(colaborador do "Memórias...e outras coisas..."
Que alegria, que contentamento, que felicidade, se encontra estampado nos olhos da mãe, ao pegar, pela primeira vez, o recém-nascido! …
Ele é tudo, para ela. Quantas horas mal dormidas irá passar? Quantas horas de aflição? Quantas horas de angústia? Porque: o filho amado, está com: febre; não come: rejeita medicamentos; feriu-se gravemente, e chora de dor…
Mas, tudo passa, ao ver o sorriso inocente; o gesto de ternura; a gracinha comovedora do menino…
Deslumbrados com a maravilha – por eles criado, – amam-no de tal jeito, que darão a própria vida, para proteger, sua vida…
Assim, a criança, cresce, lentamente…Lentamente, cria laços de amizade: no infantário; depois na escola… mais tarde na vida…
E pouco a pouco, vai, com desgosto, verificando que os progenitores, não eram, como pensava: super-homens…
O adolescente, irreverente e desiludido, procura, agora, afastar-se. Além de “ignorantes”, os pais, ainda são retrógrados…velhotes, e “coroas”…
Em desespero, a mãe, numa tentativa de o prender, encobre-lhe leviandades, paparica-o, e chora baixinho, para que o pai não a ouça… e não ralhe.
Mas a “criança”, agora adulto, tem ânsias de liberdade: libertar-se das amarras paternas… Mostra-lhes vontade imperiosa de navegar… de ser livre…
E, enquanto cresce, desenvolve-se, e se torna homem, os pais, envelhecem… Surgem-lhes as primeiras rugas e adiposidades indesejáveis; achaques próprios da idade; reumatismo; perdas de memória; enfim: chega a caturrice…
Cansado de cuidados e recomendações paternas, começa a censurá-los: o modo como vivem: hábitos antiquados, que os domina; tiques e trejeitos…
E os pais, sempre a envelhecerem… e a paciência do filho, sempre a esgotar-se….
Farto de escutar: velhos e conhecidos episódios; gracinhas de infância; e de os ver adormecer, diante da TV, e nos transportes públicos; de tanta rabugice e caturrice, a “ criança”, que tantos amaram, agora considera-os: dementes, incapazes; e passa a escolher-lhes: a roupa que vestem; a comida que comem; os remédios, que tomam; as horas de dormir e passear…
Apesar do coração paterno chorar tristemente de dor; e a alma continuar jovem… (num corpo velho); os progenitores, tudo perdoam… porque muito amaram…. E muito lhe querem…
Um dia – o dia sempre chega, – partem…para não mais voltarem…
Então, o filho, recorda, com tristeza: tempos antigos; conversas e carinhos; conselhos mal ouvidos. E o coração constrangido, começa a chorar de saudade…
Só agora, repara, assombrado, que o seu próprio filho, que pensava ser diferente, porque educara-o com muito amor, está a percorrer as mesmas fases, que ele passou…
Isto é a vida! … A vida, que sempre se renova; mas que é sempre igual…
E nós que pensávamos, que, connosco, seria diferente! …
Humberto Pinho da Silva, nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA.Foi redactor do jornal: “Notícias de Gaia"” e actualmente é o responsável pelo blogue luso-brasileiro: " PAZ".
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