Por: Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS
São Paulo (Brasil)
(colaborador do Memórias...e outras coisas)
A necessidade da defesa das chamadas línguas ou dialetos minoritários tornaram-se uma evidência, para um número de pessoas cada vez maior. É imperativo registrá-los, visando a preservar uma parte indispensável do património cultural da humanidade. Daí que todo o processo de defesa e promoção da língua ou dialeto deva ser encarado como uma exigência de cidadania da mais alta importância; que não tem apenas uma dimensão regional, mas nacional e até internacional.
A diversidade linguística e cultural é uma riqueza para o Brasil, e faz parte da nossa identidade. Aceitando a verdade histórica e sociológica, o Brasil deve apresentar-se como um país que desenvolveu um dialeto, o Caipirês, que é entendido em quase sua totalidade, e integrar essa referência nos programas das escolas, dando a conhecer a todos os cidadãos a existência do dialeto caipira, sua origem e características. A democracia linguística é um elemento importante da democracia em geral, pelo respeito à diversidade. Devemos exigir que o Estado, em nível nacional e/ou local, concretize os compromissos que assumiu em lei, nos mais diversos domínios.
Além de dignidade dos seus falantes, os dialetos regionais são também um problema ecológico, entendido em sentido amplo, que a todos deve preocupar. Pela língua se exprimem culturas, tradições, saberes e modos de viver, que são essenciais ao equilíbrio das sociedades e ao bem estar dos cidadãos.
Se o Caipirês desaparecer ninguém ganha nada com isso, mas o Brasil, os brasileiros, dentre estes os caipiras, ficam ainda mais pobres; e tristes. Para os caipiras em todos os estados do Brasil, em particular nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Paraná, o Caipirês e a cultura caipira assumem-se também como um importante valor económico, que devemos levar em conta. Nessas regiões está havendo, neste século XXI, uma profunda depressão económica e um acelerado processo de desertificação, mormente quando grandes usinas arrendam fazendas, antigas produtoras de café, para a plantação de cana-de-açúcar e laranja, (em sua maioria), fazendo com que os caipiras que viveram lá por alguns séculos migrassem para as cidades e passassem a assistir a mecanização moderna das lavouras, com máquinas que dispensam algumas centenas e até milhares de trabalhadores braçais.
Com esse deslocamento dos caipiras, do campo para as cidades, agrava-se a situação econômica desses migrantes, assim como se agravam os problemas sociais e econômicos das cidades; só ganham aqueles que se tornaram donos de terra por herança, que se beneficiam recebendo polpudas somas, sem terem que fazer nada e sem as responsabilidades que tinham quando contratavam colonos. A Cultura brasileira também perde, com a falta de importância dada ao Caipirês; muito do folclore brasileiro, seja ele herdados dos colonizadores portugueses ou absorvidos dos povos autóctones, africanos ou europeus de outras plagas aqui foram “tropicalizados”; pode-se assim dizer! Pelo fato de falarem o Caipirês, os caipiras não são menos brasileiros que os outros, como demonstrado em sua história; nem nunca quiseram ser outra coisa senão serem brasileiros! Hoje, os caipiras que vivem nas cidades continuam a falar do mesmo modo que falavam quando viviam no campo e a sua afirmação do Caipirês não implica a negação do Português. Defender, promover e desenvolver o dialeto caipira é um dever de cidadania que se impõe, a cada um dos brasileiros.
N.A.= este texto faz parte do prólogo do meu "Dicionário de Caipirês", que tento publicar há mais de dez anos!
Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 8 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de quatro outros publicados em antologias junto a outros escritores.
Sem comentários:
Enviar um comentário