonito!
… depois casaram… criaram filhos… governaram a vida… inventaram o amor durante mais de sessenta anos.
Depois a Eugénia, uma tarde… às três horas da tarde, foi descansar para o infinito… tu ias sempre à frente do teu homem preparar as coisas… amaciar-lhe os caminhos…
… Serafim, ficaste sem chão, sem os olhos da tua mulher judia que te levava sempre à água mais fresca do poço de Jacób.
…regressavas do negócio. Sentavas-te ao lume… fechavas os olhos… o cigarro pendia-te dos lábios: -Eugénia dá-me lume!… e a tua mulher, pacientemente, tirava com as tenazes, uma brasa da lareira e acendia-te o cigarro… fumavas… e o céu tão perto!
… no dia dos meus anos… era abril… foste para junto da tua mulher que já te tardava…
… e nós ficamos só… seis irmãos… lágrimas tantas! 
… e ficamos! Á espera… do reencontro… para além da serra… da Nossa Senhora da Serra… onde habitam os sonhos e as memórias…
… És tão bonita Eugénia… és tão bonito Serafim!
… e fiquem!

Fernando Calado
nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 

Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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